Nivaldo Alberto dos Santos: recuperar um aparelho antigo não sai tão caro quanto se pensa (Franklin de Freitas)

Para muita gente, ter um aparelho de som vintage é um sonho, seja pela qualidade sonora inigualável oferecida por esses aparelhos, por uma questão de nostalgia ou simplesmente por ser um bom item para decoração. E uma loja localizada em Curitiba, no bairro Portão, vem se tornando uma referência no mercado de raridades analógicas. Trata-se da Retrôaudiolab, localizada no bairro Portão, uma empresa que surgiu ainda no início da pandemia de Covid-19, em 2020, numa espécie de brincadeira nostálgica do idealizador do negócio, Nivaldo Alberto dos Santos (mais conhecido como Alberto). Hoje, já é uma loja estabelecida no segmento, atendendo clientes de todo o Brasil e até mesmo de fora do país.

Segundo Alberto, a história da Retrôaudiolab teve início em março de 2020, quando começou o movimento de isolamento social por conta da disseminação do novo coronavírus. Ansioso em casa, sem ter o que fazer, ele recorda que navegava por um site de compras e vendas quando viu o anúncio de um aparelho de som antigo. “Vi aquilo e achei interessante. Aí falei para a minha esposa que iria comprar o aparelho e ela perguntou o que eu faria com aquilo. Eu disse que ia comprar e revender, daí ela perguntou o que eu faria se não vendesse. Respondi que se não vendesse, ficaria com o aparelho para mim, ficaria escutando. E daí eu comecei a brincadeira ali”, recorda.

Para começar o trabalho, Alberto se valeu de conhecimentos que adquiriu décadas atrás. É que ele não só compra e revende aparelhos vintage, mas também restaura esses equipamentos antes de colocá-los à disposição dos clientes. “Meu gosto por aparelhos de sons vem da infãncia. Quando eu vim para o Paraná, em 1982, comecei a trabalhar numa loja de som como office boy e daí ajudava os vendedores a montar os equipamentos na casa do clientes, fazia alguns serviços para ajudar eles… Aí fui aprendendo ali a mexer com esses equipamentos”, conta ele, que hoje viaja pelo Brasil inteiro atrás de equipamentos antigos bem preservados.

Quando começou a trabalhar com as raridades analógicas, o empresário trabalhava em sua própria garagem, onde tem uma espécie de marcenaria para restaurar caixas acústicas e montar racks para os aparelhos de som que vende. Só que o negócio foi crescendo de forma rápida, acelerada. Logo, da garagem ele acabou indo para uma sala que fica na parte inferir de sua própria casa. Mas a empresa seguiu crescendo e hoje ele já mantém sua loja num andar inteiro do imóvel onde vive, no bairro Portão, onde atende a clientela mediante agendamento de horário para visita.

“Ofereço um atendimento personalizado. Não existem muitos profissionais dedicados nessa área, então as pessoas que se aproximam de mim são carentes desse tipo de coisa. O que eu faço é unir o útil ao agradável. Quero vender a coisa certa para a pessoa certa. As vezes o cara chega aqui imaginando gastar um rio de dinheiro e às vezes ele não precisa de tanto, porque o ambiente dele é pequeno, porque ele mora em apartamento…”

Eu sou mais um consultor do que um vendedor, para falar bem a verdade”, explica Alberto, brincando ainda que costuma ficar bem mais animado quando compra um aparelho novo do que quando o vende.

“Eu viajo para lugares bem longe para buscar aparelhos raros e em bom estado. Eu vou atrás, cara. Para te falar bem a verdade, eu fico mais feliz quando eu compro do que quando eu vendo [risos].”

A Retrôaudiolab fica na Rua Pedro Caetano Munhoz Folador, 375, no bairro Portão, em Curitiba. O atendimento ao público é feito todos os dias, das 9 às 21h30, mediante agendamento de horário para a visita. O site da empresa é www.retroaudiolab.com.br e a loja também está presente nas redes sociais com o perfil @retroaudiolab.

