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Trem. Imagem ilustrativa. (Foto: ONG Trilho Seguro)

Curitiba registrou 154 acidentes em linhas férreas entre 2018 e 2022, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Os dados alarmantes e uma experiência de quase morte motivaram a advogada Julia Marcassa a criar a ONG Trilho Seguro, que tem como principal objetivo cobrar mais segurança nos cruzamentos rodoferroviários.

O consultor de trânsito, Marcelo Araújo, destaca que o tema não é novo. “Em determinadas regiões da cidade de Curitiba, há semáforos que disciplinam tanto o cruzamento de vias terrestres quanto da via férrea, a qual se encontra paralela, portanto, é absolutamente injustificável que o motorista do carro pare seu veículo com o semáforo favorável à sua passagem, ele prevalece. Pior, em Curitiba tem semáforo que não está funcionando de forma a acionar a luz vermelha quando da passagem da composição férrea”, alerta.

O empresário Rubens Mesias, que tem uma empresa no bairro Cajuru há 30 anos, é testemunha do perigo que a sinalização inadequada representa para os motoristas. “Todos os dias vejo o semáforo para veículos abrir, mesmo com o trem passando. Já testemunhei diversos acidentes nesta passagem de nível. Fico me perguntando até quando vamos ver isso acontecer?”, desabafa.

Determinada a mudar essa realidade, ONG Trilho Seguro tem o propósito de impor o cumprimento rigoroso das leis e contribuir para a melhoria da segurança de todos. De acordo com a advogada, a estratégia mais bem-sucedida, evidenciada pelo insucesso de outras numerosas tentativas anteriores de abordar a questão junto à administração municipal e à concessionária ferroviária, consiste em responsabilizar as entidades encarregadas da fiscalização, que, por dever legal, são a ANTT e a Senatran.

“Para anular o tradicional jogo de empurra entre o poder público concedente e as empresas concessionárias, a ONG vai cobrar diretamente dos órgãos federais de fiscalização. Iremos exigir providências imediatas e, em caso de descumprimento, a imposição de pesadas multas aos responsáveis”, garante a idealizadora.

A motivação para o projeto teve início depois de uma experiência negativa vivenciada quando Julia voltava para casa em uma tarde chuvosa com o filho João, de apenas dois anos. Enquanto o pequeno cantarolava na cadeirinha, ela dirigia atentamente, respeitando as regras de trânsito. Ao se aproximar de um cruzamento ferroviário no bairro Cajuru, o sinal verde autorizou que ela prosseguisse. No entanto, de repente, Julia se viu à beira de um perigo iminente. Apenas alguns metros à frente, saindo por detrás de um muro, uma enorme locomotiva atravessava a rua em sua direção. “O susto foi imenso. Não tive tempo para pensar, apenas acelerei o carro instintivamente. Se eu tivesse tomado qualquer outra decisão, como frear, por exemplo, o impacto teria sido inevitável”, conta.

Passado o susto, Julia tentou entender o que havia acontecido e decidiu aprofundar sua investigação sobre o incidente. “Fiquei abismada quando soube que muitas outras pessoas já haviam enfrentado o mesmo problema com a falta de segurança nas passagens de nível de Curitiba. Já aconteceu uma quantidade enorme de acidentes com trens, a maioria deles por falta de sinalização. Além disso, existem leis federais que estabelecem a instalação de cancelas e sinaleiros em passagens de nível e que estão sendo completamente negligenciadas”, revela.

Ao fundar a ONG Trilho Seguro, Julia não se tornou apenas uma porta-voz de sua experiência pessoal perigosa, mas também representante de toda uma comunidade enfrentando perigos devido à ausência de sinalização em passagens de nível da capital. “Infelizmente a população, por desconhecer que existem leis que a protegem, está habituada com cruzamentos em que a sinalização está abandonada ou sequer existe. Por este motivo a ONG irá fazer um trabalho de conscientização para esclarecer os cidadãos de que não é apenas uma questão técnica, mas sim um direito de todos, previsto em lei, e que está sendo violado”. No site da organização, há um formulário para que a população possa fazer denúncias e enviar fotos destas perigosas passagens de nível irregulares. Materiais que vão servir para sensibilizar a opinião pública e exigir das autoridades imediatas providências para a solução do problema.