É numa sala de poucos metros quadrados, entre fios, máquinas, agulhas e fitas métricas, que dez detentas da Penitenciária Feminina de Piraquara esperam ansiosas pelo desfile de moda que mostrará 45 vestidos confeccionados por elas mesmas. A pequena sala se tornou atelier de costura há pouco mais de nove meses e, na próxima terça-feira, os modelitos farão parte de um desfile de moda que terá como cenário o museu Oscar Niemeyer. Depois de quase um ano de curso e muito trabalho, as mulheres vão mostrar o que aprenderam com os estilistas da grife paranaense Gianni Cocchieri.
Com tecidos apreendidos pela Receita Federal e doados ao Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar), as detentas encontraram no curso uma oportunidade de trabalho. Não é a toa que a assimilação das presas ao tratamento penal é, em geral, maior que a dos homens. Programas como este fazem com que a reincidência feminina seja muito inferior á masculina. Somente 8% das mulheres voltam a praticar crimes. Já os homens têm índice de reincidência de 22%.
A ideia do projeto surgiu há pouco mais de nove meses, quando o Provopar recebeu uma doação de tecidos nobres (seda e crepe) apreendidos pela Receita Federal. O material não poderia ser usado em peças comuns e as detentas não tinham qualificação para trabalhar com este tipo de tecido. Aproveitando as máquinas de costura que o Provopar tinha doado à penitenciária, a presidente do Provopar, Lucia Arruda, convidou os empresários Vânia e Gianni Cocchieri para ministrar o curso e criar os modelos.
Na época, 14 detentas foram selecionadas pela direção do presídio para participar do projeto social que ensinaria técnicas de alta costura. No início, ainda um pouco apreensivas, as detentas sentiam um misto de ansiedade e medo. Mas com o passar dos meses o resultado foi satisfatório. Como o número de máquinas e o espaço ofertado eram limitados houve uma seleção prévia das detentas. Aquelas que se mostraram mais empenhadas e dispostas foram escolhidas. Das 14 detentas que iniciaram o curso, dez concluíram. As demais já deixaram o complexo penitenciário.
“A idéia é mostrar para a sociedade paranaense que é possível ressocializar as detentas, desde que seja dada a elas a oportunidade de emprego digno após cumprirem a pena. Todo o acabamento é feito a mão e achamos que dar o curso a elas seria uma forma de ajudá-las a ter mais chances de reinserção”, afirmou Lúcia.
As aulas, ministradas todos os sábados das 9 às 16 horas, renderam 45 vestidos de alta costura. O empenho e entusiasmo das detentas que participaram do curso foi essencial para o resultado final. Das mais variadas idades e perfis, as presas começaram o curso sem saber nada de alta costura e terminam o ano de estudo com capacitação para trabalhar na área quando deixarem o complexo penitenciário. Todas já tinham cursos de costura e bordado na penitenciária, mas, desta vez, ganharam um curso completo de alta costura. Foram ensinados desde termos técnicos até o acabamento das peças, que é feito de forma artesanal.
Para o estilista Gianni Cocchieri, a dedicação das detentas impressionou. “Quando começamos o curso, não sabíamos o que iríamos encontrar pela frente. Mas a dedicação e boa vontade delas impressionou. Elas vão sair da penitenciária preparadas para um futuro melhor e, sem dúvidas, essa coleção vai estar melhor do que a de muitas grifes grandes espalhadas pelo Brasil”, disse.
De acordo com Vânia Cocchieri, muitas detentas enfrentam dificuldades como a baixa auto-estima, mas o curso ajudou a melhorar o lado psicológico das presas. “Elas entram aqui com a auto-estima lá embaixo, mas agora vêem que tem capacidade. Hoje, temos mulheres muito mais preparadas. Elas têm medo do preconceito que vão enfrentar, mas este tipo de atitute certamente as ajudará a vencer estes obstáculos”, apontou.