
No último final de semana, um adolescente de 15 anos acabou morrendo na Linha Verde, no bairro Xaxim, em Curitiba, após pegar a “rabeira” de um ônibus e acabar sendo atingido por um biarticulado que transitava no sentido contrário. Uma tragédia, mas que não é uma cena tão rara. Isso porque o Paraná, conforme dados do Ministério da Saúde levantados com exclusividade pelo Bem Paraná, é o segundo estado com mais mortes em acidentes com veículos pesados. Em cinco anos, foram mais de 2,7 mil óbitos em ocorrências desse tipo, número inferior apenas ao verificado em São Paulo.
De acordo com o Contran (Conselho Nacional de Trânsito), são considerados pesados aqueles veículos com peso bruto acima de 3.500 quilos, sendo usados geralmente para o transporte de cargas ou passageiros. Dentro dessa categoria estão ônibus, microônibus, caminhão, caminhão-trator, trator de rodas, trator misto, chassi-plataforma, motorhome, reboque ou semi-reboque e suas combinações.
Para saber quantas mortes já foram registradas em ocorrências com veículos pesados, a reportagem apelou ao Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, compilando informações dos últimos cinco anos com dados disponíveis (2019 a 2023). E o levantamento acabou colocando o Paraná como um “destaque” nacional no assunto.
Em todo o país, 19.730 pessoas faleceram em acidentes com ônibus, caminhões e outros veículos pesados ao longo de cinco anos. E o último ano (2023) foi justamente aquele com mais mortes: 4.504, com aumento de 16,5% em relação ao ano anterior, quando haviam sido registrados 3.867 mortes.
A unidade federativa com mais ocorrências, em número absoluto, é São Paulo, que somou 3.034 mortes nos cinco anos analisados. Na sequência vem o Paraná, com 2.742 registros, sendo seguido ainda por Minas Gerais (2.132), Santa Catarina (1.516) e Rio Grande do Sul (1.369).
No caso paranaense, seguindo a tendência nacional, os registros de mortes em acidentes com veículos pesados tiveram alta nos últimos anos. Em 2021, por exemplo, haviam sido registradas 521 mortes. No ano seguinte (2022), já houve 551 óbitos. E no ano passado, foram 593 registros, um recorde para a série histórica iniciada em 1996. Até então, os anos com mais registros haviam sido 2022, 2019 (543 mortes) e 2020 (534).
Mortes em acidentes envolvendo veículos pesados no Brasil
Unidade da Federação | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | Total |
Rondônia | 53 | 47 | 64 | 57 | 68 | 289 |
Acre | 17 | 4 | 4 | 2 | 8 | 35 |
Amazonas | 49 | 46 | 43 | 47 | 60 | 245 |
Roraima | 3 | 12 | 11 | 3 | 14 | 43 |
Pará | 90 | 73 | 72 | 95 | 130 | 460 |
Amapá | 12 | 10 | 11 | 12 | 2 | 47 |
Tocantins | 50 | 40 | 55 | 83 | 87 | 315 |
Maranhão | 90 | 106 | 119 | 145 | 150 | 610 |
Piauí | 80 | 71 | 73 | 81 | 118 | 423 |
Ceará | 84 | 69 | 95 | 98 | 115 | 461 |
Rio Grande do Norte | 29 | 18 | 30 | 13 | 33 | 123 |
Paraíba | 24 | 14 | 28 | 19 | 27 | 112 |
Pernambuco | 108 | 133 | 151 | 190 | 237 | 819 |
Alagoas | 35 | 72 | 66 | 46 | 42 | 261 |
Sergipe | 78 | 56 | 45 | 51 | 25 | 255 |
Bahia | 127 | 120 | 151 | 157 | 206 | 761 |
Minas Gerais | 507 | 392 | 404 | 360 | 469 | 2.132 |
Espírito Santo | 41 | 52 | 77 | 60 | 107 | 337 |
Rio de Janeiro | 95 | 75 | 84 | 84 | 118 | 456 |
São Paulo | 668 | 642 | 525 | 583 | 616 | 3.034 |
Paraná | 543 | 534 | 521 | 551 | 593 | 2.742 |
Santa Catarina | 326 | 312 | 285 | 275 | 318 | 1.516 |
Rio Grande do Sul | 304 | 236 | 278 | 257 | 294 | 1.369 |
Mato Grosso do Sul | 136 | 121 | 109 | 135 | 177 | 678 |
Mato Grosso | 166 | 168 | 186 | 221 | 212 | 953 |
Goiás | 201 | 167 | 225 | 184 | 225 | 1.002 |
Distrito Federal | 51 | 40 | 50 | 58 | 53 | 252 |
Total | 3.967 | 3.630 | 3.762 | 3.867 | 4.504 | 19.730 |
Manifestação e mais fiscalização contra “rabeira”
Depois da tragédia do último final de semana, a Prefeitura de Curitiba informou que vai reforçar a fiscalização para coibir a prática de pegar “rabeira” em ônibus do transporte público e outras atitudes perigosas nas canaletas. Segundo a Urbanização de Curitiba (Urbs), só em 2024 houve 70 acidentes nas canaletas, envolvendo ciclistas e pedestres, volume 21% superior ao de 2023. De 1 de janeiro até 27 de abril ano, já foram 16 acidentes com ciclistas e pedestres nas canaletas da cidade, com 18 feridos e uma morte.
Os principais motivos de acidentes nesses espaços são ações proibidas: caminhar, correr ou pedalar na canaleta e pegar “rabeira” nos veículos, além de desatenção, causada principalmente pelo uso do celular ou fones de ouvido, e atravessar a rua fora do local apropriado.
Além de mais fiscalização, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ônibus de Curitiba (Sindimoc) também convocou para esta terça-feira uma manifestação às 9 horas, na Câmara Municipal de Curitiba (CMC). O objetivo do protesto é mobilizar os profissionais para que se façam ouvir e mostrar que a culpa por essas ocorrências não é dos profissionais do transporte coletivo, mas sim das condições e comportamentos de risco que devem ser combatidos com mais vigor.