Prática do xadrez bate recorde de torneios no País; Curitiba está no mapa do esporte

Entre mesas espalhadas pela cidade, campeonatos online e aulas nas escolas, curitibanos fazem parte da comunidade enxadrista

Lívia Berbel, sob supervisão de Mario Akira

Xadrez faz parte das atividades do Esporte e Lazer de Curitiba (Franklin de Freitas)

A prática do xadrez está crescendo no Brasil. A Confederação Brasileira de Xadrez (CBX) registrou 94 torneios apenas no mês de maio, um recorde de eventos, uma média de três por dia, contra 77 em julho de 2022, o recorde anterior. Nos cinco primeiros meses deste ano já foram 222 eventos ou torneios. E os torneios ajudam a aumentar também o número de praticantes.

Segundo a Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude de Curitiba, há diversas ações e comeptições de xadrez na cidade. O Circuito Xadrez Xeque Mate é uma delas. São quatro etapas por ano, cada uma levando cerca de 1.500 enxadristas participantes. O Programa de Incentivo ao Esporte da Prefeitura de Curitiba também beneficia atletas e a própria Federação de Xadrez do Paraná (FEXPAR).

Em Curitiba, as mesas de xadrez espalhadas pelos parques são um clássico na cidade, e ganham incentivo nas escolas e outras iniciativas. Thaís Regina Favorito tem um projeto de aulas de xadrez há 15 anos. No contraturno das aulas, a professora se reúne com os alunos da Rede Municipal de Curitiba para ensaiar jogadas e criar novas estratégias.

“Adoro dar aulas de xadrez para as minhas crianças. Amo vê-las criar as estratégias…a gente sempre discute sobre o que elas estão fazendo, e na hora dos campeonatos sempre conversamos sobre o que aprenderam”, conta.

As aulas de xadrez, que acontecem no contraturno escolar e em algumas aulas de Educação Física, são muito importantes para o desenvolvimento dos alunos, comenta a professora. Para ela, que tem contato com o esporte há anos, um bom enxadrista com certeza é um excelente aluno, com habilidades para resolver problemas e desenvolver o raciocínio.

A professora Thais conta que foi por causa dos torneios que decidiu começar com os projetos. Além da prática do esporte ser benéfica, ela enxergou a possibilidade de ajudar na socialização dos seus alunos. “Eu vi a oportunidade para as crianças conhecerem novos enxadristas, fazerem amigos.. Elas aprendem que, jogando xadrez, podem conhecer outras pessoas, outros lugares e por que não viajar, né?”

Durante a pandemia, o projeto foi cancelado. Mas neste ano, as aulas de xadrez voltaram “para sempre”, segundo a professora. O próximo evento para o qual os alunos estão se preparando é a segunda etapa do Circuito Xeque Mate, que acontece no final deste mês.

O xadrez já está inserido nas atividades ofertadas pela Smelj. Além das atividades nas escolas, os tabuleiros são levados para parques e praças durante os festivais de férias, inclusive no formato gigante, atraindo sempre a atenção de quem participa das atividades.

“O xadrez proporciona a criação de sinapses, diversas áreas do cérebro são ativadas. Para praticá-lo, é necessária muita organização do pensamento. Por isso que dificilmente os grandes jogadores desenvolvem doenças neurodegenerativas”, explica Wilson da Silva, coordenador do Clube de Xadrez Erbo Stenzel, um dos grandes pontos do xadrez em Curitiba, em matéria no site da Prefeitura de Curitiba de maio de2022.
“O xadrez tem a ver com educação, esporte e cultura. É uma atividade multidisciplinar e que acompanha o desenvolvimento da história humana”, explica Wilson.
O Clube de Xadrez Erbo Stenzel, localizado na Galeria Júlio Moreira, no Largo da Ordem, passa por reforma desde o mês passado. A reforma vai deixar o Clube de Xadrez totalmente renovado e mais confortável para as centenas de enxadristas que frequentam o local. Com as obras, o espaço ficará fecha do até o próximo mês.

