Movimento de pipeiros cresce e reaparece em Curitiba e região metropolitana

No último domingo aconteceu o Festival e Combate Paranaense das Pipas. Em março, Pipódromo de Quatro Barras realiza outro evento

Rodolfo Luis Kowalski

Franklin de Freitas - Pipeiros se divertem em competição na RMC: “Não podemos deixar isso cair”

Numa época em que redes sociais e videogames ainda não eram a principal diversão dos jovens, brincadeiras como empinar pipa eram uma das principais distrações para os jovens curitibanos. E agora, em pleno 2020, a milenar brincadeira volta a ganhar fôlego na cidade, conquistando novos adeptos ao mesmo tempo em que amantes da pipa se mobilizam para conseguir espaços específicos, os chamados pipódromos, para a prática do esporte.

No último domingo, por exemplo, foi realizado em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, a terceira edição do Festival e Combate Paranaense das Pipas. Em sua terceira edição, o evento aconteceu pela primeira vezs em local público, no parque linear da Rua Guarani, no Jardim Cristal. Já em março, nos dias 14 e 15, será a vez do Festival de Pipas em Quatro Barras, também na RMC – o município, inclusive, conta com o único pipódromo regulamentado em todo o Paraná.

Organizador do festival do último final de semana, Max Augusto conta que a expectativa era que o evento, que começou de manhã e seguiu até o final da tarde, atraísse cerca de 250 pessoas. O número de participantes, porém, acabou sendo bem maior. “Sò no combate foram 32 equipes participando, cada uma com três participantes. Geralmente fazemos em chácara fechada, mas agora conseguimos esse espaço. Nossa expectativa é que esse local vire um pipódromo também”, conta.

No gramadão do parque, uma cena rara nos dias de hoje. Em vez de olhar para baixo, mirando a tela do celular, as diversas crianças e seus pais miravam era para cima, observando a inundação de pipas no céu. “É uma coisa mágica. Hoje é o dia em que a bateria do celular do pai dura (risos)”, brinca o guarda municipal Herbert Silva Abreu, outro a participar da festa e também fundador do pipódromo de Quatro Barras.

Tanto Herbert como Max são ainda unânimes em afirmar: a pipa está crescendo de novo em número de adeptos no Paraná. “Cada vez mais, está cada vez mais (crescendo). Se você não brincou, teu pai brincou, teu irmão brincou. Traz boas lembranças, e tudo que traz boas lembranças as pessoas querem fazer de novo. Eu sempre passo pros filhos, filhos de amigos, para ir passando de geração em geração. Nós não podemos deixar isso cair”, diz Herbert.

Um exemplo dessa renovação está na família de Heliel Estevão da Silva. Aos 34 anos, ele solta pipa já há três décadas, uma paixão que vem de família – ele aprendeu com os irmãos, já ensinou aos sobrinhos e agora está passando para a filha, Stella, que tem apenas dois anos e sete meses de vida.
“Ela gosta de soltar pipa e fica alegre. Quando ela vê uma raia, ela grita de alegria. Ela fica muito feliz, grita ‘pai, pai, pai! Olha a raia lá no céu”, relata Heliel, que faz questão de ressaltar que pratica o esporte sempre em lugar seguro. “Não soltamos pipa na rua, onde tem fio de luz. O ideal é soltar pipa no pipódromo ou em parque”, explica.

Redes sociais ajudam aficionados e iniciantes no esporte

Para quem está querendo iniciar no esporte e não tem com quem aprender, o YouTube pode ser uma solução bastante prática. É que há canais na plataforma dedicados a ensinar como fazer pipas, como realizar manobras e até mesmo como travar combates no ar. Um dos mais populares é o Diamante Pipas, com 1,7 milhão de inscritos. Outro é o Pipa Combate, com 1,25 milhão.

Já para aqueles que já são apaixonados por pipa e gostariam de participar mais da comunidade de pipeiros, ficando por dentro dos eventos que acontecem em Curitiba e região, uma boa opção são os grupos e páginas de Facebook que reúnem os apaixonados pela prática. O grupo Pipeiros de Curitiba-PR, por exemplo, soma cerca de 1,5 mil membros, enquanto a página Pipeiros Unidos do Paraná (P.U.P.) já recebeu mais de 1,1 mil curtidas.

Pipódromo ajuda a reavivar outras brincadeiras ‘das antigas’

Um dos grandes baratos da pipa, comentam Heliel, Max e Herbert, é a possibilidade de permitir aos seus filhos de ter mais contato com as brincadeiras rua, mas de maneira segura. Por isso os pipeiros se mobilizam para conseguir mais espaços em Curitiba e Região Metropolitana onde possam instalar pipódromos. “Cada vez cresce mais o movimento da pipa e é um movimento família, pai com filhos, esposa. E resgata aquela coisa boa, que não é só celular”, afirma Max.

No pipódromo de Quatro Barras, inclusive, uma cena comum – e democrática – é ver moradores do luxuoso Alphaville se divertindo junto com os ‘pipeiros raiz’. “O pipódromo é cercado de condomínios de alto padrão. Volta e meia do nada encosta lá uma Mercedes, uma Land Rover. O pai abre o vidro, diz que veio conhecer, pergunta se é seguro. Já levamos paraum espaço fechado, reservado, para não ter risco nenhum. É longe da rede elétrica, do trânsito”, afirma Herbert, relatando ainda que a criação do espaço exclusivo para pipas acabou reavivando outras brincadeiras ‘das antigas’, como o jogo de bets.

SAIBA

Na historia
As pipas surgiram na China antiga, por volta do ano 1200 a.C. De início eram utilizadas como um dispositivo de sinalização militar, com os movimentos e cores das pipas servindo para transmitir mensagens à distância entre destacamentos miliares. Séculos depois, no dia 15 de junho de 1752, o político e inventor estadunidense Benjamin Franklin utilizou uma pipa em meio a uma tempestade para investigar e inventar o para-raios. O experimento foi relevante porque comprovou cientificamente que o raio é apenas uma corrente elétrica de grandes proporções.