Um estudo realizado por técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) montou o perfil da população em situação de rua, especialmente a da região central da cidade. O levantamento mostra que 56% se declaram de cor branca e 90%, do sexo masculino. A maior parte (82%) já teve carteira assinada e quase todos (92%) estão em idade produtiva (18 e 59 anos).
Dados socioeconômicos e a expertise de equipes intersetoriais da Prefeitura de Curitiba deram origem ao estudo preliminar. Os dados contribuem para os desafios impostos por diferentes frentes de ação da atual gestão, desde o eixo Curitiba Inclusiva do Plano de Governo do prefeito Eduardo Pimentel até as ações do Curitiba de Volta ao Centro e as discussões da revisão do Plano Diretor da cidade.
“A intervenção da Prefeitura no Centro colocou a população em situação de rua em evidência e é uma grande oportunidade para a reconstrução intersetorial. Planejar o território e cuidar das pessoas sob a perspectiva da oferta conjunta de serviços das diversas políticas afins são estratégias que têm potencial para reconstruir espaços e, sobretudo, promover cidadania”, diz Ana Zornig Jayme, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
Os dados do levantamento com pessoas em situação de rua
Conduzidos pelos técnicos do Ippuc, o Levantamento Piloto de População em Situação de Rua Centro considerou a análise interdisciplinar a partir da experiência cotidiana dos servidores da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Fundação de Ação Social (FAS) e das secretarias municipais de Desenvolvimento Humano (SMDH), de Defesa Social e Trânsito (SMDT), da Mulher e Igualdade Étnico Racial (Smir), da Saúde (SMS) e de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN).
Para subsidiar o perfil, foram usados dados do Cadastro Único (CadÚnico) e da Central 156. Também foram elencados os pontos estratégicos de interesse do levantamento, identificando áreas de maior concentração de pessoas em situação de rua e oferta de atendimento por ações voluntárias da sociedade civil em equipamentos públicos: Praça Tiradentes, Paço da Liberdade, Rua XV de Novembro na esquina com Monsenhor Celso, Praça Rui Barbosa, Terminal Guadalupe, região da Rodoferroviária, Mercado Municipal e Viaduto Capanema.
O perfil
Em junho de 2024, Curitiba contabilizava 4.090 pessoas em situação de rua no CadÚnico, das quais 3.245 estavam com as informações atualizadas. Essa foi a base utilizada para o levantamento-piloto, com enfoque na região central, em que também foram destacados os dados das 1.697 pessoas cadastradas em equipamentos públicos situados na Regional Matriz.
Foram observados que 56% se declaram de cor branca e 90% do sexo masculino. A maior parte (82%) já teve carteira assinada e quase todos (92%) estão em idade produtiva (18 e 59 anos).
O contato com a família é mensal ou diário para 33% deles e mais da metade (55%) é de Curitiba ou mora na cidade há mais de 10 anos. Dentre os motivos que ocasionaram a ida para as ruas, estão o desemprego, problemas familiares, alcoolismo e ainda a perda de moradia. Esses motivos, não raro, se manifestam simultaneamente. Também não são excludentes e a eles juntam-se outras dimensões como as de ordem econômica, social e ambiental.
Conforme os dados deste público no CadÚnico, em toda a cidade, 55% não dormem na rua, recorrendo a alternativas como albergues, hotéis e pensões. Na Regional Matriz, esse percentual chega a 78%. A base também indica que 41% dos cadastrados na Regional Matriz trabalham na coleta de materiais recicláveis, construção civil, vendas, serviços gerais, como guardadores de carro ou carregadores.
Os resultados vão ajudar a discutir ajustes nos serviços já oferecidos pelo poder público e também identificar oportunidades para novas intervenções.
“Todo tipo de vinculação das pessoas em situação de rua com o trabalho, o acolhimento institucional ou a família são possibilidades de saída desta situação e podem ser fortalecidos por políticas públicas”, avalia Erika Hayashida, coordenadora técnica do estudo, da Diretoria de Pesquisa e Informações do Ippuc.
Uma das estratégias é fortalecer a articulação e a mobilização das organizações da sociedade civil para ampliar o atendimento e a parceria com as ações do poder público.
Segurança
O levantamento também desmistifica padrões de comportamento e preconceitos. Dados disponibilizados pela SMDT, da Guarda Municipal, indicam que, em 2024, foram encaminhadas 447 pessoas em flagrante na Regional Matriz, das quais 44 eram pessoas em situação de rua, correspondendo a 9,8% do total.
A sociedade demonstra mais sensibilidade para a condição da mulher em situação de rua, em geral mais expostas à condição de violência. Nos dados do 156, nota-se que, apesar das mulheres representarem 10% no CadÚnico, o percentual de solicitações de atendimento para vulneráveis do sexo feminino é de 30%. Há ainda uma percepção do aumento do número de casais em situação de rua.
“Compreender quem são essas pessoas, como vivem e quais são suas trajetórias é fundamental para que possamos construir políticas públicas mais eficazes e humanizadas. O estudo contribui diretamente para o aperfeiçoamento dos serviços desenvolvidos principalmente pela assistência social para a superação da vulnerabilidade das pessoas que vivem em situação de rua”, diz Renan de Oliveira Rodrigues, presidente da FAS.
Plano Diretor
As condições da população em situação de rua fazem parte dos 12 desafios preliminares da revisão do Plano Diretor e estarão nos debates das oficinas comunitárias que ocorrem a partir de 15 de julho nas administrações regionais. Confirme o calendário das reuniões e programe-se para participar das discussões no site do Plano Diretor.