Tragédia na BR-376: estimativa aponta que até 21 veículos foram soterrados (Defesa Civil PR)

O Paraná é uma das unidades da federação com mais áreas suscetíveis a deslizamentos. É o que revela um estudo do IBGE, o qual aponta que 17,6% do território estadual tem suscetibilidade muito alta para esse tipo de ocorrência e 30,9%, alta suscetibilidade. Isso significa que quase metade do território estadual é altamente suscetível a deslizamentos, o que ajuda a explicar a tragédia ocorrida na BR-376, quando um deslizamento de terra bloqueou totalmente a rodovia que corta o Paraná e soterrou carros e carretas na região de Guaratuba, no litoral do estado no início da noite de segunda-feira.

Até o final da tarde de ontem, duas mortes já haviam sido confirmadas no episódio, enquanto outras seis pessoas foram resgatadas com vida. A estimativa é foram pelo menos, seis carretas e de 10 a 15 carros soterrados.

No mapa “Suscetibilidade a deslizamentos do Brasil: primeira aproximação”, realizado sobre grade estatística composta por recortes de 1×1 km² e divulgado em 2019, o IBGE levou em consideração seis aspectos para avaliar os riscos de deslizamentos: Geologia, Geomorfologia, Pedologia, Cobertura e uso da terra e Vegetação, Declividade e Pluviosidade. Após analisar os mapas de cada um deles e determinar critérios de importância, chegou-se a um mapa final que demonstra a suscetibilidade de deslizamentos de todo o país, a partir de cinco intervalos de classificação: muito baixa, baixa, média, alta e muito alta suscetibilidade.

No caso paranaense, 3,9% do território entrou na classe de suscetibilidade muito baixa a deslizamentos, 15,4% foi classificado com risco baixo e 32,2%, com suscetibilidade média. Já a área altamente suscetível responde por 30,9% do território e a muito alta, por 17,6%.

Considerando-se apenas as duas últimas classes, temos que 48,5% do território estadual tem suscetibilidade alta ou muito alta a deslizamentos. Em todo o Brasil, só Rio de Janeiro (73,8%), Santa Catarina (65,2%), Espírito Santo (64,5%) e Minas Gerais (48,7%) possuem uma proporção maior do território altamente suscetível a esse tipo de ocorrência.

Não à toa, inclusive, as regiões Sul e Sudeste concentram as maiores áreas de suscetibilidade a deslizamentos – no Sudeste, 23,2% de sua área tem suscetibilidade muito alta a deslizamento e 24,6% alta suscetibilidade; no Sul, 15,6% do território tem suscetibilidade muito alta e 24,5% alta suscetibilidade a deslizamento.

“[Na região Sul] Tais áreas estão ligadas, em geral, a bordas de planaltos, como o Planalto Dissecado do Rio Uruguai, na Bacia Sedimentar do Paraná, e a algumas áreas serranas, como a Serra do Mar Paranaense e as Serras do Leste Catarinense, desenvolvidas sobre rochas metamórficas do Cinturão Móvel Mantiqueira. Essas áreas serranas, com elevada declividade, propiciam o desenvolvimento de solos rasos e com incipiente desenvolvimento, (…) contribuindo para a classificação em alta ou muito alta suscetibilidade”, afirma o IBGE.

Ainda segundo o Instituto, a declividade da área teve o maior peso no cálculo, ou seja, é o critério que mais contribuiu para a suscetibilidade a deslizamentos. Além disso, destaca ainda o IBGE, devido às características do meio físico, clima tropical e à alta pluviosidade, o Brasil apresenta um conjunto de fatores que favorece, em algumas regiões, o desencadeamento de fenômenos de deslizamentos.

Soma-se ainda o cenário de muita chuva, que deve continuar nos próximos dias. Entre a RMC e o litoral, as condições seguem muito parecidas com a dos últimos dias, ou seja, chuvas contínuas ocorrem a qualquer hora do dia.

Bombeiros trabalham noite e di para resgatar possíveis sobreviventes
Equipes do Corpo de Bombeiros do Paraná trabalham há mais de 20 horas ininterruptamente no atendimento à ocorrência de deslizamento no quilômetro 669 da BR-376, na região da Serra do Mar, no Litoral paranaense. Grande quantidade de terra, vegetação e detritos deslizaram sobre as pistas da estrada na noite de segunda-feira, após um grande acumulado de chuvas registrado. A rodovia está interditada nos dois sentidos e não há previsão para liberação do tráfego.

Segundo o governo estadual, 54 bombeiros militares trabalham em duas frentes, uma ao norte e outra ao sul do local de deslizamento. O objetivo de atuarem em conjunto na busca por vítimas, tentando encontrar vias de acesso sobre a terra ainda encharcada para acessarem os veículos visíveis.

Familiares e amigos de pessoas que eventualmente possam ter desaparecido nesse local podem entrar em contato com a Central de Atendimento da Polícia Científica, pelo telefone (41) 3361-7242. O serviço funciona 24 horas. Além disso, outras informações sobre o evento podem ser obtidas pelo telefone da Centro de Operações Cidade da Polícia – 0800-282-8082.


Estado de emergência e rotas alternativas
O Governo do Paraná publicou ontem o decreto 12.691/2022, declarando situação de emergência na região Leste do Paraná, que compreende municípios da Região Metropolitana de Curitiba e do Litoral. O decreto atende à recomendação da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, em razão das chuvas intensas que atingem a região desde o dia 25 de novembro.

No total, choveu quase 900 mm a mais do que a média histórica do mês de novembro na soma de cidades como Guaratuba, Antonina, Curitiba, Paranaguá, Guaraqueçaba e Tijucas do Sul.

Ainda ontem, a Arteris Litoral Sul reforçou o pedido aos motoristas para que não se desloquem para as rodovias BR-376/PR e BR-101/SC entre os municípios de Garuva-SC, Guaratuba-PR e Tijucas do Sul-PR. Essa rota está intransitável depois que o deslizamento de encosta obstruiu completamente essa ligação rodoviária, na altura do km 668,7.

Os bloqueios ocorrem na praça de pedágio de São José dos Pinhais-PR, km 635 da BR-376/PR, na unidade operacional da PRF em Tijucas do Sul (km 662) e na praça de pedágio de Garuva, no km 1,3 da BR-101/SC. Não há previsão de liberação e a recomendação da concessionária é para que os condutores antecipem a manobra de retorno (evitando prosseguir até os bloqueios definitivos nas duas praças). A rota alternativa indicada neste momento para ligação entre os dois estados é via BR-470 e BR-116.

Na noite de ontem, a PRF também interditou totalmente o sentido Litoral da BR-277 no período noturno por questão de segurança.