
Nesta sexta-feira o mundo veste roxo. É que no dia 26 de março se celebra o Dia Mundial da Conscientização da Epilepsia, também conhecido como Purple Day, uma data dedicada à reflexão sobre a epilepsia, suas formas de tratamento e prevenção, num esforço que procura também derrubar estigmas sobre a doença, causada por descargas elétricas anormais que provocam alteração nos neurônios e que se manifesta na forma de crises convulsivas.
De acordo com o Dr. Murilo Meneses, chefe da Unidade de Cirurgia de Epilepsia do Hospital INC, estima-se que entre 1 e 1,5% da população tenha epilepsia ativa. No Paraná, isso significaria que entre 115 mil e 172 mil pessoas convivem com o problema, que pode ocorrer por distúrbio genético ou ser adquirido por lesões cerebrais, como traumatismo ou ruptura de um aneurisma, além de condições metabólicas, infecciosas ou a existência de tumores.
O mais importante é que se tenha acesso a um diagnóstico e tratamento adequados, uma vez que algo entre 70% e 80% dessas pessoas que tem epilepsia conseguem controlar as crises com medicamentos. Aos demais pacientes, há ainda a possibilidade de recorrer a procedimentos neurocirúrgicos, que podem melhorar ou até mesmo curar a doença.
“No Brasil, esses pacientes que não controlam a doença com medicamentos são aproximadamente 450 mil pacientes, enquanto o número de cirurgias realizadas é muito inferior a isso. Então existem muitas e muitas pessoas com epilepsia que não controlam a doença com medicamentos e poderiam ter a indicação de cirurgia”, comenta o Dr. Murilo, explicando que o desconhecimento ainda é grande acerca da possibilidade de se realizar neurocirurgias para retirar ou controlar o foco epiléptico.
Importante destacar, ainda, que a indicação de cirurgia será determinada apenas quando o paciente já se tornou resistente ou refratário ao tratamento medicamentoso. A partir daí, então, é feita uma investigação com exames médicos, como ressonância magnética e eletroencefalograma prolongado, junto da avaliação de fatores como qualidade de vida do paciente, trabalho e função que exerce, entre outros. O tratamento em sua, por sua vez, vai desde remover a parte do cérebro doente até implantes de estimulação cerebral ou do Nervo Vago – um pequeno computador que pode detectar a chegada de uma crise e evitar que ela ocorra por meio de estímulos.
“Os casos mais comuns são de cirurgias no lobo temporal, é um processo muito localizado e com microcirurgia removemos exatamente a área com problemas e o paciente pode ficar sem crise nenhuma”, comenta o Dr. Murilo. “Assistimos casos de pessoas que vem com os pais, tomam medicação e tem efeitos colaterais, ficam sonolentos, não conseguem estudar, não trabalham e ainda têm crises. Depois de um tratamento como esse, [o paciente] passa a ter uma vida independente, a poder estudar e trabalhar”.
Uma história de superação
Morador de Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), Marcos Henrique Alves da Costa conta que começou a sofrer com ataques epilépticos já adulto, quando tinha cerca de 25 anos e tinha uma vida pessoal e profissional corrida, trabalhando e estudando ao mesmo tempo em que cuidava no noivado.
No meio da correria, ele começou a sentir tonturas e enjoos com frequência. Acontecia uma vez a cada dia ou a cada dois dias e ele só sentava e esperava passar, em princípio. “Mas o tempo foi passando e essas ocorrências foram ficando cada vez mais próximas. Acordava com essa sensação, tinha ela enquanto dirigia, estava no trabalho”, conta ele, relatando ainda que teve o primeiro ataque epiléptico enquanto fazia uma prova.
“Comecei a me sentir mal, leve tontura, enjoo mais forte, e resolvi sair da sala. Foi quando perdi completamente o sentido e só fui recuperar quando já estava na ambulância. Eu via as pessoas, mas não conseguia me comunicar. Foi o primeiro ataque. Depois disso aconteceu várias outras vezes, no trabalho, em casa. Eu simplesmente desmaiava, não chegava a me debater nem nada”, recorda.
Preocupado, Marcos foi buscar atendimento com um neurologista e começou a fazer um tratamento com medicamentos. Tudo correu bem por aproximadamente três meses, quando os ataques epilépticos voltaram e com ainda mais força. “Antes, se eu estava de pé, sentia o mal estar e as vezes conseguia sentar. Agora não, se estivesse em pé desmaiava na hora. EU só não enrolava a língua porque eu mordia ele e, quando me recuperava, não conseguia nem falar, porque a força da mordida chegava a fazer a língua inchar”.
Foi quando o paciente resolveu buscar uma outra saída para o problema e marcou consulta no INP, primeiro com uma neurologista clínica do hospital e mais tarde com o Dr. Murilo, que é especialista em epilepsia. Àquela altura, Marcos já não podia se permitir mais fazer várias coisas, como dirigir ou mesmo jogar futebol com os amigos, o que sempre foi uma de suas distrações preferidas.
“[Depois da cirurgia] Crise eu não tive mais. Ainda tomo medicação porque é um padrão médico, mas pode ser que comece a reduzir aos poucos até conseguir parar com a medicação”, comemora Marcos, que desde então teve uma verdadeira reviravolta na vida: casou-se, teve uma filha (Laura, que está com dois anos) e voltou a jogar bola.