Manifestação 1
Mulheres se reuniram em frente ao Fórum para protestar contra a liberdade do suspeito de estupro contra uma mulher de 25 anos. Foto Flávia Adans

Paranaguá, no litoral do Estado, ficou com a primeira colocação como pior cidade para mulheres no ranking de municípios com mais de 100 mil habitantes. O estudo “Piores Cidades Para Ser Mulher”, produzido pela Tewá 225, analisa 319 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes para medir desigualdades de gênero em áreas fundamentais como desigualdade salarial, presença feminina nas câmaras de vereadores, taxa de jovens mulheres que não estudam nem trabalham e a diferença percentual entre homens e mulheres nessa mesma situação. A análise também considera fatores como raça, biomas, economia regional e outras realidades que moldam as oportunidades disponíveis para as mulheres. O estudo foi divulgado neste mês e traz dados relacionados a 2024.

No Brasil, em consonância com os objetivos da Agenda 2030, e especialmente comprometidos em monitorar os avanços brasileiros, o Instituto Cidades Sustentáveis desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades – Brasil (IDSC- BR), uma ferramenta de monitoramento dos ODS nos 5.570 municípios brasileiros. Criado em parceria com o Sustainable Development Solutions Network (SDSN) e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o IDSC-BR oferece uma visão abrangente e integrada do desempenho das cidades em relação aos 17 ODS. Ele visa guiar a gestão pública local na implementação da Agenda 2030, possibilitando comparações entre cidades e regiões para a tomada de decisões políticas mais informadas.

Dentre os temas que compõem o IDSC, a performance dos municípios brasileiros no que tange o objetivo de “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” é representada pelo Índice do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (Igualdade de Gênero). A Tewá 225, neste estudo, escolheu utilizar este índice específico como base para desenvolver um ranking das piores cidades para ser mulher no Brasil, considerando o reconhecimento consolidado do IDSC-BR e sua aplicabilidade para comparações internacionais. A composição do Índice do ODS 5 considera as seguintes variáveis: taxa de feminicídio a cada 100 mil mulheres; desigualdade salarial por sexo; percentual de mulheres na câmara de vereadores – ciclo legislativo 2020-2024; taxa de jovens mulheres (15 a 24 anos) que não estudam nem trabalham (NENT); e a diferença percentual entre homens e mulheres que não estudam nem trabalham.

MANIFESTAÇÃO

Na tarde de quinta-feira, mulheres se reuniram em frente ao Fórum, no Centro de Paranaguá para protestar contra a liberdade do suspeito de estupro contra uma mulher de 25 anos, em um posto de combustível desativado. O suspeito permanece solto mesmo com áudios e vídeos das câmeras de segurança registrando o ocorrido.

“Estamos aqui em nome de toda a população de Paranaguá, principalmente de mulheres, mas também de muitos homens que ficaram indignados com a soltura do suposto estuprador de uma mulher que aconteceu no posto de combustível. Tem vídeos da câmera de segurança que mostra a mulher sendo arrastada para dentro do espaço onde ela foi estuprada e mesmo assim o indivíduo está solto. Ele não foi preso e foi preciso que o desembargador do Tribunal de Justiça decretasse a prisão preventiva do rapaz”, enfatiza Matsuko Mori Barbosa, vice-presidente do Conselho Municipal da Mulher e Coordenadora Estadual da União Brasileira de Mulheres.

Matsuko lembra o estudo que mostra Paranaguá em destaque de forma negativa. “Segundo uma pesquisa que foi divulgada recentemente, Paranaguá é a pior cidade para as mulheres viverem dentro de um ranking nacional de cidades com mais de 100 mil habitantes. Ela está em primeiro lugar. Nós alertamos o Poder Público Municipal para que fique atento a essa situação. Queremos políticas públicas efetivas de combate ao machismo, ao racismo e a essa cultura do estupro”, frisa. 

O presidente do Conselho Municipal de Saúde, José Dougiva da Silva Costa, participou da manifestação. “Compareci para dar o apoio às mulheres, pois vemos no dia a dia, o massacre que elas sofrendo. Precisamos que as autoridades vejam melhor esses problemas que elas passam e precisam ter mais apoio, não só por parte das autoridades, mas também da sociedade”, avalia.

Vereadores também compareceram ao manifesto. O vereador Marcelo Peke citou o estudo divulgado recentemente e reforçou a importância da igualdade de gênero e se comprometeu a levar à Câmara Municipal projetos de lei que beneficiem as mulheres parnanguaras. “Temos que mudar essa realidade na cidade e ser o pior município para mulheres e como vereador, também estamos estudando projetos para levar para os amigos vereadores e tenho certeza que brigarão junto comigo para mudar essa realidade”, afirma.

A vereadora Tenile Xavier lamentou os dados apresentados no estudo. “São muitos casos, são muitas situações. Paranaguá sendo vista como uma das piores para as mulheres é um dado muito triste. Enquanto existe ainda uma mulher sofrendo qualquer tipo de violência, seja ela física, verbal, patrimonial, seja qual for o tipo de violência, precisamos estar aqui em defesa de todas as mulheres para que elas tenham os seus direitos garantidos e para acabar de vez com toda essa violência, essa questão cultural de que sofremos violência só por sermos mulheres. Precisamos trabalhar muito ainda”, enfatiza. Tenile citou que muitas conquistas ocorreram na cidade nos últimos anos como a Casa da Mulher Brasileira, a Secretaria Municipal da Mulher, entre outras conquistas, mas reforça que há ainda muito a se trabalhar.