simbolos nazistas
Palestra orienta sobre os símbolos nazistas (Divulgação)

Para prevenir o uso de símbolos nazistas em desfiles cívico-militares, no início de julho, o Museu do Holocausto de Curitiba realizou a etapa presencial de um programa de capacitação destinado a membros do Exército Brasileiro, da Polícia Militar do Paraná e da Guarda Municipal de Curitiba.

A iniciativa, que começou em abril, atendeu a uma recomendação do Ministério Público Federal (MPF) e teve como objetivo prevenir o uso de símbolos nazistas, neonazistas e supremacistas em desfiles cívico-militares na capital paranaense.

A capacitação foi dividida em três etapas: uma visita mediada à exposição permanente do museu, a formação presencial com especialistas e a entrega de materiais impressos com representações visuais e orientações sobre simbologia nazista e neonazista.

O encontro reuniu os participantes para uma formação conjunta com especialistas convidados, os professores doutores Odilon Caldeira Neto (UFJF) e David Magalhães (PUC-SP e FAAP), coordenadores do Observatório da Extrema Direita (OED). A capacitação contou ainda com a presença da Procuradora da República Hayssa Kyrie Medeiros Jardim, responsável pelas investigações do Ministério Público Federal (MPF) que deram origem à criação do programa e pela proposta de parceria com o Museu.

A etapa presencial contou também com representantes da Polícia Civil, da Polícia Penal e da Polícia Rodoviária Federal, ampliando o alcance e a relevância da formação.

Desfile de 2023 teve veículo alemão com símbolo nazista

O programa surgiu após um episódio ocorrido em 7 de setembro de 2023, quando um veículo Volkswagen Kübelwagen, ostentando uma cruz de barras — símbolo associado ao regime nazista —, participou do desfile do Dia da Independência em Curitiba. O fato motivou a abertura de investigação pelo MPF, que contou com informações fornecidas pelo Museu do Holocausto e concluiu o vínculo do veículo e do símbolo ao período nazista.

Segundo Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu, a ação é fundamental para a preservação dos valores democráticos. “A sociedade precisa estar atenta aos riscos de vincular símbolos de ódio a órgãos do Estado, principalmente os ligados à segurança pública. Não podemos permitir que qualquer diálogo com o fascismo, mesmo involuntariamente, manche a reputação de instituições como o Exército Brasileiro, que lutou bravamente contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial”, afirma.

O professor Odilon Caldeira Neto reforçou a relevância do programa. “Em grande medida, este é um projeto pioneiro. Nossa intenção é aprofundar e ampliar essa parceria, justamente por entendermos que os símbolos do ódio são complexos e têm exercido um papel profundo na realidade política brasileira nos últimos anos”, destaca.

A recomendação do MPF, emitida por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), reforça a necessidade de “evitar ações e/ou omissões que possam ser interpretadas como exaltação a atos, símbolos, gestos e outras situações análogas que envolvam o nazismo/neonazismo”. O documento também menciona a preocupação do Conselho Nacional de Direitos Humanos, da ONU, e se baseia no Pacto de San José da Costa Rica, na Constituição Federal e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

O episódio de 2023 evidenciou a importância de ações preventivas. O Batalhão de Artilharia Divisionária da 5ª Divisão de Exército, responsável pela organização do desfile, informou à época desconhecer o caráter simbólico do veículo, que não integra a frota oficial e costuma participar do evento em áreas destinadas a colaboradores civis.