
O Mercado Municipal de Curitiba está comemorando 65 anos de existência nesta quarta-feira (2 de agosto).
Inaugurado em 1958, quando ainda era chamado de Super Mercado Municipal, o espaço foi pensado como uma solução para os problemas de abastecimento que afligiam a capital paranaense de então. Décadas depois, passou por mudanças e modernizações e, especialmente após uma reforma feita nos anos 2000, virou uma parada obrigatória para turistas que desejam conhecer Curitiba em sua essência e ponto de encontro de curitibanos que buscam variedade e qualidade de produtos.
Hoje, são 16,8 mil metros quadrados que reúnem 362 unidades comerciais, entre boxes e bancas, comandados por quase 200 comerciantes, que vendem mais de 72 mil itens entre hortifrúti, lojas de roupas, bebidas, artesanatos e presentes.
Houve um tempo, no entanto, em que poucas bancas funcionavam no local, recorda Elci Cardoso Vieira, a dona Sissi, cuja família é proprietária de uma banca no Mercado Municipal (Banca do Osvaldo), além de ter também uma loja no espaço (Sissi Cereais e Especiarias). “Minha mãe costumava dizer que não lembrava se eu vinha engatinhando no Mercado Municipal ou no colo do meu pai, mas eu já estava com eles. Isso faz 64 anos”, comenta ela, recordando emocionadamente da mãe, a Dona Elza, que faleceu há cerca de duas semanas, aos 91 anos.
“Eu era muito pequena no início, mas lembro que tinha só quatro ou cinco banquinhas. Depois foi aumentando, aumentando, e aumentou assim uma época que você não tem ideia. Sabe esses carrinhos de carregar do CEASA? Aquilo não parava de passar aqui, porque a gente vendia para pequenos comércios, pequenos supermercados, restaurantes… Estabelecimentos de bairro e do próprio Centro, que vinham com caminhão para comprar as coisas aqui”, recorda, comentando que no início quem comprava em maior escala ainda vinha com carrocinhas buscar os produtos e que só depois começaram a aparecer os caminhões e caminhonetes.
Também estiveram sempre presentes no Mercado Municipal desde o seu início as famílias curitibanas, uma tradição que se mantém até hoje. “Porque se você quisesse alguma coisa mais fresca, uma coisa assim, de uma qualidade melhor, você tinha que vir aqui, como é até hoje, tanto que recebemos muito casal jovem com filho pequeno, que quer levar uma alimentação melhor”, afirma ainda Sissi.
Já Thiago Martins é o responsável pela Banca do Adônis, fundada há 52 anos, comenta que chegou a trabalhar em outras áreas e em outros lugares, mas que há 20 anos decidiu ir para o Mercado Municipal para continuar tocando o negócio criado por seu pai. “Aqui é assim: mesmo quem sai, um dia acaba voltando. Eu trabalhei fora, voltei e hoje sou eu quem toca o negócio. Mas meu pai ainda vem para cá de vez em quando, ele gosta. Viveu aqui dentro, é acostumado… E hoje temos aqui o meu público e o do meu pai também. É um público familiar, tradicional. Atendemos gerações de famílias curitibanas”, ressalta.

