Grupo de Curitiba leva mulheres para trilhas e montanhas. Conheça o Trilhando com Elas

Tudo começou em 2021 e de maneira despretensiosa, com duas amigas que queriam se aventurar. Com o tempo, a coisa foi crescendo e se profissionalizando

Rodolfo Luis Kowalski
TRILHANDO COM ELAS TRILHA

Caroline e Nicole, fundadoras do Trilhando com Elas: turismo de aventura também é coisa de mulher (Foto: Franklin de Freitas)

O turismo de aventura está em alta no Paraná, com um número cada vez maior de pessoas indo se exercitar e se divertir em trilhas, morros e picos no estado. E não são só os homens que estão buscando mais esse tipo de atividade, mas também as mulheres. Um grupo criado em Curitiba, inclusive, ilustra bem esse cenário. Trata-se do Trilhando com Elas, que começou suas atividades em 2021, de maneira despretensiosa, e hoje virou uma empresa de turismo. Desde então, já levou mais de mil mulheres para aventuras pelo Paraná e até mesmo em outros estados.

Fundadoras do Trilhando com Elas, Caroline de Carvalho e Nicole Bilek se conheceram no trabalho. Ambas são professoras e por cerca de quatro anos trabalharam numa mesma escola, mas não tinham muito contato. Isso até Nicole sair da instituição de ensino e, pouco tempo depois, mandar uma mensagem para a colega, convidando-a para combinarem de fazer alguma coisa juntas. Elas, então, começaram a sair e acabaram virando amigas.

“Nessa época daí ela [Nicole] falou que queria muito fazer trilha e me chamou para ir junto. Isso foi em 2021, bem no comecinho do ano. Eu já tinha feito umas duas trilhas na minha vida, mas tinham sido experiências horríveis que fizeram eu falar para mim mesma que nunca mais ia fazer trilha”, conta Caroline, que acabou mudando de ideia de tanto a amiga insistir para elas fazerem o passeio.

“Ela insistiu muito, queria muito fazer trilha, e aí a gente marcou de fazer o Morro do Cal. Chamamos uma outra amiga nossa, que também era professora, e fomos nós três. Chegamos lá [no pé do morro] três horas da manhã para ver o nascer do Sol. Fomos o caminho inteiro meio nervosas… Era só a gente na trilha, primeira vez e três mulheres sozinhas. Mas a gente subiu, e quando chegamos lá em cima vimos um nascer do Sol muito bonito. A Nicole até chorou”, recorda ainda Caroline. “Vimos um mar de nuvens, foi lindo. A gente tinha passado por situações difíceis e na minha vida eu estava recomeçando. Fazer a trilha seria parte desse recomeço, realmente. E pegamos um Sol lindo, mar de nuvens, fizemos piquenique… Foi encantador”, complementa Nicole.

Nasce a paixão pelo montanhismo. E surge uma oportunidade de negócio

Trilhando com elas já levou mais de 1 mil mulheres para trilhas, morros, picos e praias no Paraná e em outros estados (Foto: Franklin de Freitas)

A partir do primeiro rolê em montanha, as duas amigas começaram a ter vontade de fazer outras trilhas, conhecer outros morros e picos. De início, faziam esses rolês com três amigos homens. Mas eram ritmos e pensamentos diferentes. “Eles iam na nossa frente e deixavam a gente para trás”, conta Nicole. “Uma das trilhas que a gente foi era o Castelo dos Bugres. Eles saíram correndo e deixaram eu e a Carol para trás. Aí a gente falou ‘nossa, temos de começar a sair, fazer trilhas, com mulheres, com amigas'”, emenda ainda ela.

A saída, então, foi montar um grupo no WhatsApp para chamar amigas próximas – principalmente professoras – para fazerem trilha com as duas aventureiras. Como a adesão não foi a esperada, mais tarde elas acabaram resolvendo abrir o grupo para outras pessoas, convidando amigas de fora a participar. O grupo já se chamava Trilhando com Elas e acabou viralizando. “Uma amiga foi compartilhando com a outra o link do grupo e a coisa foi crescendo de uma forma bem orgânica”, diz Nicole.

A primeira trilha que o grupo fez foi justamente o Morro do Cal, onde tudo havia tido início meses antes. E já nesse primeiro passeio foi fechada uma van com 18 pessoas. A partir dali, a coisa foi crescendo e se profissionalizando, comenta Carol. “Usamos uma van de transporte escolar até, porque a ideia era realmente dividir o transporte. Mas dali pra frente começamos a profissionalizar o negócio, que está crescendo. Abrimos um grupo geral de mulheres e entrou muita gente. Em questão de dois meses já estávamos com três grupos, só com mulheres que queriam fazer trilhas.”

Mais de 1,2 mil mulheres já se aventuraram na natureza com o Trilhando com Elas

Com o tempo, o que começou como uma brincadeira virou coisa séria. Um negócio mesmo. Caroline e Nicole fizeram o curso de guia de turismo, fizeram Cadastur e formalizaram a empresa. No início, inclusive, só as duas atuavam como guias. Hoje, já contam com outras três mulheres que auxiliam nos passeios, todas ex-clientes que viraram trilheiras e se prepararam para também virar guias. Por mês, são realizados cerca de oito roteiros, geralmente com a utilização de micro-ônibus para levar o pessoal até o local dos passeios – que costumam reunir entre 15 e 30 pessoas.

“Quando é montanha, vamos com 15, no máximo 18 pessoas, que é mais fácil controlar. Já quando é praia, conseguimos levar um grupo maior, com umas 30 mulheres”, explica Carol, citando ainda que mais de 1,2 mil mulheres já participaram dos eventos promovidos pela Trilhando com Elas. “Fazemos sempre uma agenda mensal. Agora no final de novembro, por exemplo, lançamos a agenda de dezembro. E tem evento todo final de semana, sábado e domingo. E em alguns finais de semana temos até mais eventos. Mas, em média, promovemos oito eventos por mês.”

Para saber mais sobre o trabalho, basta procurar a página do grupo no Instagram (@trilhandocomelas_). E um fato curioso é que o Trilhando com Elas reúne pessoas das mais diversas faixas etárias e dos mais diferentes perfis, mas que costumam ter algo em comum: são mulheres que costumam estar passando por um momento difícil em suas vidas e/ou que estão em busca de novas amizades.

“É como se fosse uma cura mesmo. Elas querem amizades com mulheres que tenham passado por situações parecidas e isso a gente encontra muito. Em todas as trilhas a gente faz uma rodinha, que a gente chama de rodinha da terapia. Ali cada uma pode se apresentar e falar o porquê que foi fazer aquela trilha. E isso acaba chamando muito público, porque elas postam ‘o Trilhando com Elas me curou’ e isso vai chamando mais gente. Hoje, a gente tem 33 mil seguidos no Instagram e a procura tem crescido, até por essa questão da cura, as amizades que se criam, além do contato com a natureza. Porque não é só na trilha que elas se encontram, acabam marcando outras coisas, como churrasco, passeios na cidade… Vão marcando outras coisas e mantém esse contato, transformando esses encontros nas trilhas em amizades”, finaliza Carol.