
No próximo dia 2 de agosto, entre 10h e 13h30, uma esquina discreta no centro de Curitiba ganhará uma nova vida, mesmo que por algumas horas. Ali, na esquina que une as ruas Baldino do Amaral e Minta Cittá Rossa, em frente à antiga casa de Dalton Trevisan, será instalada a intervenção urbana Sebo do Joaquim. A ação artística tem múltiplas camadas de significado: homenageia o centenário de nascimento do escritor, revisita a trajetória da histórica revista Joaquim, e mergulha nas memórias pessoais do artista por trás da proposta.
A instalação é assinada pelo artista plástico e poeta visual Sérgio Monteiro de Almeida, e toma a forma de um sebo temporário: uma feirinha de rua com livros, postais, objetos antigos e poesias visuais. Mas, mais do que isso, trata-se de um espaço de memória. “É uma intervenção urbana site-specific, pensada para existir exatamente ali, na calçada onde Dalton morou por mais de 60 anos”, conta o artista.
Joaquim: entre a história literária e a memória afetiva
O nome da intervenção dialoga com a revista modernista Joaquim, editada entre 1946 e 1948, e que marcou a renovação da intelectualidade paranaense. Por suas páginas passaram nomes como Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Cândido Portinari, Sérgio Milliet e Otto Maria Carpeaux, além de artistas locais como Guido Viaro, Poty Lazzarotto e Erasmo Pilotto — este último, um dos fundadores da revista e parente direto de Sérgio Monteiro de Almeida.
A instalação traz livros e objetos diretamente relacionados à publicação: desde as obras completas de Erasmo Pilotto (presentes dados ao artista), até catálogos de arte, revistas e livros raros de acervo pessoal. Haverá também materiais à venda, como poemas visuais, cartões postais e objetos de arte criados por Almeida.
Mas o nome “Joaquim” também tem raízes íntimas. “Na minha família, Joaquim era o nome do meu bisavô, do meu pai e do meu irmão. Todos eles, de certa forma, estão presentes nessa intervenção”, explica o artista. “Por isso, o Sebo do Joaquim não é apenas sobre a revista. É também sobre os meus Joaquins.”
Homenagem não oficial
A ação é uma intervenção não autorizada pela família de Dalton Trevisan. “A casa está vazia, foi vendida e deve virar um centro cultural. Mas enquanto isso não acontece, acho simbólico marcar os 100 anos do nascimento de um autor tão recluso com uma presença poética na rua, aberta a quem passar”, diz Sérgio.
A escolha da esquina também tem valor estético. “Sempre achei aquele canto fotogênico, com um espaço reto embaixo da janela que parece ter sido feito para uma instalação”, afirma. A inspiração para a montagem veio ainda em 2022, ao ver um vendedor de rua montando uma banca improvisada de livros e discos. “Achei bonito, visualmente forte. Quis fazer algo assim, mas carregado de sentido.”
Do vidro ao papel: camadas de história
Entre os objetos que compõem a instalação, alguns chamam atenção pelo simbolismo. Poemas visuais do artista serão expostos dentro de vidros antigos de conserva, herdados da família e ligados à história da Cristaleria Trevisan, empresa que anunciava na revista. Outros estarão acomodados em caixas de madeira de chá mate, outra empresa que financiava a publicação.
“É uma intervenção que pode ser lida em muitos níveis”, resume o poeta. “Tem quem vai passar e ver uma feirinha de livros. Tem quem vai lembrar da revista Joaquim. E tem quem, como eu, vai sentir um peso emocional ao dizer ‘Sebo do Joaquim’ e lembrar do irmão que partiu. Tudo isso faz parte.”
Serviço
Intervenção Urbana “Sebo do Joaquim”
Data: 2 de agosto de 2025
Horário: das 10h às 13h30
Local: Esquina das ruas Baldino do Amaral com Minta Città Rossa – Curitiba/PR
Aberto ao público, gratuito
Alana Morzelli, sob supervisão de Mario Akira