(Franklin de Freitas)


Cenário
Em Curitiba, a segunda etapa do Circuito Xeque Mate acontece no dia 29 de julho, o próximo sábado, a partir das 9h, no Sesc Portão. As inscrições já foram encerradas, mas há a possibilidade de assistir ao torneio. São mais de 1.500 participantes.
No site da Federação de Xadrez do Paraná (Fexpar), também há um calendário com todos os eventos deste ano. Nas redes sociais, a Federação informa sobre as datas para inscrição.

Interesse se intensificou no pós-pandemia
Segundo a Confederação Brasileira de Xadrez (CBX), o último recorde de torneios de xadrez aconteceu em julho de 2022, com 77 torneios no mês. Neste ano, só até maio já aconteceram 222 eventos. Uma média de 1,48 eventos por dia. A própria média deste ano já ultrapassa a de 2022, quando nos primeiros 5 meses foram contabilizados 0,84 campeonatos por dia.

O presidente da CBX, Máximo Igor Macedo, acredita que o crescimento do xadrez seja reflexo da popularidade do esporte e da motivação dos novos enxadristas. “A comunidade enxadrista está cada vez mais motivada após a pandemia. O momento do xadrez é bem mais popular em todas as regiões do Brasil.”

Uma das razões pode ter sido que, durante o isolamento, os jogos online tenha ajudado a dissemir a prática do esporte, mesmo à distãncia.

Além disso, o aumento das competições ajuda os próprios jogadores. “Esse crescimento dos eventos de xadrez contribui muito para o atleta, pois promove o intercâmbio, colabora no aprimoramento da parte técnica e competitiva”, explica Macedo.

O calendário do xadrez brasileiro segue cheio até o final do ano. A meta da Confederação é ultrapassar a marca histórica de 2022, quando foram realizados 632 torneios, incluindo as 22 etapas do circuito nacional.

Clube Erbo Stenzel
Palavra de mestre

Quando surgiu, em 1984, o Clube de Xadrez Erbo Stenzel (ou Erbo, como o clube é conhecido) tinha apenas uma mesa – uma tábua sobre cavaletes –, tabuleiros e peças. O nome é uma homenagem ao artista Erbo Stenzel, que além de escultor foi um exímio enxadrista.

“O xadrez tem a ver com educação, esporte e cultura. É uma atividade multidisciplinar e que acompanha o desenvolvimento da história humana”, explica Wilson da Silva, coordenador do Clube de Xadrez Erbo Stenzel.

Uma das figuras marcantes que faz parte dessa trajetória é Jaime Sunye, segundo enxadrista do Brasil a conquistar o título de Grande Mestre (maior título do esporte). Sunye participa desde os primeiros anos da comunidade e frequenta a casa até os dias atuais.

Veja abaixo o que ele conta sobre o clube:
“Quando o Erbo foi criado, nós tínhamos poucos espaços para jogar xadrez. A gente queria um lugar público, para praticar e reunir os apreciadores do jogo. Várias gerações de enxadristas se formaram no Clube. Ele também virou um espaço de difusão do conhecimento na cidade. Tornou-se um grande centro de xadrez. A gente vê muita gente jogando no Erbo, e isso faz a diferença.Eu comecei a praticar xadrez em 1970, na Biblioteca Pública. Até os 12 anos eu frequentava o local. A gente aprendia a jogar lendo os livros e vendo os outros jogarem. O aprendizado seria bem mais rápido se houvesse alguém orientando, como acontece no Clube de Xadrez Erbo Stenzel. Para contribuir com a comunidade, eu tento comentar sobre temas, fazer palestras, explicar como funciona, passar teorias mais aprofundadas. Conto histórias sobre o xadrez como forma de preservá-las. Se a gente deixar só para os clubes pagos, a prática fica limitada. Para praticar xadrez, basta o espaço, as mesas e as pessoas para jogar.”
Jaime Sunye – 64 anos, Grande Mestre Internacional de Xadrez