Mãe, solteira, trabalhadora: um perfil de sacrifícios e amor

Na última década do século passado, o número de mulheres que tiveram os filhos sozinhas saltou quase 60% no País

Rodolfo Luis Kowalski - especial para o Bem Paraná

Ser mãe é uma dádiva. Na mitologia nativa norte-americana, a Mãe Terra e a Vovó Lua são quem dão à humanidade um legado de amor, perdão e compaixão. Na bíblia, é a juíza Débora, uma mãe em Israel, quem lidera a nação contra o domínio estrangeiro, na luta pela identidade, a liberdade e a unidade do povo. São as mulheres as filhas de Maria e é o amor delas pelos filhos um dos mais perfeitos, um dos mais puros. Mas toda essa sacralidade exige renúncia, sacrifício. Especialmente se a mulher tem de criar a criança sem a ajuda de um pai.

Entre os anos 1990 e o começo dos anos 2000, o número de mães solteiras no Brasil cresceu 58,8%. Hoje, uma em cada três mães brasileiras criam seus filhos sozinhas. Mas as obrigações fora de casa também cresceram, com o sexo frágil tomando conta do mercado de trabalho. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a participação das mulheres no mercado de trabalho chega a 59,60%. Destas, 93,6% exercem ainda os afazeres domésticos — entre os homens, apenas 51,2% dos que trabalham fora também ajudam nos afazeres de casa. Junto com as tarefas e as cobranças, a imaturidade. No Brasil, uma em cada cinco crianças nascidas vivas em 2010 eram filhas de adolescentes. 
Quando tinha apenas 19 anos, Ana Carolina se viu sozinha e com um filho. O pai da criança, um conquistador nato (galinha, nas palavras da ex-namorada), foi embora de Curitiba e nem a pensão — R$ 450 por mês — ele paga. Afinal, o filho não é dele, mas dela. A sociedade ainda coloca como se a mulher quisesse, através da gravidez, se apossar do homem. Só a mulher é responsabilizada e o homem, como não se vê responsabilizado, abdica, explica a psicóloga Fabíola Kaminski Treuk.

Ser mãe solteira é uma tarefa quase hercúlea. A sociedade exige que a mulher seja 100% mãe, 100% profissional. Ela tem de ser a mãe, o pai e a profissional. A fadiga física e emocional é muito maior. Vem a sobrecarga de tarefas e a pressão, que as vezes é grande demais.
No caso de Ana, os problemas começaram pela decepção amorosa. A jovem, que já sofria de bipolaridade, entrou em depressão. O caso se agravou para transtorno de personalidade e Ana precisou ser internada. A gente cria ilusões, acha que vai ter sua casa, que vai ter um marido e um filho, tudo o que sempre imaginou. Isso me afetou de uma forma muito profunda, conta.

Sozinha, a mãe acabou sobrecarregada. Eu sentia que eu estava perdida, achava que tomar conta do meu filho era demais porque eu estava perdendo toda a minha juventude. Não podia mais sair com os amigos, ter a minha liberdade, e achei que não era justo essa divisão de 99% para mim e para ele (o pai) bastava uma ligação para o filho e estava tudo certo.
Mesmo após superar a separação e se recuperar, os problemas persistem. Começou na faculdade. Ana cursava Geologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR). O curso, que deveria durar cinco anos, acabou durando sete. Após se formar, a dificuldade em encontrar um emprego. Por causa da minha profissão, muitas das oportunidades que surgiram eram fora de Curitiba. Eu precisava do pai ajudando para cuidar do meu filho, mas como não tinha, tive de recusar, conta.