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Levantamento do Simepar apontou que nove cidades, de quase todas as regiões do Estado, tiveram chuvas bem abaixo da média histórica entre os meses de junho de 2019 a março de 2020. Redução média na precipitação foi de 33% nos municípios pesquisados.08/04/2020 – Foto: Geraldo Bubniak/AEN

O Paraná poderá passar por períodos de secas mais severas alternados com chuvas extremas, como as que atingiram o Litoral do estado em fevereiro. Essas alterações no regime de chuvas na Bacia do Iguaçu é resultado direto do desmatamento que ocorre na Amazônia. A afirmação é da doutoranda Ana Carolina da Silva, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), premiada na 5ª edição do “25 Mulheres na Ciência América Latina | Edição especial universitárias.

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A pesquisa premiada tratou exatamente desta questão com o projeto intitulado “Teleconexões e mudanças climáticas: como o desmatamento na Amazônia redefine a dinâmica das chuvas e da floresta na bacia do Iguaçu”.

O estudo possibilitou uma análise profunda sobre as consequências do desmatamento na Amazônia, estendendo os efeitos dessa degradação para o Sul do Brasil, especialmente na Bacia do Rio Iguaçu. Ana desenvolveu sua pesquisa sob a orientação do professor Franklin Galvão.

O programa que premiou o trabalho reconhece projetos inovadores de universitárias latino-americanas nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM).

Doutoranda Ana Carolina da Silva. Foto: Arquivo pesoal

A pesquisa de Ana Carolina destaca-se não apenas pela relevância científica, mas também pela contribuição significativa que oferece à compreensão dos efeitos interconectados entre ecossistemas distantes.

Ao investigar como o desmatamento na Amazônia altera o regime de chuvas em regiões remotas, como a Mata Atlântica no Paraná, a pesquisa demonstra a complexa relação entre a grande floresta tropical e o clima no Sul do Brasil.

Através do fenômeno das “teleconexões climáticas”, a pesquisa revela como o impacto ambiental na Amazônia pode gerar secas mais severas ou chuvas extremas, afetando a saúde das florestas e os recursos hídricos, com consequências diretas para a agricultura e para a qualidade de vida das populações locais.

O estudo de Ana explora uma conexão crucial entre a Floresta Amazônica e a Bacia do Iguaçu, por meio de sistemas atmosféricos como os Jatos de Baixos Níveis, ventos que transportam a umidade da Amazônia para o Sul do Brasil.

Com a crescente taxa de desmatamento, essas dinâmicas estão mudando, e a pesquisa oferece dados alarmantes sobre a redução da quantidade de chuva que chega à região, o que impacta diretamente a bacia hidrográfica que abastece grande parte do estado do Paraná.

Essa bacia é um dos principais reservatórios de água da região paranaense, com implicações econômicas e ambientais significativas, especialmente nas áreas de preservação e na agricultura.

Utilizando dados climáticos e de desmatamento de 2011 a 2023, Ana Carolina aplicou uma metodologia robusta, incluindo análise de paisagem, para investigar os efeitos dos eventos climáticos extremos na saúde da floresta da Bacia do Iguaçu.

Os resultados reforçam a necessidade urgente de estratégias para mitigar os impactos da degradação ambiental na região, propondo uma abordagem integrada que envolva ações de conservação, restauração florestal e políticas públicas eficazes.

Simepar aponta março seco

O mês de março deste ano poder fechar com um déficit de chuvas, segundo dados do Sistema de Tecnologia de Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar). De acordo com dados divulgados nesta segunda, 24, a quantidade de chuva em março/2025 está negativa em praticamente todo estado do Paraná, se comparada com as médias históricas de anos anteriores. Isto porque, os acumulados de chuva no mês (até o dia 23/03/25) não alcançaram as médias históricas.

Em vários municípios choveu muito pouco até então, como são os casos de Assis Chateaubriand, Capanema, Campo Mourão, Francisco Beltrão, Telêmaco Borba e Ubiratã.

A irregularidade na formação das instabilidades durante o mês explica esta condição, ou seja, a maioria dos eventos observados seguiram o padrão de verão, com chuva bem pontual.

Apenas na estação de Guarapuava a chuva já ultrapassou a média climatológica (anomalia positiva de 30,4 mm)

Contribuição para a ciência

Além da contribuição científica, o trabalho de Ana Carolina tem um forte impacto no empoderamento feminino na ciência, destacando a importância da presença de mulheres em áreas como as ciências ambientais e engenharia, ainda sub-representadas no campo da pesquisa.

O prêmio recebido simboliza não apenas o reconhecimento de seu trabalho, mas também a crescente participação das mulheres na ciência e a necessidade de mais mulheres em posições de liderança nas pesquisas científicas.

Como parte do reconhecimento internacional, o projeto será publicado no livro digital 25 Mulheres na Ciência 2025” e na plataforma online da 3M, ampliando o alcance das descobertas de Ana Carolina e contribuindo para a conscientização global sobre a importância da preservação ambiental.

Para a doutoranda, o prêmio representa o reconhecimento de seu compromisso com a pesquisa científica e a conservação das florestas, além de ser um incentivo para continuar sua jornada na busca por soluções para os desafios ambientais mais prementes.

Contribuições e Perspectivas Futuras

Os resultados da pesquisa de Ana Carolina ressaltam a necessidade de uma ação coordenada para combater o desmatamento ilegal e ampliar as iniciativas de conservação no Brasil. A implementação eficaz do Código Florestal, o fortalecimento de unidades de conservação e terras indígenas, e o incentivo ao manejo sustentável da terra são fundamentais para reverter os efeitos negativos do desmatamento na Amazônia e garantir um futuro mais equilibrado para as florestas do Sul do Brasil e suas comunidades.

Mulheres na Ciência

O prêmio 25 Mulheres na Ciência, promovido anualmente pela 3M, tem como objetivo reconhecer e divulgar o trabalho de mulheres cientistas da América Latina e do Canadá. Nesta edição de 2025 foram 25 vencedoras: 10 representando o Brasil, 10 representando o México e 5 de países da América Latina. Veja mais informações aqui.