
A Prefeitura de Mandirituba, na Região Metropolitana de Curitiba, promoveu na quinta-feira (3) e no sábado (5) eventos especiais em alusão ao Abril Azul, mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Durante o encontro, o pediatra Luiz Henrique Miguel da Costa apresentou a palestra “Visão Geral do Transtorno do Espectro Autista”, abordando o crescimento expressivo dos diagnósticos e os fatores envolvidos, como predisposição genética, impactos ambientais e avanços nos critérios de diagnósticos.
O prefeito Felipe Machado destacou a preocupação da gestão municipal com a ampliação do atendimento às crianças autistas em Mandirituba. Durante o evento, anunciou a abertura de credenciamento para a contratação de mais médicos, incluindo um neuropediatra, para garantir um acompanhamento especializado.
“Toda nossa gestão está empenhada e comprometida em buscar formas de melhorar e reforçar a saúde no município, ampliando investimentos e sempre valorizando as pessoas. Também agradeço o trabalho incansável da Associação das Mães de Autistas, que luta diariamente por melhores condições para nossas crianças”, afirmou o prefeito.
Este evento marca o primeiro de muitos que serão realizados para conscientização sobre o autismo, reforçando o compromisso de Mandirituba com a inclusão, o combate ao preconceito e o apoio às famílias.
Aumento do número de casos ou avanço nos diagnósticos?
Atualmente, 1 em cada 36 crianças é diagnosticada com autismo, um aumento expressivo em relação a décadas passadas.
Segundo o Dr. Luiz Henrique Miguel da Costa, pediatra especializado em autismo, esse crescimento se deve a uma combinação de fatores, como predisposição genética, exposição a agentes ambientais (como pesticidas e poluição), além do uso de álcool e antidepressivos durante a gestação.
No entanto, o especialista destacou também que os avanços nos critérios dos diagnósticos e a maior conscientização da população também contribuíram para a identificação de mais casos, permitindo intervenções precoces e mais eficazes. Além disso, a maior conscientização e a redução do estigma têm incentivado mais pessoas a buscarem avaliações especializadas, explicou o Dr. Luiz Henrique.
Educação Inclusiva: Um Compromisso com o Futuro
O Censo Escolar de 2023 revelou um aumento de 48% no número de alunos autistas em apenas um ano, refletindo uma sociedade mais consciente e preparada para a inclusão. No ensino superior, esse avanço também é significativo, com um crescimento de 500% no número de estudantes autistas matriculados desde 2017.
Em Mandirituba, a Secretaria de Educação tem investido fortemente na inclusão escolar, contando com uma equipe multidisciplinar para oferecer suporte adequado aos alunos com TEA. “Estamos implementando terapias e organizando um concurso público para contratação de profissionais especializados”, destacou a secretária Josselei da Cruz Sendeski.
Além disso, são realizadas avaliações diagnósticas, assistência às famílias, capacitação de professores especializados e disponibilização de salas de recursos multifuncionais para o Atendimento Educacional Especializado.
Compreender e apoiar pessoas no espectro autista é um dever de toda a sociedade. A inclusão começa com a conscientização e se fortalece com políticas públicas que garantam oportunidades e um ambiente acolhedor para todos.
CID- 11 torna o diagnóstico mais inclusivo
A nova classificação do CID-11, implementada gradativamente desde 2 de janeiro de 2025, torna o diagnóstico do autismo mais inclusivo e personalizado. Segundo o Dr. Luiz Henrique, a mudança permite uma avaliação mais detalhada dos aspectos comportamentais, sensoriais e cognitivos de cada indivíduo, garantindo um suporte adequado às suas necessidades.
O diagnóstico é dividido em três níveis (1, 2 e 3), de acordo com o grau de suporte necessário – baixo, substancial ou avançado –, o que possibilita tratamentos mais eficazes. Apesar da importância de uma equipe multidisciplinar no acompanhamento (incluindo médicos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais), o diagnóstico só pode ser feito por um psiquiatra ou neuropediatra.
“A simplificação promovida pelo CID-11 facilita o diagnóstico e melhora o acesso aos serviços de saúde”, destacou o Dr. Luiz Henrique.
Autismo não é uma doença
A Secretária de Saúde de Mandirituba, Ana Elisa Peixoto do Amaral Vilczeki, esclareceu que o autismo não deve ser visto como uma doença, mas sim como uma forma única de perceber e interagir com o mundo. “Cada pessoa no espectro é única, com suas próprias habilidades, desafios e formas de se expressar”, destacou.
Segundo a secretária, o mais importante não é tentar “consertar” ou mudar essas pessoas, mas sim compreender, respeitar e criar um ambiente inclusivo onde todos possam se desenvolver plenamente.
“Ainda há muito preconceito e desinformação sobre o autismo, e nosso papel é promover o conhecimento e a empatia. Precisamos valorizar as diferentes formas de comunicação, aprendizagem e socialização”, reforçou.
Bullying e Autismo: Um Desafio Invisível
Por trás de um xingamento, de um apelido ofensivo ou de uma ação que parece apenas uma “brincadeira” de criança, pode existir um impacto profundo e duradouro.
O psicólogo Jean Sanches alerta que o bullying, também chamado de intimidação sistemática, é “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo, que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidar ou agredir, causando dor e angústia à vítima.”
No caso das crianças autistas, o cenário é ainda mais preocupante. Estudos indicam que uma criança no espectro autista sofre até quatro vezes mais bullying do que as demais. Isso ocorre porque muitas delas apresentam dificuldades na comunicação, na compreensão de regras sociais e na expressão de emoções, tornando-se alvos fáceis de agressões e exclusão.
O bullying contra autistas pode trazer traumas irreversíveis, afetando sua autoestima, seu desenvolvimento emocional e sua qualidade de vida.
Criar um ambiente seguro, promover a empatia e ensinar desde cedo sobre respeito às diferenças são passos fundamentais para combater essa realidade. O evento contou também com a apresentação de Teatro da APAE de Mandirituba, Contação de Histórias com a professora, Marilene Pereira dos Anjos da Luz. No sábado uma mini caminhada de conscientização, brincadeiras e muita diversão para as crianças.