Paraná é o segundo estado com mais mortes em acidentes com veículos pesados

Em cinco anos, mais de 2,7 mil vidas foram perdidas em ocorrências envolvendo ônibus, caminhões, carretas e outros

Rodolfo Luis Kowalski
ACIDENTE COM ONIBUS DEIXA 2 MORTOS DE 20 FERIDOS

Acidente com ônibus em estrada no Paraná: a cada ano, mais de 500 pessoas morrem em ocorrências envolvendo veículos pesados no estado (Foto: Franklin de Freitas)

No último final de semana, um adolescente de 15 anos acabou morrendo na Linha Verde, no bairro Xaxim, em Curitiba, após pegar a “rabeira” de um ônibus e acabar sendo atingido por um biarticulado que transitava no sentido contrário. Uma tragédia, mas que não é uma cena tão rara. Isso porque o Paraná, conforme dados do Ministério da Saúde levantados com exclusividade pelo Bem Paraná, é o segundo estado com mais mortes em acidentes com veículos pesados. Em cinco anos, foram mais de 2,7 mil óbitos em ocorrências desse tipo, número inferior apenas ao verificado em São Paulo.

De acordo com o Contran (Conselho Nacional de Trânsito), são considerados pesados aqueles veículos com peso bruto acima de 3.500 quilos, sendo usados geralmente para o transporte de cargas ou passageiros. Dentro dessa categoria estão ônibus, microônibus, caminhão, caminhão-trator, trator de rodas, trator misto, chassi-plataforma, motorhome, reboque ou semi-reboque e suas combinações.

Para saber quantas mortes já foram registradas em ocorrências com veículos pesados, a reportagem apelou ao Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, compilando informações dos últimos cinco anos com dados disponíveis (2019 a 2023). E o levantamento acabou colocando o Paraná como um “destaque” nacional no assunto.

Em todo o país, 19.730 pessoas faleceram em acidentes com ônibus, caminhões e outros veículos pesados ao longo de cinco anos. E o último ano (2023) foi justamente aquele com mais mortes: 4.504, com aumento de 16,5% em relação ao ano anterior, quando haviam sido registrados 3.867 mortes.

A unidade federativa com mais ocorrências, em número absoluto, é São Paulo, que somou 3.034 mortes nos cinco anos analisados. Na sequência vem o Paraná, com 2.742 registros, sendo seguido ainda por Minas Gerais (2.132), Santa Catarina (1.516) e Rio Grande do Sul (1.369).

No caso paranaense, seguindo a tendência nacional, os registros de mortes em acidentes com veículos pesados tiveram alta nos últimos anos. Em 2021, por exemplo, haviam sido registradas 521 mortes. No ano seguinte (2022), já houve 551 óbitos. E no ano passado, foram 593 registros, um recorde para a série histórica iniciada em 1996. Até então, os anos com mais registros haviam sido 2022, 2019 (543 mortes) e 2020 (534).

Mortes em acidentes envolvendo veículos pesados no Brasil

Unidade da Federação20192020202120222023Total
Rondônia5347645768289
Acre17442835
Amazonas4946434760245
Roraima3121131443
Pará90737295130460
Amapá12101112247
Tocantins5040558387315
Maranhão90106119145150610
Piauí80717381118423
Ceará84699598115461
Rio Grande do Norte2918301333123
Paraíba2414281927112
Pernambuco108133151190237819
Alagoas3572664642261
Sergipe7856455125255
Bahia127120151157206761
Minas Gerais5073924043604692.132
Espírito Santo41527760107337
Rio de Janeiro95758484118456
São Paulo6686425255836163.034
Paraná5435345215515932.742
Santa Catarina3263122852753181.516
Rio Grande do Sul3042362782572941.369
Mato Grosso do Sul136121109135177678
Mato Grosso166168186221212953
Goiás2011672251842251.002
Distrito Federal5140505853252
Total3.9673.6303.7623.8674.50419.730
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM

Manifestação e mais fiscalização contra “rabeira”

Depois da tragédia do último final de semana, a Prefeitura de Curitiba informou que vai reforçar a fiscalização para coibir a prática de pegar “rabeira” em ônibus do transporte público e outras atitudes perigosas nas canaletas. Segundo a Urbanização de Curitiba (Urbs), só em 2024 houve 70 acidentes nas canaletas, envolvendo ciclistas e pedestres, volume 21% superior ao de 2023. De 1 de janeiro até 27 de abril ano, já foram 16 acidentes com ciclistas e pedestres nas canaletas da cidade, com 18 feridos e uma morte.

Os principais motivos de acidentes nesses espaços são ações proibidas: caminhar, correr ou pedalar na canaleta e pegar “rabeira” nos veículos, além de desatenção, causada principalmente pelo uso do celular ou fones de ouvido, e atravessar a rua fora do local apropriado.

Além de mais fiscalização, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ônibus de Curitiba (Sindimoc) também convocou para esta terça-feira uma manifestação às 9 horas, na Câmara Municipal de Curitiba (CMC). O objetivo do protesto é mobilizar os profissionais para que se façam ouvir e mostrar que a culpa por essas ocorrências não é dos profissionais do transporte coletivo, mas sim das condições e comportamentos de risco que devem ser combatidos com mais vigor.