
Uma nostálgica paixão volta a ganhar força em Curitiba. Uma espécie de precursor de jogos digitais como as franquias FIFA e eFootball, o futebol de botão voltou a mobilizar uma comunidade com dezenas de apaixonados pelo esporte bretão e sua versão de mesa. Prova disso é que hoje existem três ligas na cidade (Liga das Araucárias, Liga das Garagens e Ricetti Calcio Balila) que organizam diversos torneios e encontros ao longo do ano, divulgando e incentivando a prática do futebol de mesa.
No último sábado (29 de julho), por exemplo, o Ginásio Poliesportivo Perdizes, localizado em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), recebeu 28 praticantes do esporte, com idades entre 9 e 79 anos. Distribuídos em 12 mesas, os jogadores disputaram uma edição da Champions League, utilizando equipe europeias numa disputa cujo ganhador levou até uma réplica da ‘Orelhuda’ — o grande campeão acabou sendo Paulo Santana, que jogou com um time de botão do Bayern de Munique, da Alemanha.
O torneio, realizado num espaço gentilmente cedido pela Secretaria de Esportes de Pinhais, foi organizado pela Liga das Araucárias, que celebrou seu terceiro aniversário nesta segunda-feira (31 de julho), inclusive. Quando de sua fundação, a liga contava com seis amigos que resolveram começar a se reunir para resgatar a brincadeira de infância. Hoje, já são 45 pessoas das mais diversas faixas etárias participando do grupo, que se reúne todas as segundas e sábados (e ocasionalmente também nas sextas-feiras) para fazer a bola (ou a pastilha) rolar com seus jogadores de botão num campo de mesa.
“Começamos num grupo de seis pessoas e depois a gente foi angariando um ou outro. Pessoal foi vendo as postagens nossas no Facebook e ficaram com vontade de voltar a jogar, porque tem aquela nostalgia de quem jogava quando criança, e hoje estamos com 45 pessoas na nossa liga”, conta Alexandre Schon, presidente e fundador da Liga das Araucárias, explicando aionda que uma vez por mês o grupo realiza um torneio oficial, que reúne de 28 a 38 jogadores. “Mas toda semana temos os torneios temáticos, que reúnem uma média de 16 pessoas a cada edição”.
O crescimento do número de praticantes, inclusive, surpreende o presidente da Liga, que realiza os encontros de jogadores de futebol de botão em cervejarias de Pinhais, ginásios de esportes e na garagem de sua própria casa. “Cresceu bastante, né?! A gente não esperava. Imaginava que ia ficar em dezesseis, quinze jogadores. E o mais legal é que a nossa galera é tudo de família, um pessoal que se respeita. Quarenta e cinco cabeças diferentes e não não tem briga, é uma paz, uma tranquilidade”, comemora Schon.
Para quem quer começar a participar dos jogos de futebol de botão, uma dica é seguir no Facebook a página “Futebol de Botão Curitiba”, que traz diariamente informações sobre tudo que rola de melhor em Curitiba e região relacionado ao futebol de mesa. Outra opção é seguir no Instagram e contatar algumas das ligas que organizam jogos na Grande Curitiba, como a Ricetti Calcio Balila (@ricetticalciobalilla) e a própria Liga das Araucárias (@liga_das_araucarias).

Gigante do basquete: das quadras da NBA para as mesas de competição
Uma das presenças ilustres no Ginásio Poliesportivo Perdizes no último sábado foi Rolando Ferreira. Aos 59 anos o ex-jogador de basquete, que foi o primeiro brasileiro a jogar na NBA e participou de três mundiais e duas Olimpíadas, redescobriu há pouco tempo o prazer de de jogar futebol de botão.
