Mortes de faxineiros, cobradores, porteiros e vigilantes sobem até 533% em Curitiba na pandemia

Trabalhadores que não pararam na pandemia tiveram expressivo aumento nos desligamentos por morte

Rodolfo Luis Kowalski

Franklin de Freitas - Pandemia atinge frentes de trabalho

Curitiba registrou no começo de 2021 um verdadeiro salto na quantidade de contratos de trabalho encerrados por morte do trabalhador. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados pelo Ministério da Economia e compilados pelo Bem Paraná, no primeiro trimestre de 2021 o total de desligamentos por morte na capital paranaense mais que dobrou, sendo que entre as quatro profissões com mais ocorrências (faxineiro, cobrador de transporte coletivo, vigilante e porteiro de edifício) o aumento chegou a superar os 500%.

Entre janeiro e março, um total de 482 contratos de trabalho foram encerrados na capital paranaense após falecimento do trabalhador. Na comparação com os três primeiros meses de 2020, quando haviam sido registrados 209 desligamentos por morte, temos um aumento de 130,62%. Ademais, apenas em março último, quando o Paraná atravessou o momento mais grave da pandemia até aqui, 249 trabalhadores morreram, valor superior ao de todo o primeiro trimestre do ano anterior.

Quando analisado o ranking das profissões com mais registros neste começo de ano (confira as tabelas com os dados de Curitiba e do Paraná abaixo), fica evidente a prevalência de categorias que não puderam paralisar as atividades ou ao menos aderir ao home office durante a pandemia, com especial destaque aos trabalhadores de áreas como atividades administrativas, comércio, limpeza, segurança e transporte.

Os faxineiros, por exemplo, foram os profissionais com maior número de mortes no período analisado, com 24 registros, o dobro em relação a 2020. Na terceira posição aparecem ainda os vigilantes, com 18 óbitos entre janeiro e março de 2021 ante quatro registros em 2020 (crescimento de 350%); na quarta, os porteiros de edifícios, com 17 óbitos, nove a mais do que no primeiro trimestre do ano passado (e crescimento de 112,5%, portanto); enquanto os caminhoneiros completam o top cinco das profissões com mais desligamentos por morte, com 15 registros e crescimento de 400% na comparação com os primeiros meses do ano anterior.

Um dos aumentos mais expressivos nos desligamentos por morte na capital paranaense atinja justamente os cobradores de ônibus, com 19 falecimentos no primeiro trimestre de 2021 e crescimento de 533,33% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já entre os motoristas de ônibus, o salto no número de óbitos foi de 225%, passando de quatro registros num ano para 13 no outro.

Incidência e mortalidade

Profissões com mais desligamentos por morte no Paraná

Desligamentos por morte no 
1º trimestre, segundo a ocupação Paraná
Ocupação (CBO/2002) 2020 2021 Variação
Motorista de Caminhão 61 148 142,62%
Alimentador de Linha de Produção 53 78 47,17%
Faxineiro 34 73 114,71%
Vendedor de Comércio Varejista 32 66 106,25%
Auxiliar de Escritório, em Geral 21 52 147,62%
Porteiro de Edifícios 18 49 172,22%
Servente de Obras 25 38 52,00%
Zelador de Edifício 12 32 166,67%
Assistente Administrativo 16 30 87,50%
Motorista de Ônibus Urbano 13 30 130,77%
Trabalhador de Serviços de Limpeza e Conservação de Áreas Públicas 17 29 70,59%
Vigilante 8 26 225,00%
Vigia 6 24 300,00%
Cozinheiro Geral 15 23 53,33%
Operador de Caixa 12 22 83,33%
Motorista de Furgão ou Similar 7 22 214,29%
Frentista 8 21 162,50%
Cobrador de Transportes Coletivos 6 21 250,00%
Motorista de Carro de Passeio 7 17 142,86%
Repositor de Mercadorias 10 17 70,00%
Desligamentos por morte no 
1º trimestre, segundo a ocupação Curitiba
Ocupação (CBO/2002) 2020 2021 Variação
Faxineiro 12 24 100,00%
Cobrador de Transportes Coletivos (Exceto Trem) 3 19 533,33%
Vigilante 4 18 350,00%
Porteiro de Edifícios 8 17 112,50%
Motorista de Caminhão 
(Rotas Regionais e Internacionais) 3 15 400,00%
Trabalhador de Serviços de Limpeza e Conservação de Áreas Públicas 10 14 40,00%
Motorista de Ônibus Urbano 4 13 225,00%
Vendedor de Comércio Varejista 12 13 8,33%
Assistente Administrativo 6 10 66,67%
Zelador de Edifício 1 9 800,00%
Auxiliar de Escritório, em Geral 6 9 50,00%
Motorista de Carro de Passeio 3 8 166,67%
Alimentador de Linha de Produção 5 8 60,00%
Garagista 0 7 indefinido
Ajudante de Motorista 2 7 250,00%
Técnico de Enfermagem 1 6 500,00%
Controlador de Entrada e Saída 1 6 500,00%
Operador de Caixa 2 6 200,00%
Vigia 3 6 100,00%
Auxiliar nos Serviços de Alimentação 3 6 100,00%
Cozinheiro Geral 4 6 50,00%

