

Duas comunidades de Curitiba, a Portelinha (no bairro Santa Quitéria) e o Jardim Santos Andrade (no Campo Comprido), devem começar a passar em breve por uma verdadeira revolução em breve. É que a Capital está muito perto de se tornar a primeira cidade paranaense a participar do programa Favela 3D, um projeto criado pela ONG Gerando Falcões cujo objetivo é transformar os espaços de favela com uma atuação sistêmica que propõe soluções de desenvolvimento e urbanismo social, cocriadas em participação com a população local.
O programa, que já é realidade em comunidades de São Paulo, Alagoas, Rio de Janeiro, Ceará e Rio Grande do Sul, procura formar uma rede entre iniciativa privada, órgãos públicos e ONGs, colocando em prática diversas fases de um grande projeto que visa transformar as favelas em diversos aspectos: cultural, educacional e de urbanismo, entre outros. Em Curitiba, a iniciativa será coordenado pela Gerando Falcões e executado pelo Instituto Incanto, única unidade acelerada da Rede Gerando Falcões no Paraná.
Camila Casagrande, fundadora do Instituto Incanto, explica que os locais escolhidos para receber a iniciativa são duas comunidades que ficam no entorno do Instituto. Lançada oficialmente em 2017, a instituição atualmente atende 650 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social usando a arte, cultura, esporte, educação, tecnologia e a qualificação profissional como ferramentas de humanização e desenvolvimento. Com o novo projeto, a ideia é aprofundar ainda mais a transformação das duas comunidades e de seus moradores.“Fomos convidados [a implementar o projeto em Curitiba] no ano passado e no início deste ano começamos o planejamento. Nos dois territórios em questão temos uma questão de regularização fundiária, então estamos conversando com o primeiro setor [Poder Público] para regularizar esses espaços”, explica a ativista, destacando que o objetivo do Favela 3D é colocar os proprios moradores como protagonistas no processo de transformação das localidades. “Queremos olhar para as diferentes mazelas sociais e trazer soluções coletivas simultaneamente para todas elas”, complementa.
Assim que superada essa etapa de regularização fundiária, o próximo passo é a assinatura de um termo de cooperação entre as ONGs e o Governo do Estado para que se tenha início a captação de recursos e a busca por parcerias para o início efetivo do Favela 3D na Portelinha e no Jardim Santos Andrade. A partir daí, a missão é em cerca de dois anos conseguir implementar o programa. E a promessa é de resultados expressivos, fazendo o programa nas duas comunidades do Santa Quitéria e do Campo Comprido serem um case de sucesso a ser replicado em outras favelas pela cidade.
“É surreal [o impacto do programa nas comunidades atendidas]. Tive oportunidade de ir para Medellín, na Colômbia, conhecer o caso de sucesso que é a reconstrução da cidade após a guerra com o narcotráfico, e no Brasil o que está acontecendo eu nunca vi, é algo pioneiro. A meta é zerar o desemprego dentro da favela. Uma meta audaciosa, mas que muitos das Favelas 3D já conseguiram, o que é muito positivo.
Outra meta é zerar a fila de crianças na creche, garantir que todas as crianças estão na creche ou na escola”, diz a fundadora do Incanto. “São vários indicadores de impacto, mas a transformação maior é a de dentro, no coração das pessoas, mostrando que eles podem ser o que eles quiserem na vida e que eles merecem ocupar todos os espaços. Isso é bem importante, traz a dimensão do que é o projeto favela 3D. Fazer essas pessoas terem autonomia, serem protagonistas de suas histórias, é o mais bonito de se ver”, finaliza.
O Favela 3D em Curitiba está em fase inicial. Até o momento foram realizadas a etapa do diagnóstico da comunidade e também o planejamento inicial do projeto.
Comunidade se anima com projeto: “Vai melhorar a vida de centenas de famílias”
Na comunidade Portelinha, o clima é de otimismo diante da iminência de implantação do projeto Favela 3D. Segundo Arildo Ribeiro Taborda, mais conhecido como Dida e presidente da Associação de Moradores da comunidade, atualmente há cerca de 300 famílias vivendo no local, uma área de ocupação que existe desde 2007, cortada em duas áreas pela rua Rezala Simão (entre o final do bairro Santa Quitéria e começo do Fazendinha), e que há 16 anos sonha com a regularização fundiária.
“Esse projeto vai melhorar a vida de centenas de famílias. Somos em 300 famílias aqui, mais da metade vai ter de ser realocado, porque está em área de preservação permanente, perto de fundo de vale, e quando chove alaga tudo. Esse projeto vai ajudar muito as famílias e o meio ambiente, é por isso que torcemos e esperamos que a Prefeitura [de Curitiba] e o Governo do Estado abracem o projeto”, aponta Dida, que desde 2008 mora na comunidade e desde 2013 é líder comunitário.
“Pra gente é uma benção. Estamos há 17 anos lutando com o município para poder regularizar a área e tirar as famílias que estão em áreas de risco ou de proteção. Temos 40, 50 famílias que vivem em um buraco, uma parte ruim da comunidade. Lá tem criança, idoso, pessoas com deficiência, e quando chove alaga tudo. Com o Favela 3D, muitas vidas serão mudadas e estivemos participando da reunião com o governador, que também ficou bem otimista com o projeto”, celebra ainda o presidente da Associação de Moradores da Portelinha.