
Ficar um tempo imerso na natureza, aproveitando uma cachoeira ou a vista do alto de uma montanha, é um privilégio. E sabendo dessa condição, um grupo de Curitiba criou há quase três anos um projeto para proporcionar momentos de aventura para pessoas com deficiência. Trata-se do Inclusão e Aventura, uma iniciativa que desde novembro de 2022 já realizou mais de 30 ações em diferentes lugares, impactando mais de 50 famílias. Trilhas, rapel, passeio de jipe, canoagem e passeio de triciclo foram alguns dos passeios já realizados.
Idealizador do projeto, Robson Lopes Roque tem 40 anos de idade e começou há 15 a sua trajetória no Montanhismo. Nesses passeios, gostava de levar os amigos para conhecer novos lugares, curtir um pôr do Sol e admirar a paisagem. Como sabia que muitas dessas pessoas não tinham o condicionamento físico ideal para a atividade, procurava ajudar carregando a mochila dos convidados ou levando mais água para eles carregarem menos peso. “Até cheguei a carregar pessoas na trilha, em algumas dificuldades”, recorda ele.
Pouco tempo depois, através de voluntários de Joinville, ele conheceu o projeto Montanha para Todos e descobriu a Cadeira Julietti, projetada e construída para permitir que pessoas com deficiência física possam percorrer trilhas. O equipamento é desmontável, fácil de transportar, possui apenas uma roda com pneu de borracha e amortecedor e necessita de dois operadores, além do passageiro. O assento fica a um metro de altura, possui encosto e cinto de segurança.
Com a descoberta, nasceu a vontade de começar a levar pessoas com deficiência para a montanha. E no final de 2022, quando já estava há um ano pesquisando sobre a cadeira Julietti, ele descobriu que um grupo do Paraná, os Montanhistas de Cristo, possuíam um desses equipamentos. A cadeira, no entanto, estava em Campo Alegre (SC).
“Consegui o contato do Thomas, que era quem estava com essa cadeira, e ele falou pra gente ir lá, para ele ensinar a montar a cadeira e a gente fazer alguns trajetos por ali com algum PCD. Fizemos essa primeira experiência e, quando terminou esse evento, o Thomas gostou da gente, viu que era um grupo legal e perguntou se não gostaríamos de montar um projeto em Curitiba com a cadeira. Foi aí que começou o grupo Inclusão e Aventura”, relata Roque.
“O que mais encanta é o brilho nos olhos deles”
Desde sua criação, o projeto Inclusão e Aventura já realizou mais de 30 ações, levando pessoas com deficiência para lugares como o conjunto Marumbi (em Morretes), o Morro do Getúlio (em Campina Grande do Sul), o Morro Samambaia (em Quatro Barras), Araçatuba (em Tijucas do Sul) e cachoeiras diversas, entre outros lugares. Além disso, com o passar do tempo e dadas as limitações da cadeira Julietti do grupo (que suporta carregar pessoas com até 50 quilos), as ações começaram a ser diversificadas.
“Para não deixar quem pesa mais de 50 quilos de fora, começamos a fazer outras ações, outros eventos. Fizemos a remada de canoagem em Paranaguá, no nascer do Sol, e levamos dois PCDs nesse evento; um passeio de triciclo; outro de jipe; rapel… E agora, através de uma vaquinha e venda de rifa, adquirimos um triciclo de corrida de rua. Deve chegar em 30, 60 dias, e vamos entrar na corrida de rua agora também”, antecipa Roque.
Ainda segundo ele, o encantamento dos participantes começa já na hora de fazer uma entrevista, uma primeira conversa com quem quer se aventurar. “É uma coisa que eles nunca pensariam que poderiam fazer, então quando a gente vai conversar com eles já vemos o brilho no olhar”, diz ele, destacando também a força dos voluntários que apoiam o projeto. “Ver todo mundo ajudando, passando a cadeira de mão em mão para poder subir as pedras e chegar lá no cume… São coisas que dão força para a gente querer continuar cada vez mais.”
Como funciona o projeto
Para participar do projeto, seja como voluntário ou como um novo aventureiro, o primeiro passo é entrar com o grupo Inclusão e Aventura através do Instagram (@inclusaoeaventura). No caso das pessoas com deficiência, é feita uma avaliação para saber o que ela deseja, qual seu condicionamento e também necessidades específicas. Já os voluntários também devem mandar mensagem via direct para, assim, receber as devidas orientações sobre como funciona o grupo e depois ser adicionado num grupo de WhatsApp.
Atualmente, há cerca de 30 pessoas com deficiência numa fila de espera para participar das ações do grupo. Para conseguir atender a demanda, há a intenção de adquirir mais uma cadeira Julietti, que custa em torno de R$ 10 mil. Outra opção também seria construir uma cadeira por conta, como o grupo Inclusão Radical, de São Paulo, já fez ao criar a cadeira Baruquete. De toda forma, quem quiser ajudar nessa empreitada pode entrar em contato com o grupo também via Instagram.
A próxima ação do grupo acontecerá em 13 de setembro, no Cânion da Faxina. Voluntários que participam podem ajudar carregando mochilas e ajudando a transportar a própria cadeira Julietti, entre outras coisas.