RETROLAB NIVALDO ALBERTO DOS SANTOS (Franklin de Freitas)

Equipamentos com história e qualidade imbatível
Alberto explica que, antes de colocar um aparelho para venda, ele faz pequenas reformas, pequenos reparos no equipamento, principalmente na parte estética. Além disso, sempre preza pela originalidade dos aparelhos, o que se traduz, também, em preços maiores para o consumidor final, dada a dificuldade em se encontrar aparelhos em boas condições dentro de tais parâmetros. “Eu vendo no preço justo para quem não tem tempo de garimpar, né? E eu garimpo muito, tem muita coisa aqui que é aparelho que só teve um dono”, comenta.

Na loja, por exemplo, há diversos equipamentos que só são vendidos conjuntamente. É que são equipamentos que tiveram justamente um único dono e Alberto, então, só os vende para quem vá ficar e permanecer com todo o conjunto de som. “Porque por trás de cada aparelho tem uma história. Teve um equipamento que eu comprei uma vez de uma mulher, era do marido dela, o Gibalu, que tinha falecido.

No aparelho, que era um aparelho antigo, da década de 1970, tinha uma etiquetazinha que havia sido colocada por ele nos anos 1980, onde estava escrito o apelido dele. Aí ela falou para mim que só não queria que eu tirasse a etiqueta, aquilo teria de permanecer ali. E combinamos assim, eu só iria vender para uma pessoa que se comprometesse a não tirar a etiqueta do Gibalu. Veio um cara aqui que queria um aparelho daqueles e eu tinha dois equipamentos, o do Gibalu e outro. Aí expliquei que no caso do equipamento do Gibalu, ele não poderia retirar a etiqueta com o nome do antigo dono. E o cliente, na hora, falou que era bem aquele o aparelho que ele queria, ele queria o do Gibalu. São muitas histórias”, afirma Alberto.

Mas além da nostalgia, do valor histórico, outro fator que chama a atenção dos amantes da alta fidelidade sonora é a qualidade desses aparelhos mais antigos. “Eu sempre soube definir um aparelho, um equipamento bom. E pela minha concepção, acho que o auge dos equipamentos de som terminou na década de 1980. O final dos anos 1980 foi quando a gente chegou ao ápice e de lá para cá eles digitalizaram o som, caiu muito a qualidade sonora. E o que aconteceu? As pessoas começaram a buscar [os aparelhos antigos] porque o som é melhor, é mais agradável. Além de ser mais barato, porque você consegue hoje um som top analógico gastando um terço do que gastaria com um som moderno”, explica o especialista.

Curiosidades
Venda de vinil supera as de CD pela primeira vez em décadas
Relatório da Associação Americana da Indústria de Gravação revelou que, somente no ano passado, foram vendidos mais de 41 milhões de discos de vinil contra 33 milhões de CDs. É a primeira vez desde 1987 em que as vendas de discos em vinil ultrapassaram as de CD.

Para ter um aparelho de som de qualidade, no entanto, nem precisa ter um toca disco, comenta Alberto. “Eu tenho um sistema que faço e boto bluetooth em todos os meus aparelhos. Então a pessoa pode usar qualquer celular e já consegue escutar a música que quer, colocar um DVD, um CD… Vai ser um sistema top de som para usar como você quiser”, diz ele, reconhecendo, ainda, que o que está em alta no mercado hoje, contudo, são os toca discos. “Mas hoje o que está mais em evidência, realmente, são os discos. Pessoal está indo muito atrás do vinil, todo mundo quer escutar o som do vinil”, diz ele.

Para quem quer começar a entrar nessa brincadeira, o essencial é comprar um toca discos, um receiver (amplificador) e um par de caixas acústicas. Isso é para dar o pontapé inicial, mas o resto dá para ir melhorando com o tempo. “Hoje, com três a cinco mil reais, você já compra um equipamento bom, bacana, de entrada, e que dá para ir fazendo upgrades para ir melhorando a qualidade do som. E aí o céu é o limite… Tem equipamento aí que chega a custar 100 mil reais”, comenta o vendedor.