Paraná

Como esgoto do Paraná pode virar hidrogênio verde e gerar R$ 1,4 bi em investimentos

Ana Ehlert
hidrogenio molecula

Hidrogênio: transição energética. Imagem ilustrativa (Foto: Copel)

Um projeto para produção de biogás, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi selecionado para Ministério de Minas e Energia (MME). A proposta do Consórcio Biogas-to-H2 Paraná (B2H2), integrado pela UFPR, está entre os cinco selecionados para compor o plano de investimentos do Brasil para os Fundos de Investimento Climático – Descarbonização da Indústria (CIF-ID, da sigla em inglês).

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A proposta é usar o biogás gerado em uma estação de tratamento de esgoto para produzir hidrogênio renovável de baixa emissão de carbono. O biogás proveniente de uma estação de tratamento de esgoto será transportado e convertido em gás de síntese com o uso da tecnologia de reforma catalítica, utilizando o conhecimento relativo ao tema já desenvolvido no Paraná na última década.

Entenda como o hidrogênio é extraído do processo

O hidrogênio é separado desse gás de síntese, purificado e caracterizado como hidrogênio de baixa emissão de carbono. O produto é aplicado em estratégicas no ecossistema de Curitiba, dentre as quais se destaca a produção de peróxido de hidrogênio, que no processo atual utiliza hidrogênio não renovável.

O professor Helton José Alves, pesquisador-fundador do Laboratório de Materiais e Energias Renováveis (Labmater) da UFPR, conta que já há projetos nessa linha do Biogás to Hydrogen, chamada de B2H2, inclusive dentro da própria instituição.

Usina será instalada o Centro Politécnico da UFPR

“A iniciativa que deve ser inaugurada até o final do ano vai aproveitar resíduos do restaurante universitário do Centro Politécnico e converter em biogás. Desse biogás, vamos produzir hidrogênio renovável, exatamente por essa rota tecnológica”, afirma. Esse é um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Copel-Aneel, que a UFPR executa em parceria com a empresa Gas Futuro e outras instituições, como Apreno e Senai-PE.

Segundo Alves, isso traduz a evolução da tecnologia que vai ser implantada futuramente numa escala bem maior nesse hub de hidrogênio que está sendo constituído. “A Universidade está responsável por algumas frentes de atuação dentro desse consórcio, que tem muito a ver com o aumento de escala dessa tecnologia e com a formação de recursos humanos”.

Com uma estimativa inicial de produção de 100 toneladas de hidrogênio renovável por ano, a iniciativa demonstra um potencial de crescimento significativo. A parceria com a Sanepar, por exemplo, que opera 232 estações de tratamento de esgoto no Paraná, revela a capacidade de gerar até sete mil toneladas de hidrogênio anuais para o estado, consolidando a região metropolitana de Curitiba como um polo estratégico para a economia do hidrogênio renovável.

O consórcio é liderado pela Copel Geração e Transmissão (Copel GT) e tem a participação das empresas Sanepar, Compagas, Peróxidos do Brasil, Gas Futuro e outras instituições de ensino e pesquisa como a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), CIBiogás, Fundação Parque Tecnológico Itaipu-Brasil, Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica e o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Hidrogênio (Napi Hidrogênio).

Seleção do Programa Nacional do Hidrogênio

A seleção se deu por meio da chamada pública para hubs de hidrogênio de baixa emissão de carbono para descarbonização da indústria, uma das principais ações do Programa Nacional do Hidrogênio, e contou com 70 inscrições vindas de diferentes regiões do país. As propostas foram analisadas a partir de critérios como elegibilidade, potencial de impacto, inovação e viabilidade técnica.

Na primeira fase, o Brasil concorreu internacionalmente com outras 26 nações e conquistou a primeira posição, garantindo a possibilidade de acessar até 250 milhões de dólares (cerca de R$ 1,4 bilhão, na cotação atual) em recursos do CIF-ID que serão destinados ao fomento de projetos de hidrogênio e ao avanço da transição energética no setor industrial.

Após a avaliação final, foram selecionadas cinco propostas com grande potencial de execução até 2035. Além do Paraná, foram escolhidas iniciativas da Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O Ministério da Fazenda coordenará a elaboração do Plano de Investimentos do Brasil no âmbito do CIF-ID, que vai orientar a alocação dos recursos internacionais para os projetos priorizados.

“A área do hidrogênio no Brasil está em franca expansão. Nós já temos o Marco Legal do Hidrogênio a nível nacional e, aqui no Paraná, uma lei que disciplina o incentivo ao uso de hidrogênio renovável no estado. A partir do momento que regulamentarmos essas leis, estabeleceremos critérios e condições básicas e claras para que as empresas interessadas possam se estabelecer investimentos grandes nessa área”, indica o professor.

Proposta é única que tem biomassa como matéria-prima

Dentre as cinco propostas selecionadas, o projeto paranaense é o único que envolve a produção de hidrogênio utilizando a biomassa como matéria-prima, ou seja, aquilo que chamamos de hidrogênio renovável. “Essa tecnologia é algo novo, que vem da evolução de um desenvolvimento tecnológico em que a UFPR se destaca nacionalmente, visto que já trabalhamos há mais de uma década com essa rota tecnológica no Labmater, em parceria com outros laboratórios da Universidade”, explica Alves.

Para ele, como o Paraná se destaca nessa área do biogás e da biomassa residual, há um grande potencial para de fato constituir um hub de iniciativas e de projetos nesse âmbito. “E a UFPR vem a cada ano aprovando mais projetos e atraindo mais parcerias e investimentos para o desenvolvimento tecnológico desse tema”, finaliza o pesquisador.