Eduarda Pagnussat mora há um ano sozinha e de aluguel: “Às vezes sinto falta de ter um barulho na casa” (Valquir Aureliano)

É cada vez mais comum no Paraná as pessoas viverem sozinhas e de aluguel. É o que revela o módulo Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o estudo, a espécie de unidade doméstica que mais cresceu no estado na última década é a unipessoal, constituída por uma única pessoa. Além disso, nos últimos anos também caiu o número de paranaenses que moravam numa casa própria e há cada vez mais gente pagando aluguel para ter onde morar.

Em 2022, sempre de acordo com o IBGE, o Paraná possuía 4,16 milhões de domicílios. Desse total, 643 mil eram lares com apenas um morador, número que cresceu quase 61% desde 2012. Uma década atrás, 11,4% dos lares paranaenses eram unipessoais. Atualmente, esse porcentual já chega a 15,4%. Também houve avanço na proporção de lares compostos (constituídos pela pessoa responsável, com ou sem parentes, e com pelo menos uma pessoa sem parentesco – agregado, pensionista, convivente, empregado doméstico, etc) -, passando de 1,4% para 1,7%.

Ao mesmo tempo, a proporção de lares nuclares (formados por casal, com ou sem filho, ou por uma pessoa – homem ou mulher – com filho ou enteado) caiu de 72,5% para 70,2% no período analisado, enquanto a de lares estendidos (constituídos pela pessoa responsável com pelo menos um parente, que não seja filho, enteado ou cônjuge) recuou de 14,7% para 12,7%.

Já com relação à condição de ocupação dos domicílios paranaenses, a grande maioria dos lares, considerando-se tanto aqueles já pagos como aqueles ainda sendo quitados, são próprios (67,8% do total). Em 2016, porém, esse porcentual era maior, de 71,4%.

E se cada vez menos gente realiza o sonho da casa própria, isso acontece, em grande medida, porque é crescente o número de pessoas pagando aluguel no estado. No ano passado, o porcentual de inquilinos alcançou 23,4% (quase um quarto) dos lares paranaenses, contra 19,6% (menos de um quinto) seis anos antes.

Além disso, também houve aumento na proporção de pessoas vivendo em domicílios cedidos (residências “emprestadas” gratuitamente por empregador de morador, instituição ou pessoa não moradora, sendo ela parente ou não): em 2016, 8,4% dos domicílios no Paraná eram cedidos. Em 2022, esse porcentual já era de 9,1%.

(Valquir Aureliano)

Das vantagens de se viver sozinho: ‘Queria ter o meu cantinho’
Já a beltronense Eduarda Cividini Pagnussat, 22 anos, se mudou para Curitiba em 2018, após ser aprovada no Enem para cursar Turismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Na Capital, chegou a morar com uma tia-avó por mais de ano e depois a dividir apartamento com duas amigas. Há pouco mais de um ano, porém, as amigas precisaram se mudar e ela decidiu que era hora de morar sozinha.

“[Quando tive de me mudar] Optei por buscar um apartamento que fosse meu. Que fosse alugado, mas que eu pudesse morar sozinha, por mais que fosse um pouco menor do que o apartamento que eu dividia com as minhas amigas”, diz ela, explicando que alguns fatores a fizeram tomar essa decisão, entre eles o trabalho que teria para encontrar alguém adequado para dividir o aluguel e a possibilidade de ter um canto que fosse só seu.

“Eu gosto e sempre gostei de ficar sozinha, ter o meu canto. Quando morava com outras pessoas, passava bastante tempo no meu quarto e queria ter um espaço que fosse meu assim definitivamente, até porque já mudei bastante de cidade na minha vida e em Curitiba já mudei de casa algumas vezes. Eu queria ter essa base que eu pudesse considerar meu lar, que fosse de fato o meu cantinho”, explica a jovem, que está fazendo o mestrado agora.

Morar sozinha, inclusive, é algo que vem agradando Eduarda, que destaca o amadurecimento que está tendo e a privacidade e autonomia que conquistou como os pontos mais positivos da experiência. Por outro lado, o fato de não ter alguém com quem dividir as despesas e a própria questão da solidão são as desvantagens. “

Quando eu morava com as minhas amigas a gente sempre se encontrava na cozinha e tomava café juntas, ficava conversando… Às vezes eu sinto falta de ter um barulho na casa, ter alguém para trocar uma ideia”, aponta.

Perguntada, ainda, se pretende um dia comprar um imóvel próprio, ela explica que sim, mas que não se trata de algo que esteja no horizonte por ora. “É comprometimento demais, você acaba ficando meio que preso àquele lugar. Não sei quando vou estar pronta para ter esse vínculo e a questão financeira também é um grande impedimento para se ter um imóvel próprio, porque é um compromisso financeiro bem grande. Então acho que o aluguel, nesse momento da minha vida, é uma alternativa para você ter o seu canto de uma maneira que não seja [assumindo] um compromisso eterno como é comprar um imóvel próprio”.

Preço dos imóveis, custo dos juros e receio de ‘fincar raízes’ derrubam sonho da casa própria
Há onze anos vivendo na Grande Curitiba, o baiano Pitherman Santos Teixeira, 33, resolveu fazer do Paraná a sua casa após vir para Curitiba realizar um trabalho temporário e se apaixonar pela cidade. Ao longo desses anos chegou a se casar, depois se divorciou, entrou em outro relacionamento e há cerca de três meses voltou a morar sozinho, pagando aluguel por uma casa em Colombo, próximo do Parque Atuba, no limite com a Capital.

“Aqui em Curitiba morei uns 3 ou 4 anos sozinho e também cheguei a morar em pensionato, mas com o tempo a gente fica mais rabugento e aí quer morar sozinho [risos]. Prefiro gastar um pouco a mais, mas morar sozinho, até porque tenho pet, gosto de ter minhas coisas”, explica ele, que é técnico em eletromecânica e agora está se formando na área de TI (Tecnologia da Informação).

Questionado se ainda nutre o sonho da casa própria, ele aponta que já teve essa vontade, mas que hoje vê esse desejo como algo superado e herdado por influência de gerações anteriores. “Hoje em dia creio que não é mais tão vantajoso [investir num imóvel próprio]. Se eu comprar um imóvel aqui, vou financiar por 35 anos. Sou técnico em manutenção, me especializando em TI. Se consigo um trabalho no CIC, já não compensa mais [ter uma casa em Colombo. Não vejo vantagem em criar raiz, não tenho essa necessidade”, afirma ele. “Hoje, se você não tem condição de adquirir um imóvel à vista, vai ter de financiar. E os juros em cima disso são absurdos… Então o dinheiro que ia para dar entrada num imóvel às vezes é preferível investir”, ressalta.