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Após nove dias, forças de segurança do Paraná concluem identificação das vítimas da explosão em Quatro Barras (CBMPR)

A explosão que matou nove pessoas na fábrica da Enaex, em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), teve como principal causa a baixa temperatura. A informação está em um laudo da Polícia Científica divulgado nesta segunda, 15 de setembro.

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A explosão, em 12 de agosto, ocorreu dentro do reator que mistura os componentes do pentolite, um explosivo altamente sensível. O laudo em questão aponta que o equipamento operava fora da faixa segura de temperatura. Os sensores registraram quedas bruscas na temperatura.

Apesar da destruição total dos equipamentos e do ambiente desafiador para coleta de vestígios, os peritos apontaram que a baixa temperatura registrada no dia do acidente — cerca de 3°C no momento da explosão — pode ter contribuído de forma significativa para o incidente. O frio intenso teria favorecido a solidificação do pentolite (mistura de TNT e nitropenta), utilizado no carregamento dos busters que, ao colidir contra as bases dos agitadores, pode ter provocado a detonação. 

O documento foi elaborado por peritos criminais e reúne análises técnicas, hipóteses de cenários e recomendações para o setor industrial. “É um documento completo, com a apresentação dos cenários possíveis e inclusive com sugestões para a empresa e para outras do mesmo segmento, de forma a implementar melhorias de segurança”, destaca o perito oficial Jerry Gandin. “Esse trabalho se soma a diversas ações concluídas em tempo recorde pela Polícia Científica do Paraná e pela Segurança Pública do Estado”.

Para a análise técnica, a PCIPR dividiu o trabalho em duas frentes simultâneas: a primeira, dedicada à identificação das vítimas, com a aplicação do protocolo internacional DVI (Disaster Victim Identification), da Interpol, utilizado em desastres de grandes proporções; paralelamente, foi conduzida a análise da própria explosão, com o recolhimento de vestígios espalhados pela área atingida, avaliação da área e dos equipamentos, além do estudo de documentos técnicos e projetos da indústria. 

“É um trabalho complexo, que foge da análise tradicional da perícia”, explica Gandin. “Por isso, nestes casos, a gente aplica o método RCA (Root Cause Analysis), para a determinação da causa raiz. Ou seja, verificamos vários elementos contributivos para o incidente, semelhante ao que acontece, por exemplo, na queda de um avião. Nestes acidentes, não temos apenas uma causa. Nem sempre é só uma falha humana ou do equipamento, mas há a contribuição do clima, do tempo, do equipamento e dos operadores, e tudo isso pode contribuir para a ocorrência do acidente”. 

Investigação da explosão segue

A Delegacia da Policia Civil do Paraná (PCPR) segue atuando com prioridade na investigação do acidente. Desde o início, o trabalho tem se concentrado em apurar se houve alguma conduta dolosa ou culposa que possa ter contribuído para a explosão que vitimou os nove trabalhadores. Em razão da complexidade do caso e do grande volume de informações técnicas que ainda estão sendo analisadas, o inquérito será prorrogado por mais 30 dias. 

“A medida é essencial para que todas as diligências pendentes sejam realizadas com o devido rigor, garantindo que nenhuma hipótese seja descartada sem a devida verificação. O objetivo é entregar à sociedade e às famílias das vítimas um relatório final completo, embasado e responsável”, ressalta a delegada Géssica Andrade.

Para a continuidade da investigação, o laudo apresentado tem papel fundamental para subsidiar o inquérito. O documento reúne cenários e causas prováveis, oferecendo contribuições técnicas e científicas que poderão indiciar eventuais responsáveis. O material também serve de base para o Ministério Público e para a Justiça no andamento do processo.

A conclusão do laudo soma-se a outras ações realizadas. A confirmação das identidades das vítimas, em apenas nove dias, foi possível graças ao trabalho conjunto e intensivo das equipes da PCIPR, responsáveis pela identificação genética de vestígios, e da PCPR, que atuou por meio da papiloscopia na análise de impressões digitais. Ao todo, a operação envolveu aproximadamente 80 profissionais da Polícia Científica, atuando de forma coordenada em diversas etapas simultâneas.

A fábrica da Enaex Brasil produzia pentolite, uma mistura de TNT e nitropenta. O processo exige controle rigoroso de temperatura. O sistema de segurança da empresa aciona alarmes quando o calor ultrapassa 105 °C, mas não há travas automáticas para temperaturas abaixo de 50 °C — justamente o cenário que contribuiu para o acidente.

Em nota, a Enaex afirma que “conta com todos os sistemas de segurança necessários para lidar com variações climáticas”.

O Ministério Público acompanha o caso e afirma que não há motivo para uma conclusão apressada.