
A cerca de 30 quilômetros de Curitiba, distante a poucos minutos da Capital, encontra-se um verdadeiro paraíso. Trata-se do Observatório Ornitológico Nascentes do Iguaçu, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) que fica no Recreio da Serra, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O local, que reúne 18 imóveis numa área total de 14 hectares, é um exemplo não só de conservação, mas também de conscientização. Um lugar privilegiado, especialmente, para aqueles que gostam de observar aves, com centenas de espécies (entre 400 e 500) que podem ser vistas e ouvidas por ali.
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Criadores do espaço, Carlos e Elisabeth Soares são proprietários, desde 1993, de uma casa de lazer no Recreio da Serra. No início dos anos 2000, no entanto, começaram a praticar observação de aves (birdwatching) no local. A partir disso, começaram a se conscientizar mais e mais sobre a importância da conservação da natureza. E por volta de 2010, notando a crescente expansão imobiliária em regiões mais acessíveis e valorizadas do loteamento residencial, resolveram dar início ao projeto que acabou dando vida ao Observatório Ornitológico Nascentes do Iguaçu, que desde 2022 é uma Reserva Particular (RPPN).
“Tudo começou em 2010, fazendo um estudo aqui no Receio da Serra, nos finais de ruas que tinham floresta mais preserva. Dali em diante, fizemos uma pesquisa em cartórios, Prefeitura, e identificamos quem eram os proprietários. Reunimos eles, fizéramos uma proposta, até considerando que muitos já tinham restrição para construção, e aí o projeto se iniciou”, relata Carlos, que é auditor aposentado dos Correios. “De início, compramos sete imóveis. Em 2022 já chegamos a 18 terrenos, e temos um projeto de ampliação já em andamento. Vamos para 23 terrenos, ampliando a reserva para 16 hectares”, comenta ainda ele.
Desde a aquisição das propriedades, fez-se muita coisa. A casa que fica no local, por exemplo, estava devastada e passou por restauração. Espécies exóticas, como pinus, acabaram retiradas da área, dando espaço para a plantação de espécies nativas – entre elas, muitos pinheiro-do-Paraná (araucária). E esse esforço, aliado ao fato do Observatório estar numa área de transição, entre Mata Atlântica, mata nebular e floresta mista, garante uma riqueza animal única ao espaço.
A riqueza da avifauna do Observatório
Um estudo do ornitólogo Fernando Costa Straube, por exemplo, identificou mais de 400 espécies de pássaros na região. Dessas, cerca de 300 já foram vistas ou ouvidas, e todo ano uma, duas ou até três espécies novas aparecem. Além disso, há muitos outros animais que habitam a área do Observatório.
“Nós temos câmeras de trilha e a gente tem visto muita coisa, né? Cutia, cachorro do mato, graxaim, pumas… Até cachorro-vinagre já foi visto aqui, que é uma espécie ameaçada, raríssima. Tem macacos aqui também, macaco-prego, bugio-ruivo, quatis, veados…”, afirma Carlos. Ele cita que , em dias com tempo bom, entre 20 e 25 espécies podem ser vistas na área, próximo aos comedouros.
“Temos aqui uma riqueza muito grande de aves. São centenas de espécies, algumas delas endêmicas, como o corocoxó, que você só vai encontrar na Mata Atlântica de altitude do Sudeste e do Sul do Brasil. Mas agora, quantidade de espécies, tem todas as espécies possíveis e imagináveis, inclusive de aves ameaçadas de extinção, aves raras”, explica Straube, destacando ainda a importância do projeto do Observatório.
“É uma iniciativa fundamental, e não só só pelo sentido da conservação, mas também pelo sentido de conscientizar as pessoas que visitam, para elas entenderem o quanto é importante [preservar a natureza]. Porque às vezes só falta um empurrãozinho para que a pessoa sinta que a natureza, não só que ela é importante, mas sim que ela faz parte da gente e que a gente precisa encontrar isso em algum momento da vida. O Carlos favorece esse tipo de nascimento, que seria um renascimento com relação à ligação nossa com a natureza.”
Passarinhar, trilhar e mais
Para conhecer o Observatório, é necessário agendar uma visita. E aí são algumas opções. A visita básica, por exemplo, dura cerca de duas horas, período no qual o visitante pode observar os pássaros na área e visitar a torre com cerca de 13 metros que fica no espaço. Há ainda uma visita mais longa para ‘passarinhas’, que dura quatro horas, e a opção de day-use, com duração de 10 horas. “O intuito principal é conscientizar e sensibilizar as pessoas”, aponta Carlos, citando ainda que também há pacotes de hospedagem para quem queira passar pelo menos três dias na propriedade.
O local também oferta um passeio virtual de drone, com o visitante vestindo um óculos para sobrevoar a cordilheira com um drone em dias com tempo mais aberto. Além disso, há três trilhas a se explorar no espaço: a dos Xaxins, a Trilha da Nascente do Iguaçu e a Trilha da Cordilheira, que leva até um mirante natural de onde é possível avistar a planície litorânea, a Serra do Mar e Curitiba e acompanhar o pôr do Sol.
Para conhecer mais, basta seguir o Observatório nas redes sociais (@observatorioornitologico) ou acessar o site do espaço (www.observatorioornitologico.com.br), que é bilíngue (inglês e português). Já quem se interessar em visitar o local pode entrar em contato via WhatsApp, através do número (41) 99708-5514.
Observação de pássaros, uma atividade em alta
A observação de pássaros é uma atividade em crescimento no Brasil. Como exemplo disso, Fernando Straube cita que todos os anos, no mês de maio, é realizado um encontro em São Paulo. Na primeira edição, em 2006, 40 pessoas participaram. Já na edição mais recente, dois meses atrás, mais de 15 mil pessoas estiveram no evento, no Jardim Botânico de São Paulo.
“Estamos tendo um aumento vertiginoso de pessoas se interessando pela natureza, e por um canal que é realmente uma forma de se conhecer, se conectar com a natureza”, celebra o ornitólogo, explicando que a observação de aves anda junto com a proteção da natureza. “Se você quer observar, tem que manter os animais. E se você quer manter esses animais, você tem que preservar a floresta, o ambiente natural. Tudo vem em cadeia. E o observador de aves é um cara que anda na floresta e não vai cometer crime, não vai fazer sujar, porque não interessa a ele. Ele simplesmente vai caminhar, observar, tirar fotografia. É um turismo limpo”, aponta Straube.
E o melhor de tudo: quem quer começar na prática não precisa sequer gastar para dar os primeiros passos. “Temos pessoas que gostam de fotografia, então elas gostam de fotografar, elas vão comprando equipamento, vão fotografando, vão melhorando suas fotos, melhorando seu equipamento. Mas tem outras pessoas que só gostam de olhar e também são observadores de aves. Tem pessoas que gostam de olhar sem conhecer quais são os pássaros que eles estão olhando, e também são observadores de aves. A pessoa, se ela estiver apreciando, se ela estiver gostando do que ela está vendo, mesmo que ela não queira conhecer, ela é um observador de aves”.