Laudo de leitura labial confirma motivação política para assassinato de petista em Foz

Redação Bem Paraná com assessoria

Reprodução - Para família de petista morto

O laudo pericial realizado a pedido da assistência de acusação a partir das imagens de câmeras de segurança do local onde o policial penal, Jorge Guaranho, assassinou o guarda municipal, Marcelo Arruda, evidenciam a motivação política do crime. O júri popular do homicídio terá início nesta quinta-feira (04), em Foz do Iguaçu.

De acordo com o documento, a leitura labial revela as falas do réu nos momentos que antecederam os disparos: “Aqui é Bolsonaro, Bolsonaro, porra! Petralha!”, e “Petistas vão morrer! Pra baixo, pra baixo, pra baixo”. O laudo complementar à perícia do Instituto de Criminalística é assinado pelo perito Anderson de Jesus Anchieta Carvalho e pela fonoaudióloga Renata Christina Vieira.

De acordo com a assistência de acusação, o novo elemento será fundamental para garantir que o réu seja condenado por homicídio doloso duplamente qualificado, por motivo fútil – em função da violência política motivada pelo desrespeito às diferenças – e perigo comum, já que os disparos foram efetuados no local da festa e poderiam ter vitimado os convidados presentes.

“Os laudos realizados pelo Instituto de Criminalística e o laudo complementar, feito por perito contratado por nós, demonstram a robustez e, de forma bastante farta, a existência de provas com relação à motivação política do crime. O que se espera agora, no júri, é que isso venha à tona para demonstrar, de forma definitiva, a produção de fake news com o objetivo de palidecer o trabalho realizado até aqui pelo Ministério Público e pela assistência de acusação”, afirma o advogado Daniel Godoy.

A assistência de acusação, formada pela equipe do escritório Godoy Advocacia, representa a família da vítima desde a etapa de inquérito policial e auxiliou a construção do conjunto probatório do homicídio e das qualificadoras. A atuação do Ministério Público, representado pelos promotores Marcelo Mafra e Tiago Mendonça, promoveu a denúncia em face do crime que ocorreu no dia 09 de julho de 2022. Na época, a vítima, Marcelo Arruda, atuava como tesoureiro do diretório municipal do PT de Foz do Iguaçu. “O Ministério Público e a perícia fizeram um excelente trabalho de investigação. Estamos muito confiantes de que o crime de ódio político ficará demonstrado”, completa a advogada Andrea Jamur Pacheco Godoy.

O caso

O guarda municipal e ex-tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, foi assassinado na própria festa de aniversário, em 2022. A vítima comemorava 50 anos com a família e amigos, quando teve a festa invadida pelo réu, Jorge Guaranho, e foi morto a tiros no local da confraternização.

A comemoração do aniversário de 50 anos ocorria em uma área reservada da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, na Vila A. De acordo com a denúncia do MP-PR, o réu – desconhecido da vítima e familiares – se aproximou da porta do salão de festas de carro, com o som do veículo em alto volume, reproduzindo uma música de campanha do então candidato Jair Bolsonaro.

De acordo com as testemunhas, Guaranho havia saído de um churrasco com mulher e filho e soube que o festejo tinha como tema decorativo o Partido dos Trabalhadores e o então candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. Aos gritos de “Bolsonaro” e “mito”, o réu, que estava acompanhado da esposa e do filho – um bebê de colo – ameaçou Arruda mostrando que estava armado e afirmou que voltaria para matar a vítima.

Aproximadamente uma hora depois, Guaranho retornou ao local da festa, sozinho, e começou a disparar contra o alvo e convidados ainda da porta do salão. A ação foi registrada pelas câmeras de segurança. As imagens mostraram que a vítima tentou se esconder debaixo de uma mesa, onde foi alvejada à queima roupa.
O réu, Jorge José da Rocha Guaranho, está preso no Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (PR). Recentemente, ele foi demitido do cargo de policial penal por decisão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, por uso de recurso material da repartição em atividade particular (arma), improbidade administrativa e incontinência pública. A decisão é resultado de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado à época do crime, para apurar a atuação do ex-agente da penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná.

O início do júri do caso Marcelo Arruda está marcado para quinta-feira (4), às 8h00, na Vara Plenário do Tribunal do Júri de Foz do Iguaçu, no Polo Centro. O julgamento terá transmissão ao vivo pelo canal do Tribunal de Justiça do Paraná.