Paraná

“Mau-humor” curitibano tem justificativa; clima chuvoso pode influenciar sono e saúde mental

Alana Morzelli
nublado

Domingo e segunda devem ter céu nublado na Capital (Foto: Franklin de Freitas/Arquivo Bem Paraná)

A falta de exposição à luz solar pode afetar a produção de neurotransmissores ligados ao humor e ao sono, resultando em alterações emocionais em muitas pessoas. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS) é um tipo de depressão mais comum no outono e inverno, especialmente em regiões distantes da linha do Equador, onde os dias frios e nublados são mais longos.

Clima no Paraná

Os dados do Simepar mostram como a variação climática influencia o estado. Entre 1º de janeiro e 3 de setembro de 2025, Curitiba registrou 97 dias de chuva. No mesmo período, Pinhão teve 105 dias chuvosos, Telêmaco Borba 100 e Antonina chegou a 131. Já no Noroeste, os números foram bem menores: Londrina teve 77 dias de chuva, Maringá 74 e Paranavaí 76.

As temperaturas também variam bastante. Curitiba teve 55 dias abaixo de 10°C, Guarapuava 60 e Palmas 81. Em Maringá, foram apenas 15 dias.

Segundo Marco Jusevicius, coordenador de operações do Simepar, isso explica porque os sintomas de TAS tendem a ser mais relatados no Sul e no Litoral do Paraná. “No Norte do Estado é raro ter quatro dias seguidos de tempo fechado. Já em Curitiba ou no Litoral, períodos longos de chuva e frio são mais comuns”, afirma.

Impactos na saúde mental

De acordo com a psicóloga Izabela Neves Freitas, especialista em luto e depressão, a baixa exposição ao sol altera os ritmos circadianos (funções biológicas reguladas pela luz do dia) e provoca desequilíbrio nos neurotransmissores.

“Percebo no atendimento clínico que, em períodos mais chuvosos, aumenta a procura por consultas online e muitos pacientes relatam queda na qualidade emocional”, explica. “A tristeza do inverno pode ser comparada à preguiça. Já o TAS é a intensidade de não conseguir realizar as atividades básicas do dia a dia”.

Além dos sintomas emocionais, o transtorno pode estar ligado à deficiência de vitamina D, que também prejudica a absorção de outras vitaminas, como C e B12.

Sono e prevenção

Manter a regularidade do sono é essencial para prevenir os efeitos do TAS. “Precisamos ensinar o hábito ao cérebro. Quem trabalha à noite, por exemplo, deve procurar receber luz solar pela manhã, mesmo sem ter dormido, e garantir um ambiente escuro e horas regulares de sono ao deitar”, recomenda Izabela.

Ela lembra que, em dias cinzentos, o corpo tende a dormir mais, mas isso pode desregular ainda mais o ciclo circadiano, especialmente em crianças e adolescentes que passam mais tempo em frente às telas.

Estratégias para o bem-estar

Segundo a psicóloga, é importante adotar hábitos que ajudem a compensar os impactos do clima:

“Nem tudo é como queremos, como a cor do céu ou a temperatura. O que escolhemos deve ser bom para nós. O que não podemos escolher, precisamos aprender a lidar”, conclui.