
A cada dia, dois motociclistas morrem no trânsito paranaense e outros 14 são hospitalizados após se envolverem em algum acidente. Pelo menos assim foi nos últimos cinco anos (2019 a 2023), período no qual as fatalidades no trânsito paranaense registraram uma importante queda, mas as mortes de motoqueiros se tornaram mais comuns. Um movimento, segundo especialistas, que reflete o crescimento da frota desse tipo de veículo e a demanda por serviços de entregas.
De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, extraídos do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), ao longo de uma década (entre 2014 e 2023) um total de 103.028 motociclistas foram internados na rede pública de saúde (o SUS). Além disso, nesse mesmo período 7.272 pilotos faleceram em decorrência dos chamados acidentes de transporte.
Os números são expressivos por si só. Mas chama a atenção o fato dessas tragédias terem se tornado mais comuns ao longo dos últimos anos – em especial a partir de 2020, quando teve início a pandemia de Covid-19.
Hospitalizações crescem 36% e as mortes, 12%
Entre 2014 e 2018, por exemplo, registrou-se 3.875 motociclistas hospitalizados por ano no SUS devido a acidentes de trânsito. Entre 2019 e 2023, esse número já subiu para 5.273 hospitalizações anuais, o que representa um aumento de 36,1%.
O mesmo ocorreu também com relação aos óbitos. Entre 2014 e 2018, uma média de 685 motociclistas faleceram por ano no Paraná. Nos cinco anos seguintes, esse número já saltou para 769 falecimentos anuais – uma alta de 12,2%.
2020, inclusive, registrou pela primeira vez na história a morte de mais de 750 motociclistas no Paraná. Foram 758 óbitos naquele ano. No ano seguinte (2021), já houve 821 óbitos, um recorde. Em 2022 e 2023, mais 782 e 762 falecimentos, respectivamente.
Os fatores que explicam o aumento nos acidentes e fatalidades com motociclistas
Segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), a quantidade de veículos de duas rodas cadastrados no estado saltou de 1.231.152 em 2014 para 1.566.104 em 2023. Ou seja, o número de motocicletas e motonetas rodando pelo estado teve alta de 27,2% ao longo de uma década.
“O tamanho da frota de motocicletas possui grande influência nos números de acidentes e internações com motociclistas”, aponta Maria Del Carmen Molina. Ela é diretora do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde.
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) informa que havia uma tendência de redução de vendas a partir de 2011. Mas isso acabou sendo revertido em 2020, com o início da pandemia de Covid-19 e a demanda por serviços de entregas.
Maria Del Carmen enfatiza que, para que ocorra mudança no cenário de acidentes, é necessário um esforço conjunto. Isso envolveria o governo, os usuários de motocicletas e a sociedade como um todo. Ela ressalta, ainda, a importância de motociclistas evitarem os fatores de risco para lesões ou mortes no trânsito. “Alguns comportamentos de risco são: o não uso de capacete e de vestimenta apropriada, direção sob o efeito de álcool, excesso de velocidade e condução imprudente ou agressiva”, alerta.