Paranaense mantém viva a arte da forja samurai

Descendente direto de família de cuteleiros japoneses, Esdon Suemistu vive da arte de forjar a lendária katana

Ana Ehlert

A arte da cutelaria oriental, para com o fogo forjar no aço o fio e a curvatura perfeita de uma espada samurai, guarda segredos e exige a mesma disciplina praticada pelos soldados que as usavam. A lendária Katana era a arma usada pelos soldados da aristocracia japonesa, conhecidos como samurais, homens extremamente disciplinados e leais.
Um dos últimos descendentes dos antigos forjadores do Japão reside em Curitiba, no bairro Cachoeira. Eu pertenço à sétima geração da família de forjadores do Japão, conta o Katana Kaji (forjador de Katanas) Edson Suemitsu.

Ex- mecânico, natural de Bandeirantes, Suemitsu revela que desde pequeno era apaixonado pela cutelaria oriental. Por isso, os amigos e conhecidos sempre o presenteavam com livros sobre o tema.  Autodidata, hoje ele se dedica a fabricar a espada samurai e outras armas antigas.
É nos fundos de casa, em uma pequena garagem, que Suemitsu produz a arte milenar. Sobre labaredas de até 600ºC, ele inicia o molde da barra de aço importada da Áustria. Amolecida, a barra recebe repetidas marteladas até formar a lâmina (kami) e a alma da lâmina (Nakago que servirá de suporte para o cabo) da Katana. Nesta etapa também a espada recebe gravações (Horimono) e sulcos (Hi).
Em seguida, começa a feitura do fio e da ponta da espada. O Ha, a parte cortante da lâmina , traz desenhos característicos de cada artista, chamados de Hamon. Cada forjador tem o seu Hamon, um tipo de desenho de assinatura na lâmina. A minha é em formato de nuvens, revela.  

Após essa fase, começa o processo de polimento da espada e a busca pelo corte ideal. Suemitsu conta que o fio da katana deve ser capaz de cortar uma folha de papel. E por isso exige cuidados para não sofrer avarias ou perder o fio. A etapa seguinte é da ornamentação. A alma da lâmina recebe o colar da lâmina (Fuchi), o guarda-mão (Tsuba), o espaçador (Seppa) e o cabo (Tsuka). Todos importados.
A assinatura da espada (Mei) é feita na alma da lâmina (Nakago), que fica por baixo do cabo, feito com uma estrutura de madeira (Ho) recoberta por pele de arraia (Tsuka) importada. O cabo é então arrematado por um cordão de seda (Sageo) e acabamento de metal (Kashira).
Cada pele de arraia de cerca de 50 centímetros por 30 custa a Suemitsu cerca de R$ 4 mil, importadaa do Japão. Essa pele é usada no Japão para ralar gengibre e nenhuma é igual. Todas têm desenhos próprios que fazem a katana ser única, conta.

A riqueza de detalhes cobra seu preço. Uma espada feita por Suemitsu pode chegar a custar R$ 10 mil, R$ 15 mil. Além da matéria-prima ser importada, cada Katana exige de 12 a 15 dias de trabalho. Eu começo às oito da manhã e trabalho por pelo menos oito horas por dia, conta o cuteleiro.
A fama atravessou oceanos. Oito katanas produzidas por ele estão no Japão e lá o valor de cada uma chega a US$ 15 mil. Estados Unidos, Inglaterra, Argentina e Venezuela são outros países importadores da arte de Suemitsu. No Japão vale mais porque eles valorizam um material produzido por um filho de japonês que mora no Brasil e preserva a tradição de forjar as katanas, explica.