
Empresários do setor gastronômico paranaense reclamam da dificuldade que têm encontrado na hora de contratar trabalhadores, apontando haver até mesmo um “apagão de mão de obra” neste momento. A situação, inclusive, tem obrigado bares e restaurantes a apostar na contratação de profissionais de outros estados e até mesmo do exterior, ao mesmo tempo em que realizam constantes mutirões para tentar completar o quadro de funcionários.
Ontem, por exemplo, o Grupo Família Madalosso, dono do maior restaurante da América Latina, localizado no bairro Santa Felicidade, em Curitiba, fez um mutirão para o preenchimento de 40 vagas em funções como auxiliar de cozinha, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de produção, recepcionista e supervisor SESMT, com salário a partir de R$ 1.701,95 (piso salarial para auxiliar de produção), carteira assinada e outros benefícios (como vale-mercado por assiduidade e cesta básica). Apenas três candidatos apareceram.
“Estamos fazendo mutirão a cada 15 dias, temos parceria com a FAS [Fundação de Ação Social], o Sine [Sistema Nacional de Emprego], portfólio de benefícios, mas está bem difícil. Setor de cozinha, de fábrica e de limpeza são os maiores problemas. Para garçons não temos problema, é pras outras áreas”, explica Mariana Werner, CEO do Grupo Família Madalosso, contando que a empresa já fez neste ano duas ações com equipes de recrutadores para captação externa de mão de obra, trazendo mais de 80 profissionais de outros estados (como o Pará) para atuar no restaurante. “Em torno de 50% de pessoas desse programa ficam conosco após o período de experiência”.
Segundo Fabio Aguayo, presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), as atividades de gastronomia e entretenimento estão entre as que mais tem gerado empregos formais no pós pandemia no Brasil, mas existe um porcentual considerável de ociosidade de vagas que estão há meses desocupadas e não são preenchidas. Além da contratação de trabalhadores de outros estados brasileiros, a contratação de estrangeiros também tem sido uma solução.
“Os empresáros estão investindo, está surgindo oportunidade de emprego. Nosso setor ainda não conseguiu fechar todo o quadro de funcionários, estamos numa dificuldade tremenda depois da pandemia para conseguir mão de obra qualificada, engajada, que queira mesmo trabalhar nesse setor. Temos que incentivar as pessoas a buscar o emprego formal, ter CLT, ter carteira, ter seguridade social. Isso é o mais importante hoje, não só pela segurança financeira, mas também pela segurança jurídica do empresário e do trabalhador”, apela o presidente da Abrabar.
O que explica a dificuldade para se conseguir contratar?
Ainda na visão dos empresários, um fator que tem dificultado as contratações é a alta concorrência com outros setores. “O que percebemos é que está tendo muita oferta de emprego, muita oferta. Então hoje a pessoa não fica desempregada, tem muita opção”, comenta Mariana Werner, enquanto Fabio Aguayo ressalta que algumas regiões do Paraná vivem praticamente uma situação de pleno emprego.
Durante a pandemia, muitos profissionais que atuavam no setor gastronômico também migraram para outras áreas e, após a crise sanitária, já estabelecidos em outros empregos, não voltaram a trabalhar em bares, restaurantes e hotéis.
Ao mesmo tempo, estaria havendo também uma mudança no comportamento, nas prioridades do próprio trabalhador, que já não estaria tão interessado em se submeter à rigidez de um trabalho formal, optando pela flexibilidade prometida por outros segmentos.
“Nossa maior dificuldade é engajamento, compromisso. Temos um hábito no nosso setor das pessoas trabalharem eventualmente, por tarefa, taxa. Temos percebido que as pessoas as vezes preferem trabalhar de taxa do que com carteira assinada, e isso dificulta no comprometimento. Muitas pessoas trabalham com aplicativo, outras atividades assim, e isso também dificultou nossa contratação”, aponta ainda Fabio Aguayo.
“Só de segunda a sexta e sem trabalho à noite”
Entretanto, Márcio Brasil, CEO do Grupo Zapata e do Essen Bier Garden, cita que até mesmo a contratação de freelancers está sendo difícil para o setor, diferente do que acontecia em outros tempos. Trata-se de uma situação, avalia o presidente da Abrabar, que estaria afetando também outras regiões do país, mas que no Paraná, especificamente, virou um fenômeno a ser notado.
“A gente está desde o começo do ano tentando fechar nosso quadro de funcionários. Antes usávamos freelancer, taxa, mas hoje estamos com dificuldade até pra conseguir esses profissionais. Pessoal está optando por trabalhos de segunda a sexta, não querem mais trabalhar sábado e domingo e nem de noite. A dificuldade é grande”, lamenta Brasil.
Por fim, Aguayo comenta que boa parte dos trabalhadores que entram no setor conseguem ganhar a partir de dois salários mínimos, não raro com pagamento de comissão e taxa de serviço. Por isso, ele faz um apelo para os trabalhadores toparem o “desafio” da carteira assinada. “É importante a pessoa ter carteira assinada, ter segurança previdenciária, ter uma segurança de vida mesmo, ter depois o Fundo de Garantia (FGTS), o 13º salário — que hoje poucas pessoas que vivem na informalidade tem.”