Curitibano também gosta de sanduíche com mortadela
A empresária Maialu Delfina de Barros, de 50 anos, conta que praticamente cresceu no Mercado Municipal. “Meus pais compravam ingredientes aqui e naquela época o Mercado Municipal era o único lugar onde você encontrava tudo, então desde pequena eu vinha para cá”, recorda ela.
No começo dos anos 2000, quando seu marido, o Mauro, cursava Gastronomia em São Paulo, ela passou a frequentar o Mercadão local e lá conheceu o famoso sanduíche com mortadela. Ao voltar para Curitiba, resolveu que era hora de montar seu próprio negócio, contando também uma história diferente pro Mercado Municipal.
“Queria sair do trivial, que eram as pastelarias e tal, e tinha conhecido o famoso lanche com mortadela no Mercadão de São Paulo. Aí tive a ideia de fazer algo parecido por aqui e fui a pioneira desse sanduíche com mortadela aqui em Curitiba, vencendo os preconceitos que muitos tinham com relação à mortadela. Hoje, inclusive, temos duas versões do sanduíche, a curitibana e a paulista”, conta a empresária, cujo negócio celebrou 23 anos de história no último sábado. O sanduíceh com 250 gramas de mortadela Ceratti virou um clássico do Mercado.
“É uma vida aqui dentro. Meus filhos cresceram aqui e tem gente aqui que ainda lembra do meu marido passeando com eles no carrinho pelo mercado. A primeira maçã, a primeira comidinha”, lembra. “ Foi tudo aqui no mercado”.
Comenta ainda que seu marido faleceu há quatro anos, deixando-a com dois filhos. “Eu fiquei um ano tocando o negócio aqui sozinha, quando o Mauro se formou ele veio e desde então estamos aqui. Hoje meus filhos até estão aqui juntos, me ajudando um pouco.”

“Aqui é assim: vai passando de geração em geração”
Pioneiro, o Mercado Municipal de Curitiba foi o primeiro mercado municipal do Brasil a contar com um espaço dedicado exclusivamente a produtos orgânicos, estimulando uma nova tendência em alimentação. Hoje, o Setor de Orgânicos conta com 14 estabelecimentos entre restaurantes, hortifrútis, mercearias, loja de cosméticos e até mesmo de roupas.
Um dos comerciantes no local é Julio Kobe, que desde 2009 trabalha no Mercado Municipal. “A minha família é de produtores e eu fazia feira aqui em Curitiba. Depois comecei a fornecer para cá e um tempo depois surgiu a oportunidade de começar a trabalhjar aqui mesmo e agora já são 14 anos”, comenta Kobe, explicando que como os orgânicos são produtos sazonais, ele também fez parcerias no interior do Paraná para ter maior variedade. “Eu produzia aqui e quando faltava algo, já acionava a párceria de lá e aí fui correndo atrás de produto”.
Hoje, ele já conta com a ajuda da filha para tocar o negócioo. Uma cena que se repete diversas vezes no Mercado Municipal, inclusive. “Aqui é assim, cara: vai passando de geração para geração. Temos bancas que já estão em três gerações na mesma família. As vezes alguém sai e não quer voltar, mas daí os filhos voltam, os netos voltam… É um vício, é gostoso trabalhar aqui dentro. Você tem tudo aqui, todo tipo de cultura, tem briga, tem amizade… É bem legal.”

Ippuc
Revitalização no entorno anima comerciantes
A Prefeitura de Curitiba iniciou na última semana uma nova etapa nas obras de revitalização no entorno do Mercado Municipal. As obras são coordenadas pela Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop) a partir de projeto desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e preveem intervenções em cinco ruas, que vão alcançar 13 quadras para priorizar pedestres e deslocamentos não motorizados e valorizar o comércio da região.
O projeto inclui novas calçadas, correção geométrica, drenagem, recuperação do asfalto, ciclovia, iluminação, sinalização semafórica e paisagismo. Atualmente os serviços se concentram na Rua General Carneiro, no trecho entre as avenidas Sete de Setembro e Affonso Camargo, que está sendo transformada em um boulevard, uma via mais ampla para ser compartilhada, com paisagismo e espaços de convivência.
Dono da Casa da Azeitona, que há 56 anos funciona no Mercado Municipal, o empresário Luiz Fernando Pavanello comemora a realização das obras. “Agora estão modernizando a parte da rua, revitalizando, e vai ficar tudo mais bonito ainda”, celebra. ele, expliocando que essa nova reformulação no entorno do Mercadão deve atrair mais mais gente, mais clientes.
“O Mercado Municipal hoje já é um ponto turístico de Curitiba, a gente sabe. Tanto que quando tem feriado, a gente se prepara porque vai ter gente de fora, pessoas de todo o mundo que vêm e gostam do nosso atendimento, do nosso modelo de mercado. E com a reforma que estão fazendo, vai atrair ainda mais gente, mais clientes para o Mercado.”