“Eu jogo há muito tempo, desde criança, mas daí eu parei um tempo, fiquei uns 20 anos sem jogar, até que no ano passado conheci o Paulo Ricetti [da Ricetti Calcio Balila] que me convidou. Estou jogando de novo desde então, sempre que dá estou jogando porque é muito bom. É uma terapia, e montar os times é melhor ainda. Eu tenho muito time, feito com botão de camisa, lente de relógio, da Estrela, da Gulliver, os times oficiais de 12 toques… É muito bom”, diz o gigante.
No sábado, inclusive, Rolando teve de escolher entre jogar basquete no clube que frequenta ou participar da Liga dos Campeões de futebol de botão em Pinhais. E não hesitou na hora de tomar uma decisão. “Prefiro jogar botão do que basquete, porque no basquete eu sou o Rolando, sabe? Daí os caras têm uma cobrança, até eu tenho uma cobrança maior comigo mesmo. Aqui no botão, não. Aqui eu sou só mais um. Se eu tomar um cacete, tá tudo bem, perfeito. O importante é a diversão, o que conta é a amizade, o pessoal aí… O botão é uma terapia.”


Filéth, o homem que já jogou com o Charles Miller da modalidade
Embora a origem do futebol de botão seja incerta, sabe-se que a brincadeira surgiu no começo do século XX, provavelmente na década de 1920, e tudo indica que a origem da prática é brasileira. O primeiro livro de regras oficial do jogo, por sua vez, surgiu em 1930 e foi publicado pelo músico e publicitário Geraldo Décourt. E em Curitiba, há um homem que conheceu e já jogou futebol de mesa com o Charles Miller do futebol de botão: é Luiz Carlos da Silva, mais conhecido como Filéth.
Aos 79 anos, o botonista segue na ativa e jogando em alto nível – tanto que ficou em terceiro lugar na Liga dos Campeões, jogando com o time do Helsingborgs IF, da Suécia. “Eu jogo desde os seis nos de idade, desde a Copa do Mundo de 1950, quando meu pai me deu meu o meu primeiro time para eu começar a jogar futebol de botão. E aí ficou até hoje”, conta o jogador, que esteve em mais de uma ocasião com Décourt.
“Foi em 1975, eu acho. Os paulistas vieram fazer um encontro com a gente aqui e nós jogávamos naquela época no Círculo Militar. Recepecionamos eles lá, fizemos um torneio e depois fomos comemorar, passear pela cidade. O pai dele e o avô jogavam com a gente e foi um encontro legal”, recorda Filéth, que em 1989, quando foi disputado o primeiro campeonato brasileiro de futebol de mesa, voltou a encontrar o precursor da brincadeira.
Mais de 2 mil times de botão e amizades por todos os lugares
Já o botonista Roberto Petrini começou a jogar futebol de botão com cinco ou seis anos de idade, incentivado pelo avô. Ele, inclusive, recorda dos tempos em que era difícil conseguir escudos de times diferentes e o avô, quando via algo no jornal, logo corria comprar diversos exemplares para usar os escudos de futebol e montar seus times.
“Eu parei de jogar depois de um tempo, mas quando ele faleceu eu peguei a coleção toda dele e comecei a organizar. Vi que faltava muita coisa e aí comecei a montar meus próprios times”, conta o aficionado, que hoje possui um blog (escudosdefuteboldebotao.blogspot.com) onde disponibiliza gratuitamente uma coleção com mais de 2 mil clubes brasileiros para quem quiser começar a fazer sua coleção de times de botão.
“Tenho time de botão de casca de coco, time com botão de casaco e os times de vidrilha, que são os mais comuns, tenho quase 2 mil times. É uma coleção grande”, conta o botonista, destacando o bom ambiente entre os adeptos da brincadeira. “A grande questão disso tudo aqui é a amizade. Você tem amigos em todos os lugares, em todas as cidades. Eu, por exemplo, jogo Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil. Ano passado estive em Manaus, neste ano em Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, semana que vem vou pro Rio de novo… E hoje eu tenho amigos no Brasil inteiro por causa do futebol de botão. Aonde eu vou tenho amigos, e essa é a grande questão do futebol de botão.