Motoristas de aplicativos fazem 78% mais corridas que táxis em Curitiba

Mercado tem se consolidado entre clientes que preferem cada tipo de serviço

Narley Resende

Franklin de Freitas - Na busca por passageiros

Curitiba tem hoje 12 mil motoristas de aplicativos (apps) de transporte individual de passageiros. Ao todo, 6,2 milhões de corridas foram realizadas via apps em 2018. Uma comparação com o tradicional serviço de táxi aponta que cada motorista de aplicativo fez quase o dobro de corridas que um taxista — 78%, para ser mais exato. No mesmo período, ao longo de 12 meses, os 3 mil motoristas de táxi de Curitiba realizaram 874 mil viagens. Em média, cada táxi realizou 291 corridas por ano, enquanto o motorista de app fez 520 no período.

Pouco mais de três meses após entrar em vigor a regulamentação atual do serviço de aplicativos em Curitiba, o levantamento feito pela Urbs (Urbanização de Curitiba) a pedido do jornal Bem Paraná aponta um número consolidado de profissionais em atividade. Com o cadastro, previsto na regulamentação, foi possível contabilizar o número de passageiros transportados por período.

Para os táxis, o ano de 2015 foi o primeiro em que Curitiba teve funcionamento pleno de sua frota ampliada em 750 novos veículos (até então operava com 2.252 táxis desde a década de 70) e também o último ano antes do início da operação da Uber, primeira empresa de aplicativo de transporte individual de passageiros a funcionar na capital paranaense. Naquele ano, havia os mesmos 3 mil carros de hoje, mas sem a concorrência dos aplicativos.

A empresa 99, que une duas categorias em uma mesma plataforma — 99Pop (carros particulares) e 99Táxi — entende que a consolidação dos serviços coexistindo criou uma espécie de divisão no perfil da clientela. “A gente entende que o perfil dos clientes é diferente. Hoje há os que preferem o táxi e os que só usam aplicativos”, afirma Paola Micheletti, relações públicas da 99 na regional Sul. A empresa não informou quantos motoristas são cadastrados nas duas plataformas e nem quantos passageiros foram transportados por cada uma. “Por uma questão de estratégia, por causa da concorrência, a empresa não repassa esses números”, disse a RP. A empresa informou apenas que “em Curitiba, no último ano, o número de passageiros que utilizam os táxis cadastrados no aplicativo aumentou quatro vezes”.

Embora as empresas não revelem dados separados, a prefeitura tem seu próprio controle desde que regulamentou os aplicativos, das chamadas Administradoras de Tecnologia em Transporte Compartilhado (ATTCs), através de decreto em 2017, embasado na Lei da Mobilidade Urbana Federal de 2012, que foi alterada em 2018. O governo federal promoveu alterações legislativas, que garantiram aos municípios a competência para fiscalizar e regulamentar sobre os serviços prestados pelos aplicativos de transporte.

Por enquanto, há cinco empresas cadastradas em Curitiba: Urber, 99, Cabify, Ecodrivers e Wapp.

Taxistas trabalham para recuperar clientela

Além de água e balinha, marca registrada dos “ubers”, para se adaptar à realidade imposta pela concorrência, táxis aderiram aos mapas de trânsito, pagamentos online, carregadores e até TV no encosto do banco. Entre as diversas medidas adotadas recentemente está a criação de aplicativos para táxis, que já existiam, mas que agora tem características semelhantes aos serviços oferecidos pelos motoristas de transporte individual.

Em Curitiba, começou a operar há quatro meses o aplicativo Unitáxi. De acordo com o desenvolvedor da plataforma, Eduardo Fernandes, da empresa Táxi Digital, o serviço equipara benefícios dos apps e oferece as vantagens do táxi. “(O preço) está muito próximo, principalmente por não ter Bandeira Dois e nem taxa de retorno, então fica bem competitivo”, afirma.

A Urbs informou que a opção por dar o desconto é regular. O que os taxistas não podem fazer é aumentar o preço de maneira desuniforme.

A intenção do desconto é correr atrás do que muitos consideram ter sido uma perda de clientes para os novos serviços. Para Fernandes, mesmo com pouco tempo de operação o aplicativo dos taxistas já mostra resultado. “Faz quatro meses (que o serviço começou em Curitiba e região metropolitana). São mil carros que já atendem o aplicativo. O preço é fechado, sempre em bandeira 1, com desconto de 20%. Essa condição é a de Curitiba. Outras cidades têm seu próprios parâmetros”, explica.

Por atender apenas táxis, o aplicativo segue as regras próprias e não se enquadra na resolução da prefeitura para os aplicativos de transporte de passageiros. “É um aplicativo de táxi, então não tem os mesmos parâmetros. E se for para outras cidades onde tem o aplicativo já pode usar o mesmo”, anuncia.

Durante a fase de testes, o serviço transportou duas mil pessoas em quatro meses, segundo a Táxi Digital. O desenvolvedor afirma que o serviço ainda está em fase de implantação, mas promete ocupar espaço considerável na concorrência. “Está em fase de implantação. A publicidade vai começar agora”, afirma.

A plataforma nasceu no Rio de Janeiro, mas não havia decolado, segundo a empresa. “O projeto tinha intenção de expandir, deu uma parada, mas do final do ano pra cá várias cidades adotaram. Tem no Rio, Manaus, interior de São Paulo, Espirito Santo, Goias, Santa Catarina”, enumera.

No Paraná, o Unitáxi já funciona em Curitiba, região metropolitana, aeroporto, Ponta Grossa e litoral do Estado.