Pacientes faltam a 30% das consultas médicas agendadas em Curitiba

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde são “desperdiçados” 225 mil procedimentos por ano, em média

Rodolfo Luis Kowalski

De cada dez consultas com especialistas ou exames agendados em Curitiba pelo sistema municipal de saúde, em três o paciente não aparece e nem dá notícias. É o fenômeno do absenteísmo, que pressiona o sistema fazendo aumentar as filas e o tempo de espera, provocando enormes prejuízos para o município.

Usuário melhora e se dá alta por conta”, dizem autoridades de saúde

Para se ter noção do tamanho do problema, anualmente são agendados na rede municipal aproximadamente 400 mil consultadas especializadas e mais de 350 mil exames (dados de 2015). Desses 750 mil procedimentos, aproximadamente 225 mil acabam não sendo realizados porque o paciente não compareceu, já que a falta de comunicação prévia sobre a desistência impede que o serviço chame outro paciente para a consulta.

Esquecimento, tempo de espera na fila e mesmo falta de recursos para o transporte são alguns dos motivos para o fenômeno, segundo Marcia Huçulak, superintendente de Gestão em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Temos muitos casos em que o paciente melhora e aí não resolve mais ir para a consulta, ou mesmo casos em que o paciente afirma que não tinha dinheiro para o transporte ou, no caso das pessoas de idade, não tinha quem levasse, pudesse acompanhar.

Mais que tudo isso, porém, pesa o descaso do cidadão. É que as unidades de saúde, tão logo marcam a consulta, entregam ao paciente um papel chamado referência, nos quais constam informações como horário, dia e local para a consulta. Antes do dia agendado, os profissionais da saúde ainda ligam para o paciente para lembrá-lo e confirmar o agendamento. Não são poucos, porém, os pacientes que chegam a confirmar a consulta, mas na hora H não dão as caras.

A pessoa diz ‘tudo bem’, confirma a consulta e mesmo assim não comparece. Poucos são os que vão e pedem para desmarcar, afirma Marcia Huçulak. As pessoas cobram muito da Saúde, mas dão muito pouco. Elas precisam entender que aquilo é um recurso dela também, que eu não vou usar, mas alguém pode estar precisando. Que o hospital que ficar com o médico vai pagar por horário, independente se faz 10 ou 20 consultas. Isso tudo é ruim para o sistema, complementa.

 

Usuário melhora e se dá alta por conta”

Não é só os pacientes, porém, são os culpados pelo absenteísmo. Segundo Marcia Huçulak, superintendente de Gestão em Saúde d aSecretaria Municipal de Saúde, o próprio exercício da medicina pode ser responsabilizado pelo impacto das ausências em procedimentos médicos. Algo que já identificamos é que muitos pacientes não foram (para a consulta) porque não precisariam ir para o especialista. Em alguns casos a indicação não é muito preciosa, ou paciente melhora e quando chega a consulta, falta.

Ainda segundo a especialista, os pacientes com condições graves, em geral, não perde a consulta ou o exame. Os pacientes que deixam de ir em geral é porque não precisava ou a indicação não é muito precisa. Dificilmente alguém com uma dor aguda, que tenha uma urticária, não vai para a consulta. Se absteram de ir é porque tinha melhorado, já está melhor, e não precisava do encaminhamento.

Embora seja um direito de todos, a Saúde é também um dever de todos. Para Marcia Huçulak, falta uma maior consciência disso, dessa corresponsabilidade, por parte dos usuários do sistema público de saúde.