Franciele Morbis

Estudantes do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram um dispositivo de locomoção voltado para pessoas cegas ou com deficiência visual, como forma de complementar o uso da bengala. O produto é fruto do trabalho de conclusão de curso dos alunos João Alfredo Santana e Evandro Vicente de Oliveira Ferreira, apresentado no dia 1º de março deste ano.

O dispositivo tem como objetivo complementar a bengala tradicional. Para isso, o produto contém sensores ultrassônicos e infravermelhos, um microcontrolador e motores de vibração. Os sensores estão localizados em uma altura acima da linha do joelho, o que torna possível detectar irregularidades no piso, por exemplo. Os dados captados pelos sensores são processados pelo microcontrolador que, por sua vez, envia um sinal para os motores de vibração localizados em uma pulseira. O tipo de vibração muda de acordo com a situação detectada pelo sensor, o que permite ao usuário interpretar o estímulo com clareza e entender o que está à sua frente.

A ideia de construir um equipamento de acessibilidade surgiu a partir da experiência pessoal de um dos estudantes. João é vizinho de pessoas com deficiência visual e percebeu as dificuldades que enfrentam para se locomover. Através do produto, os alunos viram uma oportunidade de contribuir socialmente: “Para o trabalho de conclusão de curso, buscamos um tema que pudesse trazer um ganho para a sociedade e, de certa forma, retribuir o ensino de alta qualidade oferecido pela UFPR de forma totalmente gratuita”, conta o estudante.

O professor e orientador dos estudantes, André Bellin Mariano, ressalta que o projeto dos alunos representou um grande desafio para o trabalho de conclusão de curso, pois eles procuraram uma solução para uma problemática social que afeta milhões de pessoas. “Eles poderiam confortavelmente ter feito algo bem limitado e que já forneceria o necessário para realizar os trabalhos finais do curso, mas eles preferiram encarar um problema da sociedade. Não só fizeram isso com todo o critério técnico da eletrônica, mas também com uma sensibilidade incrível para entregar para a sociedade uma solução importante para ajudar pessoas com deficiência”, ressalta.

Durante o desenvolvimento do equipamento, os estudantes se preocuparam em criar um dispositivo que fosse capaz de ser utilizado pela ampla maioria do público-alvo. Uma das dificuldades foi pensar em um padrão para o tamanho do produto, já que existem variações das medidas corporais. Outro ponto importante durante o processo de criação foi o custo, pois os alunos queriam criar algo que fosse acessível financeiramente para os usuários.

O objetivo é que o produto seja mais do que um trabalho acadêmico e que possa dar mais autonomia às pessoas cegas ou com deficiência visual. O primeiro passo nesse sentido aconteceu em novembro de 2022, quando os estudantes apresentaram o trabalho durante o 5º Pitch Day da UFPR, feira de tecnologia e inovação organizada pela universidade, em que os acadêmicos receberam retornos ressaltando os pontos fortes do projeto e apontando o que poderia ser aperfeiçoado.

Agora a meta é fazer com que mais pessoas conheçam o trabalho feito pelos estudantes: “Com o protótipo já em funcionamento, a ideia é buscar divulgar o trabalho em novas oportunidades que surgirem em busca de conquistar suporte ou estabelecer uma parceria para transformar o dispositivo em negócio sustentável”, diz João.

Por Thiago Fedacz, sob supervisão de Jéssica Tokarski