Paraná não é só na Bahia

Pelourinho em Curitiba: a história que quase ninguém conta sobre a Capital paranaense

A coluna de pedra foi derrubada por volta de 1853, na época da emancipação do Paraná

Isabelle Sales
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O antigo pelourinho de Curitiba teria sido derrubado por volta de 1853 (Foto: Luís Pedruco)

Muita gente associa a palavra “Pelourinho” a Salvador, na Bahia, onde o famoso bairro é um dos cartões-postais mais visitados do Brasil. Mas o que poucos sabem é que Curitiba também teve o seu próprio pelourinho, mais antigo até do que a fundação oficial da cidade.

O pelourinho era uma coluna de pedra ou poste de madeira erguido em espaço público para simbolizar a autoridade do município e da Coroa portuguesa. Ali eram fixados documentos oficiais e também era o local onde escravizados eram amarrados e açoitados em público. Mais do que uma estrutura física, o pelourinho representava o poder político, a justiça e a violência do Estado colonial.

Em Curitiba, ele foi instalado em 4 de novembro de 1668, por Gabriel de Lara, Capitão Mor e Procurador do Marquês de Cascais. Isso aconteceu 25 anos antes de Curitiba ser elevada à categoria de vila, em 1693. Hoje, uma pedra comemorativa com placa na Praça Borges de Macedo, lembra essa história.

O entorno do pelourinho

A localização do pelourinho não era por acaso. Em 1726, a poucos metros dali, foi construída a Casa de Câmara e Cadeia, seguindo o costume colonial de manter próximos a igreja, o pelourinho e o centro administrativo, símbolos do poder espiritual, judiciário e municipal.

O prédio de dois andares funcionou por quase 200 anos: no andar superior, a Câmara Municipal; no térreo, a cadeia. Conforme pesquisa do site Turistória, a importância foi tanta que inspirou medidas inéditas para Curitiba, como a implantação da iluminação pública em 1848, com 20 lampiões vindos do Rio de Janeiro, para reforçar a segurança do local.

O vereador José Borges de Macedo, primeiro administrador da cidade entre 1833 e 1835 e que hoje dá nome à praça, foi o responsável por essa iniciativa.

Demolição e apagamento da memória

Apesar de sua relevância histórica, tanto o prédio da Câmara e Cadeia quanto o pelourinho foram destruídos. O edifício foi desativado após um incêndio em 1898 e demolido em 1900. Já o pelourinho desapareceu décadas antes; segundo o historiador Rocha Pombo, ele teria sido derrubado por volta de 1853, na época da emancipação do Paraná.

A demolição não foi apenas prática, mas também simbólica. O pelourinho remetia à escravidão e ao passado colonial, cada vez mais rejeitado na memória oficial.

Enquanto o Pelourinho de Salvador virou símbolo cultural e turístico, o de Curitiba quase desapareceu da memória coletiva. Até hoje, poucas referências lembram sua existência.

Na década de 1990, foi criado o espaço Arcadas do Pelourinho, atual Mercado das Flores, como referência indireta. Também há uma pintura do artista Sérgio Ferro no teto do Memorial de Curitiba.

Em Paranaguá, um símbolo preservado

Se em Curitiba o pelourinho desapareceu, no Litoral do Paraná, em Paranaguá, ainda há um exemplar preservado. Construído em 1646, ele resistiu como símbolo da autoridade portuguesa por mais de dois séculos.

A réplica do pelourinho (Foto: IHGP)

Hoje, uma réplica pode ser vista na Praça Pires Pardinho, no Centro Histórico, e parte do pelourinho original está no Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP). Diferente da capital, a cidade litorânea mantém viva a memória desse marco colonial, permitindo que moradores e visitantes entendam melhor a história do período.