
Às vésperas de começar o verão — a estação mais quente se inicia no próximo dia 21 (uma quarta-feira) —, o litoral do Paraná vive dias de incerteza. Após quase três anos de pandemia, a expectativa do comércio e da rede hoteleira litorânea era de começar a recuperar o ‘tempo perdido’ na temporada que se aproxima. Nas últimas semanas, no entanto, as chuvas torrenciais e as ocorrências de deslizamentos de terra em rodovias, que obrigaram o bloqueio das principais estradas que levam às praias paranaenses (como a BR-277 e a BR-376 e até a estrada da Graciosa), trouxeram preocupação.
De acordo com a Federação das Empresas de Hospedagem, Gastronomia, Entretenimento e Similares (Feturismo), empresários do setor de turismo já apontam uma queda de 50% na procura por acomodações em hotéis e pousadas, além do cancelamento de reservas já feitas. A situação não é diferente no comércio em geral, que vê o movimento nas cidades litorâneas crescer mais lentamente do que de costume nesta época do ano e ainda sofre com problemas de abastecimento, dadas as dificuldades para alguns produtos chegarem à região e o fato de alguns produtos (como os hortifrútis) estarem chegando com qualidade inferior e preços mais elevados do que o normal.
Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Matinhos (Acima), Adriano Menine Ribeiro comenta que até antes dos deslizamentos na Serra do Mar a expectativa era extremamente positiva. Os mais otimistas pensavam em alta de até 30% no faturamento, enquanto o comércio em geral tinha a perspectiva de uma alta entre 10 e 15% nas vendas em relação ao verão passado.
“Mas agora já temos uma retração disso. Nos últimos finais de semana o movimento foi ínfimo”, lamenta Ribeiro, comentando ainda que o empresariado já nem tem expectativas com relação ao Natal. “Hoje é dia 13, a estrada não será totalmente liberada até o Natal. O comerciante está assustado, ainda não sentimos o movimento de final de ano e o problema está na dificuldade de acesso [aos municípios praianos].”
A situação do Hotel Cabana Suíça, em Guaratuba, e da Pousada Volare, em Matinhos, ajudam a ilustrar a situação. No primeiro estabelecimento, o supervisor Nathan Araújo de Almeida comenta que até antes dos deslizamentos ocorreram a procura por reservas estava bem grande, com o hotel funcionando com lotação praticamente máxima aos finais de semana. Depois da tragédia na BR-376, o que veio foi o “caos”, nas palavras dele. “Movimento diminuiu 70% para mais. Ficou difícil o acesso pro pessoal, ninguém chegava e ninguém saia. Todo o planejamento que tínhamos para as últimas semanas foi por água abaixo”, diz.
Já Geraldina de Freitas, gerente da Pousada Volare, destaca que já ocorreram alguns cancelamentos de reservas para o final de ano e que tem sido comum os hóspedes acabarem chegando mais tarde, por conta do trânsito nas estradas que tem feito as viagens de Curitiba até as praias duraram mais que o dobro do normal. “As pessoas chegam irritadas, cansadas. Temos de abrir um sorriso, tentar acalmar. Está bem complicado.”
Apesar dos pesares, expectativa ainda é positiva para depois do Natal
Apesar de todas as dificuldades das últimas semanas, a expectativa de uma boa temporada de verão se mantém. De acordo com Roberta Costa Boikivski. presidente da Associação Comercial e Empresarial de Guaratuba (ACIG) e proprietária de um restaurante na cidade, nos últimos dias já foi possível notar o movimento nas praias começar a crescer. No Hotel Cabana Suíça, inclusive, o supervisor relata que de dois dias para cá voltou a aumentar a procura por reservas.
“Já sentimos esse movimento maior e devemos ter um pico entre os dias 26 de dezembro e 5 de janeiro. Eu acredito que o pessoal deve vir [para as praias no final de ano], a expectativa é de um verão bastante movimentado e já começamos o processo de contratação e preparação para receber os turistas”, diz a presidente da Acig.
“No último final de semana já deu um fluxo alto de gente. Não está com aquela cara dos outros anos ainda, mas quem sabe já fique do próximo fim de semana pra frente”, torce ainda Nathan, destacando que a expectativa ainda é de uma temporada melhor até mesmo do que em 2019, ano pré-pandemia. “Esperamos uma temporada excepcional. Dependemos da temporada para sobreviver, mas vai dar tudo certo.”
Empresários pedem resolução mais rápida dos problemas provocados pelas chuvas nas estradas
Para que as previsões mais otimistas se concretizem, no entanto, empresários do setor de turismo do litoral do Paraná cobram mais rapidez nas obras de reparo e reconstrução das vias de acesso ao municípios litorâneos.
“A gigantesca obra de engorda da orla que exigiu tecnologia e equipes técnicas aconteceu em tempo recorde. Lamentavelmente não podemos falar o mesmo sobre o desmoronamento”, diz Fábio Aguayo, presidente da Feturismo que representa 52 segmentos econômicos do turismo. “Suplicamos a atenção que toda a cadeia merece. É urgente uma atenção preferencial, ou melhor, emergencial”, afirma ainda ele, comentando que quase 300 mil pessoas vivem no litoral e que um milhão de pessoas devem passar o Revéillon nas praias paranaenses.
A cobrança é parecida com a de Adriano Menine Ribeiro, da Acima, que destaca a importância da temporada 2022/2023 para a economia litorânea começar a se recuperar no pós-pandemia. “Ainda não recuperamos o prejuízo [causado pela Covid-19] e agora precisamos de celeridade na resolução do problema. [Precisamos que o Estado tenha] Olhos mais abertos, respostas mais céleres. Estamos aqui, ansiosos pela chegada dos turistas, preparados”, destaca.
No volante
Horas a mais de viagem
Normalmente, uma viagem entre Curitiba e o litoral paranaense leva cerca de uma hora e meia, até duas horas. Por conta do bloqueio nas estradas, contudo, o tempo de viagem mais que dobrou nas últimas semanas, levando entre quatro e oito horas, “Eu levei cinco horas para vir de Curitiba para cá na semana passada. Para subir [a Serra] foi normal, mas na descida pega 8, 10 quilômetros de engarrafamento”, afirma Adriano Menine Ribeiro. “Recebemos pessoas que ficaram até cinco horas na fila. Eu vim de Curitiba semana passada e fiquei presa. Saí 15 horas e chegue 19 horas aqui em Matinhos”, relata ainda Geraldina de Freitas.