O prédio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) registrou uma confusão envolvendo estudantes do curso de Ciências Sociais e integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) na manhã desta sexta-feira (1º de setembro). O episódio, registrado após o pessoal do MBL iniciar uma gravação dentro do Centro Acadêmico (CA) de História, terminou na delegacia, com uma estudante, uma funcionária terceirizada da universidade e membros do movimento de direita afirmando terem sido agredidos.
Segundo apurado pela reportagem do Bem Paraná, na manhã de hoje os alunos do curso de História não teriam aula e, por isso, o centro acadêmico do curso estava vazio. No entanto, estudantes do curso de Ciências Sociais estavam tendo aula e, coincidentemente, foram liberados um pouco mais cedo do que de costume. Ao saírem, se depararam com os integrantes do MBL (oito pessoas) fazendo as gravações no CA de História. Teve início, então, uma confusão.
Foi quando uma funcionária terceirizada da UFPR resolveu conferir o que estava acontecendo. Ao entrar no CA, porém, ela teria sido atingida por um golpe e tombou. Em seguida, os estudantes tiraram o pessoal do MBL do local, mas no pátio da reitoria a situação escalonou mais uma vez, após uma estudante cair e sofrer escoriações – os alunos afirmam que ela foi empurrada e se feriu ao cair no chão, enquanto o MBL alega que ela estaria correndo atrás deles e que teria caído ao tentar tomar um dos aparelhos que eles usavam para fazer as gravações.
Um corre-corre teve início e só terminou quando uma viatura da Polícia Militar passou pela região, sendo interceptada pelos membros do MBL, que alegavam estar sendo perseguidos e terem sido agredidos pelos estudantes. Os alunos, contudo, também se aproximaram e afirmaram que foram eles, na realidade, os agredidos, reclamando ainda de terem sido gravados sem autorização.
No final, foi todo mundo parar na delegacia e o caso agora será investigado pela Polícia Civil. Segundo informado pela UFPR, os alunos foram acompanhados da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) na hora de registrar o boletim de ocorrência (B.O.).
O que alega o MBL
Um dos integrantes do MBL que esteve na Reitoria, João Bettega conversou com o Bem Paraná na tarde desta sexta-feira. Segundo ele, o grupo esteve no local para fazer gravações mostrando “pichações” que haveriam no Centro Acadêmico de História. “Pichações sobe anarquismo, comunismo, exaltando o ditador da Coreia do Norte… Fomos filmar aquilo lá e mostrar para a população. Não fomos revitalizar o patrimônio, nada. Nisso houve tentativa de roubo de aparelhos celulares, mulheres vieram para cima da gente tentar roubar celular, não queriam que continuássemos filmando”, disse ele. “Queremos fiscalizar o patrimônio público. Universidades públicas são pagas com direito público”, argumenta ainda.
Ele também negou que integrantes do movimento tenham agredido qualquer pessoa. “Teve uma garota que veio perseguir a gente, roubar o celular, ela tropeçou, caiu e ralou o joelho. Ela estava tentando roubar o celular”, disse ele, afirmando também que não descarta voltar a visitar a UFPR – ainda que outro campus. “Campus da reitoria não voltaremos, não queremos entrar em conflito. Nunca reagimos a agressões, nunca atentamos contra a integridade física de outra pessoa. Não devemos voltar [na reitoria], não queremos um confronto desse estilo”.
Abaixo, você confere o vídeo divulgado nas redes sociais pelo MBL sobre o caso
Movimento já se envolveu em confusão numa série de universidades
Embora Bettega alegue que o grupo de direita não quer confrontos como o registrado hoje na UFPR, o fato é que o MBL vem acumulando nos últimos tempos confusões em instituições de ensino superior. O grupo tem gravado vídeos confrontando e/ou satirizando alunos de diferentes universidades e “expondo o esquerdismo” que existiria no meio acadêmico.
Em julho, por exemplo, estiveram na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em duas ocasiões, numa delas para gravar um prédio parcialmente desativado onde membros do movimento estudantil se reúnem e em seguida voltaram ao mesmo local para pintá-lo sem autorização. O episódio terminou em embate físico.
Uma semana depois, o pessoal do MBL esteve na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e tentou entrar em assembleia do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) que deliberava sobre o próprio MBL. Mais uma vez, o caso terminou em confusão.
Já no começo de agosto, a instituição visitada por integrantes do movimento foi a PUC-SP, campus Perdizes. O pessoal do MBL, segundo estudantes, esteve no local fingindo ser da TV PUC para gravar alunos falando sobre legalização das drogas, porte de armas e legalização do aborto e depois ridicularizar eles. No final, os ativistas acabaram expulsos do local.
Por fim, em 17 de agosto, foi vez da Universidade de São Paulo (USP) virar palco para o MBL. Mais uma vez, houve confusão e alunos do Diretório Central dos Estudantes da USP e do Centro Acadêmico de História da universidade afirmaram que um homem do MBL teria apontado uma arma “para a cara de estudantes”. Já o membro do movimento que protagonizou a gravação alegou que “a situação ficou tão insustentável que um GCM amigo meu precisou intervir para evitar que algo pior acontecesse”.
O Bem Paraná, inclusive, chegou a questionar Bettega se o MBL, para evitar novos confrontos, estaria pretendendo mudar a forma de fazer as abordagens para seus vídeos. Eles negaram.
“Acredito que isso [violência] parte dos outros alunos. Campus da reitoria, o campus dos cursos de humanidades, são pessoas majoritariamente de esquerda. Essas pessoas agem com truculência, não aceitam quem pensa de forma diferente. Queremos fiscalizar o patrimônio público. Universidades públicas são pagas com direito público. Diante de um incidente de depredação, qualquer cidadão pode se indignar.”