Um palácio construído no meio da Serra do Mar Paranaense pode ressuscitar das ruínas. Trata-se da icônica Casa Ipiranga, localizada às margens da ferrovia e no meio do histórico Caminho do Itupava, entre os municípios de Quatro Barras (na Região Metropolitana de Curitiba) e Morretes (no litoral do Paraná). Nas últimas semanas, voluntários liderados pelo grupo Exhilarante realizaram a limpeza do imóvel e seu entorno, dando uma cara nova à casa. E agora esses voluntários uniram forças com a associação SOS Casa Ipiranga, que desde 2019 luta pela restauração do imóvel, conhecido como “O Palácio da Serra do Mar”.
No último sábado, inclusive, aconteceu mais um mutirão de limpeza da Casa Ipiranga. Na ocasião, terminou-se de limpar uma escadaria na lateral da casa, que dá acesso a um rio, e também deu-se continuidade à limpeza de uma antiga piscina, que fica nos fundos do imóvel. Além disso, a arquiteta Giovanna Martins Alves, presidente da SOS Casa Ipiranga, também participou das atividades. Graças à primeira ação de limpeza no local, em meados de setembro, ela pôde fazer uma avaliação sobre a estrutura do imóvel, suas condições. O objetivo da associação, que existe desde 2019, é restaurar a casa, preservando todas as suas características originais e mantendo a história do local viva.
A história da Casa Ipiranga
A Casa Ipiranga foi construída em alvenaria de tijolos sobre uma base de pedra, em 1889, quatro anos após a inauguração da Estrada de Ferro. Seu nome se deve ao fato de ficar próxima ao Rio Ipiranga, no cruzamento com o Caminho do Itupava. Serviu como escritório da via, moradia para o chefe da ferrovia (o engenheiro Rudolf Lange e sua família) e local de confraternizações para a Rede de Viação Paraná Santa Catarina. O pintor Alfredo Andersen também passou uma temporada no local, quando fez pinturas da região.
Originalmente a casa possuía sala de estar com lareira, cozinha, sala de jantar e banheiro no térreo. No pavimento superior, três dormitórios e outro banheiro. No porão ficavam armazenadas ferramentas e outros materiais para a manutenção da casa e da própria ferrovia. E posteriormente ainda foi construído um apêndice, onde ficava uma sala de jogos toda envidraçada, uma grande piscina com fundo em declive, alimentada de água corrente, e uma roda d’água, instalada para abastecer a piscina e gerar energia para a casa.
Posteriormente, no entanto, quando a Rede Ferroviária foi privatizada, a Casa Ipiranga foi leiloada e, depois, revendida por seu proprietário para o dono de uma imobiliária, em 1995. Em 15 de setembro de 1996, no entanto, um incêndio causou danos significativos ao imóvel, que já vinha sofrendo com o abandono. Nos anos seguintes, tentativas de restauração fracassaram. Dessa forma e por conta do abandono, a situação da Casa Ipiranga foi se degradando. Hoje restam apenas ruínas do antigo Palácio, com suas paredes fortificadas com trilhos de trem.
SOS Casa Ipiranga: o último grito de socorro do Palácio da Serra do Mar
No último sábado, a arquiteta Giovanna Martins Alves, arquiteta e presidente da associação SOS Casa Ipiranga, esteve no local junto a voluntários. Na ocasião, fez uma nova avaliação sobre a estrutura do imóvel, que piorou e muito.
“Em dois anos, uma parede inteira da casa caiu. Então ela não pode esperar mais, temos que agir mais rapidamente do que antes para salvar a Casa Ipiranga”, diz Giovanna. Ainda segundo ela, a luta agora é para conseguir a desapropriação do imóvel pelo Estado. A última estimativa da SOS Casa Ipiranga, que ainda passará por atualização, é que “ressuscitar” a casa dos escombros custaria em torno de R$ 1,9 milhão.
“Antigamente, todo mundo que passava pela Casa Ipiranga de tem achava que ali era um palácio na Serra do Mar. Ela era maravilhosa mesmo, parecia um castelinho. E muita gente tem memórias ali, porque usava a casa como um ponto de descanso quando faziam o Caminho do Itupava. Muita gente tem história com a casa, que é muito querida e tem uma arquitetura diferente. Então queremos preservar o que ainda tem, desapropriar o imóvel, para que ele volte para o Governo do Estado, e então restaurar a casa e dar função a ela, fazendo parcerias com o Corpo de Bombeiros, o Cosmo [Corpo de Socorro em Montanha] e o próprio IAT [Instituto Água e Terra]”.
Ações voluntárias vem ajudando a manter limpo o local
Além do esforço da SOS Casa Ipiranga, o grupo Exhilarante também tem feito ações de limpeza no local. No último sábado, voluntários deram continuidade à limpeza da piscina nos fundos da Casa Ipiranga e terminaram de limpar uma escadaria na lateral do imóvel. Anteriormente, já haviam construído uma passarela no lugar de uma ponte caída no Caminho do Itupava, restaurado a ponte pênsil sobre o Rio Ipiranga e limpado o interior da Casa Ipiranga.
“Em breve vamos fazer uma nova ação para terminar de limpar a piscina nos fundos da casa. Planejamos também fazer outras ações, para arrumar os troncos de uma pinguela que estão soltos e trocar os pranchões velhos da ponte do Rio Ipiranga”, explica um dos integrantes do Exhilarante, o segundo sargento do Corpo de Bombeiros Wilson de Souza Alves Junior. Quem quiser ficar por dentro das ações ou mesmo participar do voluntariado pode entrar em contato com o grupo através do Instagram (@exhilarante).