
O prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) tornou-se palco de uma grande confusão no começo da noite desta terça-feira (9 de setembro). Na ocasião, estava marcado para acontecer, no Salão Nobre do curso de Direito, uma palestra cujo tema era “Como o STF tem alterado a interpretação constitucional?”. Antes dos debates terem início, no entanto, uma verdadeira confusão acabou tomando conta do local. A situação escalonou ao ponto da Polícia Militar (PM) e da Guarda Municipal (GM) terem de intervir para arrefecer os ânimos. Em nota, a Reitoria da UFPR e a Direção da Faculdade de Direto dizem uso da força policial foi desproporcional (veja a nota completa abaixo).
O evento já causava polêmica entre a comunidade acadêmica desde o seu anúncio. Um dos motivos é porque ele reuniria nomes ligados à direita curitibana considerada mais radical. Entre eles estavam os vereadores Guilherme Kilter (Novo) e Rodrigo Marcial (Novo), além do advogado Jeffrey Chiquini. O último, inclusive, assumiu recentemente a defesa de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro que teria sido o mentor da chamada Minuta do Golpe.
Além disso, o debate aconteceria no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a votação no julgamento sobre a trama golpista. O caso pode resultar na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de militares de alta patente. Eles são suspeitos de envolvimento numa tentativa de golpe após a derrota nas eleições presidenciais de 2022.
Antes da palestra começar na UFPR, contudo, estudantes e manifestantes de esquerda passaram a ocupar o local onde ocorreria o evento. Assim impediram a sua realização, com direito a gritos com palavras de ordem.
Os dois lados
Por meio de nota, os vereadores Kilter e Marcial, junto a Chiquini, afirmaram ter sido vítimas de agressão no episódio.
“Convidados para participar de um evento democrático e pacífico, eles foram cercados, trancados em uma sala e covardemente expulsos da instituição após uma onda de agressões físicas, empurrões e hostilidades promovidas por militantes da extrema esquerda. O que deveria ser um espaço de diálogo se transformou em um cenário de violência e intimidação, impedindo o exercício da liberdade de expressão e da convivência democrática”, reclamaram.
Estudantes e militantes que realizaram a manifestação, por sua vez, trataram de destacar a violência durante a intervenção policial. Haveriam informações, inclusive, sobre um militante detido e uma jovem baleada.
“Estudantes e militantes realizavam uma manifestação em oposição a uma palestra golpista que aconteceria dentro da UFPR e foram reprimidos pela Polícia Militar com bombas, tiros de borracha e gás de pimenta que foi lançado na parte de dentro da universidade”, afirmam os manifestantes.
Intervenção policial deixa feridos
A intervenção policial durante a manifestação no prédio histórico da UFPR deixou alunos e militantes feridos. Como se pode ver numa das imagens na galeria acima, uma estudante ficou com a perna toda machucada após levar diversos tiros de bala de borracha. Outros estudantes também sofreram ferimentos (principalmente hematomas) por conta da situação, e alguns deles informaram que iriam para a delegacia fazer exame de corpo de delito.
A estudante de Filosodia Ana Clara Nunes, que trabalha como assessora parlamentar do deputado federal Tadeu Veneri, disse que levou tiros de munição não letal e relatou parte do confronto. “Quando estava mais disperso no lado de fora, no lado de dentro rolava bomba de gás. No lado de fora, a polícia começou a correr e veio para cima de mim e outros estudantes”, disse ela. “Quando vi, saí correndo para acudir, mas me pegaram pela mochila e me jogaram no chão. Só pararam de me bater quando falei que era assessora parlamentar. Na hora até senti que levei uns tiros. Foi tiro de chumbo, teve estilhaço. Foi bem tenso esse momento”.
UFPR e Direção da Faculdade de Direto dizem uso da força policial foi desproporcional
No fim da noite desta terça (9), a Direção da Faculdade de Direito e Reitoria da UFPR se manifestaram, em nota sobre, a ocorrência. Eles informaram que o evento previsto para ocorrer no Salão Nobre, nesta data, foi cancelado pela docente organizadora minutos antes de sua realização. Também consideram o uso da força policial foi desproporcional.
“Contudo, conforme vídeos, um grupo com os palestrantes forçou a entrada, empurrando o Vice-diretor do Setor de Ciências Jurídicas, o que desencadeou uma série de reações que culminaram em uma resposta desproporcional das forças de segurança pública em relação à comunidade que se manifestavam”, afirma a nota.
Segundo o documento, o evento foi organizado por uma professora do curso de Direito que tem autonomia para a promoção da atividade. “Diante da repercussão nas redes sociais semanas antes do evento, a Direção da Faculdade de Direito da UFPR alertou a professora responsável quanto aos riscos à integridade física da comunidade acadêmica e participantes. A autorização para uso dos espaços da universidade, quando atendidos os requisitos formais, é concedida de forma isonômica aos solicitantes”, diz a nota. “A UFPR, enquanto instituição pública e plural, tem compromisso com a defesa do Estado Democrático de Direito, liberdade de expressão e condena toda forma de violência”.