ESCOLA DE  TATUAGEM
O tatuador e professor Daniel Ribeiro: testemunha da “explosão” do mundo das tatuagens (Foto: Franklin de Freitas)

Depois de quebrar barreiras e superar preconceitos ao longo das últimas décadas, o mercado das tatuagens segue em franca expansão no Brasil. Prova disso é uma pesquisa do instituto alemão Dalia, a qual apontou que cerca de 37% da população brasileira possui ao menos uma tatuagem. Isso coloca o país no 9º lugar entre as nações que mais possuem tatuados. E no Paraná (especialmente em Curitiba), esse crescimento se reflete também na quantidade de estabelecimentos de tatuagem e body piercing que vemos pelas ruas.

De acordo com o painel Mapa de Empresas, uma ferramenta do governo federal, em todo o país há atualmente quase 33 mil empresas ativas (32.928, mais precisamente) trabalhando com serviços de tatuagem e colocação de piercing. São Paulo, com 10.701 estúdios, é o líder do ranking nacional. Na sequência aparecem Minas Gerais (3.714), Rio de Janeiro (3.522) e Rio Grande do Sul (2.500). O Paraná, por sua vez, vem na sequência, em quinto lugar, com 2.493 empresas ativas no mercado das tattoos e dos piercings. Isso representa um avanço de 10,1% em relação a 2023, quando 2.264 pessoas jurídicas atuavam nesse segmento.

Curitiba, como seria de se esperar, é o município que concentra a maior parte dos estúdios paranaenses. São 758 (o equivalente a 30,4% do total), com um avanço de 10,3% em dois anos. Na sequência aparecem os municípios de Londrina (142), Maringá (104), São José dos Pinhais (96), Ponta Grossa (85), Cascavel (81), Foz do Iguaçu (78), Colombo (53), Guarapuava (44) e Pinhais (41).

“O mercado de tatuagens cresceu muito”

Daniel Ribeiro, de 42 anos, trabalha como tatuador desde 2009 e desde 2020 é também proprietário da New School Cursos, uma escola para aqueles que querem trabalhar tanto no mercado das tatuagens como no mercado de piercings. E ao longo de 16 anos de caminhada, ele testemunhou o que define como uma “verdadeira explosão”, que aconteceu principalmente a partir de meados da década passada.

“O mercado das tatuagens cresceu muito. Nos anos 1990, quando eu era adolescente, haviam sete, oito bons tatuadores na cidade. Hoje, já temos aí mil, dois mil tatuadores ótimos na cidade. Antes, se você entrava num estúdio e não concordava com o valor do cara ou com o atendimento dele, você tinha que dar um rolezão pelo Centro até achar um outro estúdio de um bom tatuador. Hoje tem bons tatuadores em cada esquina. Em cada galeria, cada prédio, tem três, quatro bons tatuadores trabalhando. Eu mesmo formo tatuador todo mês. E não é só eu, tem outras escolas também e muita gente aprendendo com os próprios tatuadores”, afirma.

Segundo Ribeiro, a “explosão” no mercado das tattoos ocorreu principalmente a partir de 2016, com o segmento se favorecendo primeiro da crise financeira que se instalou no país a partir de 2014 e depois ganhando um novo fôlego com a pandemia de Covid-19. “As pessoas começaram a se interessar por esses mercados alternativos, como o da barbearia e da cutelaria, além da própria tatuagem. São alternativas diferentes para ganhar uma grana, ter uma profissão. E foi também nessa época, a partir de 2016, que começou a aparecer programa de TV como o Ink Master, que foi uma espécie de Masterchef de tatuagem.”

ESCOLA DE  TATUAGEM
“Todo mundo quer virar tatuador”, afirma Daniel Ribeiro, da New School Cursos (Foto: Franklin de Freitas)

Invasão feminina e constante renovação e inovação

Na esteira dessa expansão do mercado das tattoos também ocorreu um processo curioso. É que antes existia uma espécie de perfil de tatuador, que envolvia aquele estereótipo do cara bruto, tatuado, cabeludo e fã de metal. Hoje, porém, não é mais assim, assinala Ribeiro. “O nerdzinho de óculos também tatua. Mulheres mais velhas vem fazer tatuagem, trazem o filho para tatuar. Tem gente de todo tipo, de todos os estilos, todas as culturas, subculturas e tribos urbanas. Todo mundo se interessa por tatoo, desde a patricinha ao nerd e passando pelo metaleiro, skatista… Todo mundo quer virar tatuador.”

E com todo mundo querendo virar tatuador, as mulheres também começaram a tomar conta do pedaço. “Nesses últimos cinco anos dando aula eu realmente vi as mulheres tomarem conta do mercado da tatuagem, e tem muita mulher tatuando muito bem, arrebentando mesmo”, comenta ainda o tatuador e empresário, destacando que não consegue ver um limite para o crescimento do mercado de tatuagens.

“É uma coisa que está sempre se renovando. Eu mesmo tive que me renovar, criar outras alternativas para crescer na minha profissão. Hoje tem gente que ganha dinheiro falando sobre tatuagem na internet, são influencer de tatuagem. É uma nova forma de se renovar na profissão, então tem ainda espaço pra crescer mais, para evoluir, para ir pra algum lugar. O mercado das tattoos não vai estagnar. A tatuagem nunca estagnou e é uma das culturas mais antigas do mundo, que rompeu com o conservadorismo, a opressão, o moralismo. Ela vai rompendo barreiras”, aponta Ribeiro.

Escola para tatuadores comemora cinco anos de vida

A New School Cursos, localizada no Centro de Curitiba (Rua Barão do Serro Azul, 331), foi fundada há cinco anos, tendo iniciado suas atividades cerca de dois meses antes da pandemia de Covid-19 começar a afetar o Brasil de maneira mais significativa. O curioso, no entanto, é que a crise sanitária, de certa forma, acabou ajudando a movimentar mais a escola.

“Muita gente perdeu o emprego na pandemia, e a galera que saía do trabalho pegava o acerto e procurava escolas que estavam ‘abertas’. A gente começou a atender com limitações, mas estávamos funcionando e eu tinha muita procura, porque todo mundo fechou, a galera perdeu o emprego, quem perdeu o emprego pegava o acerto e ia investir no sonho. E eu era uma das únicas escolas que estava atendendo, pronta a realizar o sonho da galera, que era virar tatuador”, relata Daniel Ribeiro.

Hoje, todos os meses novos tatuadores são formados na escola, que oferece vários módulos de ensino. O curso básico, por exemplo, é para quem nunca tatuou e vai começar a aprender a arte. Mas também é possível fazer um curso ou workshop para se especializar numa área específica, como New School, Old School, Realismo ou desenho japonês. E o mais curioso: não é absolutamente necessário saber desenhar para começar a tatuar, embora ter essa habilidade possa ser um importante diferencial.

“O cara tem uma vantagem a mais quando ele sabe desenhar. Quando ele não sabe desenhar, ele aprende a tatuar. Então a tatuagem, a gente chama de decalque, mas é um mapa. Você cola um mapa roxo e vai tatuar por cima. Então o cara precisa saber como que faz a sombra com máquina de tattoo, como que pinta com máquina de tattoo na pele de uma pessoa. Ele não necessariamente tem obrigação de saber criar um desenho. Se o cara for um exímio copiador, ele consegue se virar na tattoo. Porém, saber desenhar é aquela coisa: se eu crio desenhos exclusivos, sou um tatuador de desenhos exclusivos. É uma coisa mais autoral, e a pessoa vai procurar ele por isso. Ele tem vantagem no mundo da tattoo”, explica Ribeiro.