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Pesquisadora Renata Daldin em soltura de uma Raia-viola após avaliação (Foto: Eloisa Giareta)

O litoral do Paraná possui um ecossistema rico e complexo, habitado e frequentado por diversos animais marinhos. Apesar de muitas pessoas acharem que não existem raias e tubarões por aqui, “eles estão em toda parte e em todo lugar”, avisa Renata Daldin, pesquisadora do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar), iniciativa da Associação MarBrasil, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal.

A presença desses animais fantásticos é confirmada pelo biólogo Paulo Santos, pesquisador do Instituto Linha D’ Água. Ele participou de um estudo recente em que foram registradas 40 espécies de tubarões no litoral paulista e, que pela proximidade, também é válido para o Paraná. “Esse número é só de tubarões. Se considerarmos raias, são quase 75 espécies. Há ainda os grandes tubarões que ficam mais para fora e vivem além dos 200 metros de profundidade”, comenta Paulo.

Tubarões e as raias fazem parte do grupo elasmobrânquios: peixes que se diferenciam pelo esqueleto formado de cartilagem. “Eles têm fendas branquiais, que são aberturas nas laterais do corpo em tubarões e embaixo do corpo nas raias. Também são cobertos por pequenas escamas chamadas de placóides que parecem dentinhos ao contrário. Se você passar a mão sentido da cauda não vai sentir nada. Mas se você passar ao contrário, sentido cabeça, pode sair com um raspão dolorido e pode inflamar depois”, explica Renata.

Naturalmente as espécies têm distribuições diferentes. A pesquisadora do Rebimar, Eloísa Giareta, trabalha em parceria com pescadores para identificar as espécies que vivem ou frequentam o litoral paranaense. “Temos o tubarão-galha-preta (Carcharhinus brevipinna e Carcharhinus limbatus) e, em algumas épocas, registramos a presença do tubarão-anequim também conhecido como tubarão-mako (Isurus oxyrinchus). Da parte das raias, temos as raias-viola (Pseudobatos percellens e Pseudobatos horkelii), a raia-gardino, ou raia-viola-do-focinho-curto (Zapteryx brevirostris), e as mais comuns, como a raia-chicote (Hypanus guttatus), a raia-manteiga (Dasyatis hypostigma) e a raia-borboleta (Gymnura altavela)”.

Outra espécie bastante comum, segundo a pesquisadora Eloísa, é o cação-rola-rola (Rhizoprionodon lalandii e Rhizoprionodon porosus), também chamado tubarão-bico-fino-brasileiro. Constantemente, são avistados recém-nascidos e filhotes destas espécies.

Várias espécies de tubarões e raias usam o litoral do Paraná como área de parto, entre elas duas espécies de tubarões-martelo: o tubarão-martelo-recortado (Sphyrna lewini), conhecido pelos pescadores como cambeva clara e o tubarão-martelo-liso (Sphyrna zygaena), chamado de cambeva escura. Esses animais formam grandes agregações e ficam próximos à costa.

Apesar do porte relativamente grande, os tubarões-martelo possuem bocas muito pequenas e comem presas menores. Eles apresentam pouco risco aos humanos, e raramente se envolvem em incidentes com banhistas, surfistas e mergulhadores.

Os gigantes. “O litoral paranaense também é área de parto para o tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) e temos alguns bem grandes por aqui. Há ainda a raia-manta (Mobula spp.), que pode chegar a tamanhos absurdos. Elas saltam no Complexo Estuarino de Paranaguá, na frente da Ilha das Peças e na entrada da Ilha das Palmas e da Ilha do Mel”, conta Renata Daldin. “Há registros ainda de tubarão-cabeça-chata (Carcharhinus leucas) e do tubarão-branco (Carcharodon carcharias)”, complementa.

O Museu Municipal de Cananéia tem no acervo um tubarão-branco enorme taxidermizado. O animal foi capturado em 1992 e tem 5,5 metros de comprimento. É o segundo maior do mundo! No estômago dele foram encontrados peixes, tartarugas, outros tubarões e até uma bota.

O Projeto Tintureira, outra iniciativa da Associação MarBrasil, focou os estudos no tubarão-tigre, também conhecido como tintureira. Pesquisadores trabalham para identificar as áreas usadas como berçários, para que esses locais sejam prioridade na conservação, evitando desequilíbrios ambientais que possam levar a incidentes, como os que acontecem em Pernambuco há décadas.

O reencontro com o tubarão-lixa. Essa espécie era considerada extinta regionalmente, mas, a equipe coordenada por Paulo Santos publicou uma grande descoberta na revista Journal of Fish Biology recentemente. Com a colaboração de pescadores artesanais, pescadores recreativos, guias de pesca e caçadores submarinos, foram adicionados mais 30 registros de tubarão-lixa, incluindo duas capturas recentes no litoral sul de São Paulo, na divisa com o Paraná.

Os pescadores são fundamentais para os estudos de raias e tubarões. Eles possuem conhecimentos que são passados de geração para geração e que compartilham generosamente com os integrantes do Rebimar. A parceria já dura mais de dez anos e permitiu que milhares de animais fossem avaliados, estudados e devolvidos ao mar.

Normalmente a captura feita por pescadores ocorre alguns quilômetros mar adentro. Mas durante o verão os tubarões se aproximam mais da praia porque as fêmeas vêm para parir os filhotes. “Os padrões de pesca indicam que os animais entram na região do Complexo Estuarino de Paranaguá (PR). Entre a Ilha do Mel e a Ilha das Peças é um local importante para a reprodução destes animais porque o ano inteiro tem filhotes de várias espécies por ali”, analisa Renata.

Ataques são muito mais raros por aqui do que no nordeste do Brasil por um conjunto de fatores. “Um deles é pelo ecossistema que está equilibrado e isso acaba contribuindo para que não tenha esse tipo de interação negativa”, comenta Renata. “Toda vez que alguém entra na água provavelmente vai estar muito próximo de algum animal marinho e pode haver algum tipo de interação. O que não temos são incidentes como mordidas. O último registro foi durante a pandemia em São Paulo”, relembra a pesquisadora.

Podemos fazer a nossa parte para evitar encontros com tubarões e raias:
Evite entrar na água no período da manhã e quando está anoitecendo, porque os tubarões e as raias são noturnos.

Não entre na água com objetos brilhantes como brinco, anel ou enfeites no biquíni. Como as escamas dos peixes refletem devido a luz, animais como tubarões podem se confundir com esses reflexos e acharem que é um peixe.

Durante as marés de lua o cuidado deve ser redobrado, porque na lua cheia e na lua nova os tubarões e raias ficam mais ativos.

Algumas raias possuem um ferrão e ficam enterradas na areia. Entre na água arrastando os pés para afastá-las.