
Nesta terça-feira (7), cerca de 1.500 mulheres do campo e da cidade fazem uma Jornada de Lutas no centro de Curitiba, para cobrar direitos e “despejo zero” no Paraná. A ação acontece às vésperas do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, e reúne pessoas vindas de comunidades rurais e indígenas de todas as regiões do estado e de ocupações urbanas da capital e da região metropolitana.
A ação é organizada pelas mulheres da Articulação Despejo Zero Paraná, que há cerca de um ano se mobiliza pelo direito à moradia e acesso à terra para a reforma agrária. A Jornada também vai reivindicar pautas históricas e atuais, traduzidas no lema “Mulheres em resistência, contra todas as formas de violência. Por Terra, Teto e Trabalho, por democracia e sem anistia”.
A marcha começou com concentração na Praça 19 de Dezembro e segue para a Praça Nossa Senhora de Salette, no Centro Cívico. A partir das 14h está marcada uma audiência no Palácio das Araucárias, auditório Mário Lobo, com autoridades municipais e estaduais, quando será entregue a pauta de reivindicações das mulheres.
Entre os nomes confirmados estão os desembargadores do Tribunal de Justiça Maria Aparecida Blanco e Fernando Prazeres; Roland Rutyna superintendente Geral de Diálogo e Interação Social do governo do estado (SUDIS); Nilton Bezerra, superintendente do INCRA/PR; Aline Bilek e Regis Sartori, do Ministério Público estadual (MP/PR), além parlamentares e prefeitos.
Ao final da audiência, haverá a partilha de 800 cestas de alimentos oferecidas pelas camponesas Sem Terra para as moradoras de ocupações urbanas, como manifestação de solidariedade e resistência conjunta entre as mulheres. A iniciativa também irá cobrar agilidade no fomento à agricultura familiar e agroecológica para a produção de alimentos, e para a realização de políticas públicas de combate à fome.
A Articulação Despejo Zero é formada por movimentos e coletivos, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento Popular por Moradia (MPM), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Movimento de Trabalhadores Por Direitos (MTD); a União de Moradores e Trabalhadores (UMT), coletivo Marmitas da Terra, entre outros coletivos e organizações.
Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra do PR
Para as mulheres do MST do Paraná, as ações do dia 7 fazem parte de uma jornada de três dias, entre 6 e 8 de março. Está prevista a participação de mais de 500 camponesas, de todas as idades, acampadas e assentadas em comunidades do MST do estado.
Para garantir a realização do encontro, foram meses de organização, reuniões locais, estaduais, presenciais e online, ações locais de arrecadação de recursos, venda de rifas e produtos produzidos pelas próprias mulheres.
Além da marcha e da negociação unitárias no dia 7, a programação da Jornada das Mulheres Sem Terra terá formações sobre a conjuntura atual, questão agrária e o enfrentamento à fome, as relações emancipatórias e o autocuidado. Também estão previstas atividades culturais e visitas a museus da cidade. Negociações com secretarias do governo estadual e como INCRA também devem ocorrer ao longo dos três dias.
Antes de voltarem para casa, as mulheres do campo também vão participar da marcha do dia 8 de março no centro da capital, organizada pela Frente Feminista de Curitiba, RMC e Litoral. A manifestação terá concentração na Praça Santos Andrade, às 17h.
A ação do MST do Paraná faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, que traz como lema “O agronegócio lucra com a fome e a violência, Por terra e democracia, mulheres em resistência”. A centralidade das lutas e denúncias focam no problema da fome no Brasil, da violência e da destruição da natureza.
Por que as mulheres se manifestam?
O dia 8 de março é a data anual em que mulheres de todo o mundo se manifestam por direitos iguais e pelo fim da violência. No Brasil, os últimos anos têm sido de crescimento dos casos de feminicídio (ou seja, são assassinadas somente pelo fato de ser mulher).
Segundo a pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 18,6 milhões de mulheres brasileiras foram vitimadas em 2022. Para se ter dimensão deste número, é o equivalente a um estádio de futebol com 50 mil pessoas lotado todos os dias. Todas as formas de violência contra a mulher apresentaram crescimento acentuado no ano passado: 28,9% das brasileiras sofreram algum tipo de violência de gênero em 2022, 4,5% a mais do resultado da pesquisa anterior.
No caso dos feminicídios, o primeiro semestre de 2022 também registrou recorde, com 10,8% a mais em relação ao mesmo período de 2019. Quatro mulheres foram assassinadas por dia entre janeiro e junho, em média, totalizando 699 vítimas. Entre esses casos, 62% das vítimas eram negras e cerca de 80% delas foram mortas por parceiros ou ex-parceiros íntimos. Em 2021, foram 1.341 feminicídios.
Quando o assunto é o acesso à moradia e à terra, as mulheres são mais prejudicadas em situações de despejo, e também quando não há infraestrutura nas comunidades, como acesso à saúde, educação, transporte. Isso porque 15 milhões de moradias informais são ocupadas por mulheres, número que representa 60% do total desses lares no Brasil, segundo dados de 2021. E também por estar concentrada nas mulheres a responsabilidade pelo cuidado dos filhos e de pessoas idosas.
Pelo menos 7 mil famílias, de 83 comunidades rurais, sofrem com os riscos de despejo no estado. Segundo levantamento do Plano Estadual de Habitação, feito pelo próprio governo do estado e divulgado neste ano, cerca de 511 mil famílias paranaenses não têm lugar adequado para morar. O número de famílias em favelas passou de 90 mil para 114 mil entre 2019 e 2022.