
Ler as cartinhas com os pedidos, embalar os presentes, discursar para os elfos, passar tempo com a mamãe noel e alegrar o mundo no tão esperado 25 de dezembro. Muitos são os trabalhos do amado Papai Noel. Mas em Curitiba a rotina é diferente e começa logo que os shoppings abrem. A história por trás dos sorrisos e ho-ho-hos é muito maior e vale a pena conhecer. Um bom Papai Noel, tem que saber ouvir, conversar e cuidar das pessoas.
Darcy Nichetti, que completa 80 anos no mesmo mês do Natal, já é Papai Noel há 11 anos e vive a magia da data. Ele, que é formado em teologia, filosofia e atua como terapeuta filósofo, se tornou o bom velhinho porque encontrou nas “roupas vermelhas” uma oportunidade de ajudar ainda mais as pessoas.
“Percebi que poderia contribuir com o significado do papai noel no Natal utilizando minha experiência e conhecimento. E, a cada ano, tenho constatado que estou certo de ter começado nessa profissão”, diz Darcy, que hoje é papai noel no Shopping Estação.
Claro que, na cidade, a rotina do Papai Noel não é a mesma que no Polo Norte, mas há algumas semelhanças. Darcy chega mais cedo ao shopping para se preparar fisicamente e mentalmente para atender as crianças com tudo de si. Quando decidiu seguir com essa nova carreira, ele tinha um objetivo: ultrapassar a barreira de só tirar fotos e entregar presentes.
“Comecei entregando presentes nas famílias, mas percebi que o shopping seria um bom lugar. Mesmo com o ambiente consumista, é possível deixar uma mensagem do valor do Natal. Dar um presente, tirar foto e ir embora é muito fácil. Mas conversar, acolher, questionar comportamentos e o modo de pensar das crianças e adultos… isso sim faz a diferença. O natal não pode ser só um momento, precisa ser uma continuidade na vida”, pontua Darcy.
Aprendizados, alegrias e emoções de um final de ano sendo Noel
A rotina no shopping envolve escutar pedidos de presentes enormes, de cavalos e carros. Também envolve conversar, perguntar como foi o ano na escola e em casa, questionar sobre a relação com os pais. Mas o que também está incluso no pacote natalino é se emocionar.
“Uma vez um menino me pediu um presente que eu não poderia dar… me pediu que seu pai voltasse para casa. Naquele momento, eu sabia que não poderia fazer nada a não ser falar a verdade. Então eu disse: Filho, esse presente o papai noel não pode te dar, porque foi uma escolha do seu papai e da sua mamãe. Mas no dia de natal, ou hoje mesmo, ligue para o seu pai e diga que o ama. Esse será o seu presente para ele”, conta Darcy.
Embora nem todos acreditem no bom velhinho, é comum que os papais noéis dos shoppings recebam pedidos como esse, assim como outro Papai Noel da cidade, Marcelino Ostrowski, de 64 anos, que atendeu uma menininha pedindo um rim como presente de Natal. A presença do papai noel em espaços comerciais pode parecer simples, já que existe há anos e se repete, mas para as crianças – e até adultos – o encontro com o Noel é o momento de falar das dores de um ano e das esperanças que pairam o ano que está por vir.
“Assim como todas as pessoas, o papai noel também tem seus problemas, angústias e responsabilidades, mas quando eu me deparo com o olhar esperançoso e fascinado das crianças, ou a emoção dos adultos, percebo o impacto na minha vida. Aí eu penso: quanto deste personagem, o Papai Noel, eu levo para a minha vida?”, diz Darcy.
E, claro, não são só as crianças que se envolvem com o natal. O espírito natalino, conta Marcelino, atinge até adultos pelo shopping. “Ano passado muitas mulheres adultas me pediram um marido. É engraçado, mas é verdade. Tem muita gente adulta que acredita no papai noel. Eles vêm, pedem, às vezes até choram. É muito legal. Realmente têm aquele espírito natalino”, relata Marcelino.
De mecânico ao bom velhinho Noel

Outro Papai Noel na capital paranaense é Marcelino Ostrowski, de 64 anos. O bom velhinho do Shopping Curitiba não veio exatamente do Poloo Norte, mas nasceu em uma pequena cidade do Norte do Paraná. Com quatro anos veio para Curitiba e desde então vive por aqui. Além de papai noel, Marcelino é mecânico, mas ama poder trabalhar conversando com “a piazada”.
Sua jornada como papai noel começou assistindo a uma peça da Paixão de Cristo, em 1996. Desde lá, ele começou a atuar na peça, mas se vestiu como papai noel para viajar com a Coca-Cola alguns anos depois. Após viajar por quatro cidades, Marcelino voltou a Curitiba e hoje já trabalha aos fins de ano há sete anos.
“Há sete anos trabalhando… o papai noel ensina a vida, né. A escutar as pessoas, as crianças. A gente vê que não é só o adulto que passa pelas coisas. E o papai noel tá ali pra dar um conselho. É muito gratificante”, conta Marcelino.
Papais noéis querem paz, saúde e festa
Para o fim deste ano e todos os próximos, os papais noéis da cidade desejam paz, alegria e reunião das famílias. “O que é o natal? Eu questiono as crianças. Elas me respondem que é o nascimento do menino Jesus, e eu digo que sim, mas questiono de novo: o que é o natal para você? O que é natal para nós? É renascer, recomeçar”, reflete o bom velhinho Darcy.
“Eu acredito no espírito natalino. Nascimento de Cristo, a vida, reunião dos povos. Todo ano tem aquela magia, pode ver. Quero saúde para todos nós, mesa cheia e todos reunidos. O resto a gente dá um jeitinho”, diz o Papai Noel Marcelino, rindo.
Para além das barbas bem cuidadas, as bochechas rosadinhas e barriga conhecida, os papais noéis da cidade têm carinho, conselhos e boas conversas para entregar. Mas, claro, para quem quiser conhecer os bons velhinhos curitibanos é bom se apressar, porque dia 25 se aproxima e o trenó com as renas está pronto para a tão esperada noite de natal. Hohoho, em Curitiba, o Papai Noel já chegou.
- Lívia Berbel, sob supervisão de Mario Akira