A aproximação entre universidades, escolas e comunidades ganha destaque com o ‘Manna’, uma das maiores redes brasileiras de inovação, pesquisa e ensino de tecnologia. Com sede no Paraná, o programa sai das universidades, com apoio de fundos de pesquisa, e chega a todo Brasil. Ele envolve cinco mil cientistas e professores que levam inovação tecnológica a 36 mil estudantes de escolas públicas. O trabalho já atingiu mais de 50 mil pessoas em eventos de popularização da ciência e segue transformando futuros.
A Educação 5.0 integra tecnologia, competências sociais, sustentabilidade, inclusão e inovação. Ela é usada para capacitar profissionais e formar jovens inventores, com soluções que envolvem tecnologias exponenciais disruptivas, isto é, que têm grande poder de mudança, inovação e impacto social.
Entre elas, Internet das Coisas (interconexão de objetos físicos à internet), Internet dos Drones (interconexão de drones à internet), Internet das Coisas Robóticas (interconexão de robôs à internet), Inteligência Artificial (IA), Computação Quântica (usa as leis da mecânica quântica para resolver problemas complexos) e Supercomputação (alto poder de processamento de dados e interconectividade).
Conceitos complexos da academia são transformados em Bootcamps, cursos práticos, rápidos e empolgantes, nos quais os participantes desenvolvem habilidades tecnológicas. “Eles aprendem fazendo, experimentando e divulgando”, diz a fundadora Linnyer Ruiz, doutora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ela explica que Manna significa ‘O que é isso’ em hebraico.
Os professores recebem capacitação semanal e kits personalizados, resultado de pesquisas de bolsistas de iniciação científica do Ensino Médio, Graduação e Pós-Graduação da Educação Pública, apoiados por recursos dos governos federal e estadual. Eles formam o Manna Team.
“Nós, de Exatas, não tivemos contato com Pedagogia em nossa formação, então também aprendemos com estes professores, que nos mostram como é necessária a aproximação da academia com a escola pública. Este diálogo constrói alunos que sonham com a universidade e a transformam.”
Linnyer conta que a tecnologia é usada na produção coletiva e na construção de autoestima digital. “Estamos entre os que mais publicam sobre internet dos drones no mundo, e sobre jogos e metaverso (universo virtual) no Brasil. Entregamos ao mercado plataforma de hardware, próteses biônicas, jogos, inteligência artificial, microeletrônica, com pesquisadores de excelente nível, de alta performance, reconhecidos, que se doam para inspirar e transformar destinos.”
A cientista, natural de Cianorte (PR), recebeu recentemente o título de primeira mulher pesquisadora nível A na área de Microeletrônica do Brasil, o mais alto nível atribuído a um cientista. Doutora em Ciência da Computação, ela escolheu ser cientista aos 4 anos, inspirada por buscar a cachorra Laika, enviada ao espaço em 1957. “Fui estudar, ganhei prêmios e voltei pra contar às crianças que elas podem ser o que quiserem.”
A afirmação é reforçada nas aulas do Manna Academy, Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (Napi) do Paraná, com investimentos de R$ 2 milhões da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Fundação Araucária. “Colocamos o Paraná em evidência, com a melhor estratégia para popularização da ciência, com foco no pensamento computacional, mas também na formação integral do aluno, tirando crianças e jovens da vulnerabilidade social”, diz o secretário Aldo Bona, da Seti, ressaltando outros programas paranaenses de destaque na área, como o Napi Paraná Faz Ciência e as Carretas da Inovação.
Criado no ano 2000, o Manna chega a 133 municípios brasileiros e 23 estados, 69 universidades, 301 escolas públicas e 15 instituições sociais. No Paraná, são 30 cidades, 15 universidades, 148 escolas públicas e seis instituições.
Fátima Padoan, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Fundação Araucária, enfatiza que estes investimentos em tecnologia e formação de talentos aliam pesquisas de excelência, inovação e impacto social, com inclusão feminina. “O Napi Manna amplia o acesso e desperta interesse em meninas e jovens mulheres, promovendo a equidade de gênero e oferecendo oportunidades concretas, nas quais elas têm se destacado. Isso rompe barreiras históricas e constrói um futuro diverso e representativo na ciência.”
Ciência da Escola para a vida
O apoio financeiro, que também vem do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, permite o desenvolvimento de grupos de robótica (Manna Robotic). Um deles, o Manna Roosters, está no Colégio Estadual Cláudio Morelli, em Curitiba, e já ganhou diversos campeonatos nacionais e internacionais, como na First Robotics Competition (FRC), na qual era a única equipe de escola pública. O time, formado por sete garotas e quatro garotos, de 15 a 17 anos, destaca-se nas Olimpíadas Brasileiras de Robótica e participa do Salão de Robótica, com batalhas de robôs. “Fazemos robôs com excelência, poucos recursos e resultados relevantes”, afirma o professor Thadeu Miqueletto, do Manna Team.