Desligamentos por morte no Paraná e em Curitiba

Mês Ano Paraná Curitiba
Janeiro 2020 300 62
Fevereiro 2020 295 63
Março 2020 327 84
Abril 2020 317 72
Maio 2020 202 48
Junho 2020 324 80
Julho 2020 413 134
Agosto 2020 429 118
Setembro 2020 381 120
Outubro 2020 309 74
Novembro 2020 344 84
Dezembro 2020 410 122
Janeiro 2021 471 123
Fevereiro 2021 461 110
Março 2021 922 249
Total em 2020 4051 1061
1º trimestre/20 922 209
1º trimestre/21 1854 482
Total 20-21 5905 1543

Fonte: Microdados do Caged, compilados pelo Bem Paraná

Caminhoneiros e vendedores estão entre os que mais morrem no Paraná

Seguindo a tendência curitibana, no Paraná como um todo os desligamentos por morte também tiveram expressivo aumento. Nos três primeiros meses de 2021 foram encerrados um total de 1.854 contratos de trabalho por morte do empregado, ao passo que no mesmo período de 2020 haviam 922 registros – o que aponta para um aumento de 101,08%.

Desde o começo do ano, inclusive, o número de vínculos empregatícios encerrados por conta de óbito do trabalhador permanece em nível elevado. Em 2020, por exemplo, o mês com mais desligamentos por morte foi agosto, com 429. Em 2021, por outro lado, foram 471 registros em janeiro e outros 461 em fevereiro. Já em março foram 922 registros, curiosamente o mesmo número de desligamentos por morte verificado ao longo de todo o primeiro trimestre de 2020.

Quando se analisa a ocupação do trabalhador, motoristas de caminhão foram os que mais morreram neste começo de 2021, com 148 desligamentos por morte e alta de 142,62% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Na sequência aparecem alimentadores de linha de produção, com 78 registros (+47,17% em relação a 2020); faxineiros, com 73 (+114,71%); vendedor do comércio varejista, com 66 (+106,25%); e auxiliar de escritório, com 52 (+147,62%).

Além disso, o ranking das 20 profissões com mais desligamentos por óbito mostra ainda que, no primeiro trimestre deste ano, os aumentos mais expressivos foram verificados entre vigias (+300%), cobradores de transportes coletivos (+250%) vigilantes (+225%), motoristas de furgão ou veículo similar (+214,29%) e porteiros de edifícios (+172,22%).

Indústrias, comércio e transporte são os ‘destaques’ no Estado

Além dos dados por ocupação do trabalhador, o Novo Caged também permite filtrar as informações conforme a seção ou setor no qual o profissional trabalhava. E no Paraná, os setores com mais desligamentos – e que também tiveram os maiores aumentos no número de mortes, em número absoluto – são: comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas; indústrias de transformação; transporte, armazenagem e correio; e atividades administrativas e serviços complementares.

No caso do comércio, foram registrados 384 desligamentos por morte no 1º trimestre de 2021, ante 226 no mesmo período do ano anterior. Nas indústrias de transformação, de um ano para o outro o número de contratos encerrados dessa forma subiu de 2020 para 372. No setor de transporte, armazenagem e correio, o aumento foi ainda mais expressivo (proporcionalmente), passando de 99 registros para 250. E por fim, nas atividades administrativas e serviços complementares, o total de desligamentos por morte subiu de 92 para 235 no período analisado.

Considerando apenas os dados da capital paranaense, temos atividades administrativas e serviços complementares em destaque, com 119 registros ante 45 do ano anterior. O comércio (o que inclui também reparação de veículos automotores e motocicletas) vem em seguida, com 85 registros em 2021 ante 42 em 2020; e na terceira posição aparece a seção de transporte, armazenagem e correio, com 69 desligamentos por óbito (em 2020 eram 20 registros no 1º trimestre do ano).