Você já ouviu falar em varejo de proximidade? Esse novo conceito está sendo utilizado para definir os chamados “mercadinhos de condomínio”, e vem ganhando espaço no mercado imobiliário e no dia a dia dos moradores.
Seja em prédios com totens autônomos de compras rápidas ou em condomínios horizontais com lojas e conveniências internas, a tendência não só facilita a vida dos residentes como também abre espaço para novos modelos de negócio, que acompanha a demanda atual.
O mercado condominial brasileiro vive um momento de forte expansão. Em apenas oito anos, o número de condomínios saltou de cerca de 420 mil em 2016 para mais de 520 mil em 2024, um crescimento de 23,8%, segundo levantamento do Instituto Nacional de Condomínios e Apoio aos Condôminos (INCC).
De acordo com o último censo do IBGE, realizado em 2022, o país contabiliza 13,3 milhões de endereços em arranjos condominiais, sendo que mais de 25 milhões de brasileiros residem em apartamentos, o que representa 12,5% da população, com forte concentração no Sudeste.
Esse crescimento abriu espaço para novos modelos de negócios dentro dos condomínios, como os chamados honest markets. Nesses mercados autônomos, a honestidade do cliente é a base do funcionamento: ele entra na loja, escolhe os produtos que deseja e realiza o pagamento sozinho, por meio de aplicativo, totens ou máquinas de cartão, sem o auxílio de atendentes.
A tendência tem ganhado espaço como solução prática para a rotina dos moradores, ao mesmo tempo em que impulsiona empresas que oferecem soluções específicas para o mercado condominial. Também vão se tornando um item nas plantas e projetos de novos empreendimentos em Curitiba.
Embora o modelo seja bem recebido, ainda existem desafios. Os preços podem ser mais altos do que nos supermercados tradicionais, e o sistema de autosserviço depende da adesão tecnológica dos moradores. Para comerciantes e startups do setor, no entanto, o potencial de expansão continua promissor: é a conveniência que, cada vez mais, cabe no elevador ou no portão.
Comodidade e segurança, principalmente à noite e na madrugada
Joana Alencar é estudante e mora em um condomínio que tem esse modelo de mercado, ela conta que utiliza o mercado do seu condomínio pelo menos duas vezes por semana, especialmente quando surge alguma necessidade.
“Bebidas e chocolates são o que mais compro, e já deixei de ir ao supermercado por conta do mercadinho do condomínio. Sei que os preços são mais altos, mas a praticidade compensa, principalmente à noite, quando não preciso sair de casa. É muito mais seguro e ágil”, afirma.
Ela ressalta ainda a importância do modelo para mulheres: “Esse tipo de local facilita muito, porque não precisamos sair sozinhas à noite para fazer compras.”
Apesar da praticidade, Joana reconhece que os mercados de condomínio ainda têm limitações. “Eles ainda não conseguem suprir tudo que um supermercado convencional oferece. Faltam variedade e espaço, principalmente para carnes, frios e hortifrúti. Por isso, ainda é necessário ir ao mercado tradicional para compras maiores”.
De olho nesse comportamento, construtoras já passaram a investir em espaços planejados para receber os mercados autônomos nos novos empreendimentos. Hoje, os condomínios horizontais também estão absorvendo essa ideia e abrindo lojas, conveniências e mercados para atender uma demanda dos moradores dos condomínios.
“A construtora Andrade Ribeiro, por exemplo, está antenada com a demanda e necessidades de mercado. No entanto, privilegiamos a vontade comum dos condôminos. Afinal, são eles que decidem se no espaço haverá disponibilidade para esse formato de operação”, explica Ana Paula Zoller Ribeiro, sócia-proprietária do Grupo Andrade Ribeiro.
Para Ana Zoller, a mudança também reflete um comportamento herdado da pandemia. “As pessoas passaram a ficar mais em casa, buscar mais espaço e, ao mesmo tempo, valorizar a comodidade de comprar sem precisar sair de carro. Essa conveniência se consolidou”.
Outro ponto que favorece o avanço dos minimercados é a localização dos novos empreendimentos. “Muitos condomínios horizontais estão em áreas mais afastadas, com menor oferta de comércio. É uma oportunidade excelente, porque a expectativa é que os empreendimentos movimentem centenas de pessoas diariamente”, completa.
Nicole Salomón sob supervisão de Mario Akira