Além das competições, os alunos fazem projetos de iniciação científica, resultando em inovações, como a criação de um filtro de microplástico. Participam 90 estudantes, incluindo autistas e deficientes visuais, muitos encaminhados para estágios e empregos. Eles também realizam eventos científicos para crianças e comunidade. “Trabalhamos como uma empresa e cada um tem seu cargo e responsabilidades. Assim, desenvolvemos também projetos sociais”, conta Thadeu.
O viés social da robótica chega a aldeias indígenas e parceiros, como a Associação Rainha da Paz, em Cianorte, que atende 550 jovens em vulnerabilidade social. “O Manna é transformador, com histórias inspiradoras, mostra que a tecnologia é uma ponte que leva crianças e adolescentes a realizarem sonhos e transformarem o mundo”, enfatiza Thais Pinheiro, bolsista da Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), do Manna Team na instituição.
Uma destas histórias é da Mariana Santos, de 13 anos. Ela conheceu o Manna na Rainha da Paz, há dois anos, num curso sobre internet de drones. “Eu sofria muito bullying na escola e tinha crises constantes de ansiedade. Só consegui passar por isso por causa do Manna. Tudo me impulsionou, fazendo eu descobrir altas habilidades e criar projetos pra ajudar outras pessoas no meu colégio.”
A jovem conta que queria ser veterinária, mas depois do Manna decidiu estudar Biologia Molecular. “Conhecer cientistas de verdade, ouvir o testemunho da Linnyer, como mulher na ciência, me fez perceber que este é o meu lugar.”
A inclusão feminina também inspirou Verônica Kitamura, que conheceu o Manna em 2023, no Colégio Estadual Gastão Vidigal, em Maringá. “As palestras da Linnyer me encorajaram e o Manna me ensinou que a área da tecnologia é muito mais abrangente e motivadora, me incentivando muito”, diz ela, hoje com 17 anos e cursando Ciência da Computação na UEM.
A professora Beatriz Almeida leva o Manna à Casa Lar Sagrada Família, em Cidade Gaúcha (PR), para crianças de 5 a 9 anos, em risco social. “Com as aulas eu sempre consigo tirar um sorriso deles, que trocam o olhar perdido por um brilho especial. Trabalhamos felicidade, organização, responsabilidade, respeito, gratidão. Nas aulas de inovação, inventaram celulares com carregamento solar. Quando eles colocam os coletes é como se houvesse mesmo uma transformação, é uma identidade pra eles, que se sentem verdadeiros cientistas.”
O impacto desta teia de pesquisa, ensino e humanização da ciência chegou ao professor Eliel Machado, do Colégio Estadual Luiz Zanchim, em Sarandi, em 2002. “Estava totalmente sem expectativas, pensava em parar com as aulas e voltar a ser pedreiro, mas depois do Manna encontrei meu lugar, e minha carreira decolou.”
Ele voltou a estudar, fez pós-graduação em Desenvolvimento de Sistemas, conquistou prêmios e um cargo na Unicesumar, onde dá aulas de TI. Aos 32 anos, integra o Manna Team e diz que se tornou uma pessoa melhor, “pois quem está no Manna educa por amor e tem as vidas transformadas”.
Os professores de escolas públicas que desejam integrar o Manna Team devem se inscrever via edital, no site https://manna.team/. Ele prevê bolsas de extensão, apoio técnico e iniciação científica.
“Pessoas exponenciais são as que fazem a diferença, que trazem novidade, disrupção e contribuição pras suas comunidades. Mas pra isso precisam treinar a mente, o pensamento, pois é uma maneira de pensar”, conclui Linnyer, apontando a busca pela formação integral do aluno, que tem até aulas de Felicidade.
MANNA BR 2023/2025
23 ESTADOS
133 CIDADES
69 UNIVERSIDADES
301 ESCOLAS PÚBLICAS
15 INSTITUIÇÕES PARCEIRAS
56 DOUTORES
42 MESTRES
54 BOLSISTAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
40% MULHERES
67 PUBLICAÇÕES
36 MIL ESTUDANTES
5 MIL PROFESSORES PARTICIPANTES
104 CAPACITAÇÕES E FORMAÇÃO
67 EVENTOS DE POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA
23 PRÊMIOS E DISTINÇÕES
91 MIL PESSOAS IMPACTADAS
Fonte: Manna BR