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Foto: Divulgação TETO

Em 2025, a organização humanitária TETO completa 10 anos de atuação no Paraná, marcando uma trajetória de transformação real em comunidades vulneráveis do estado. Desde que chegou, a ONG já atendeu 31 comunidades no litoral, interior, região metropolitana e na capital. Seu trabalho vai além da construção de moradias emergenciais, promove vínculos, cidadania e escuta ativa com quem mais precisa. 

A história da TETO no Paraná começou com a mobilização de estudantes da Universidade Federal do Paraná, principalmente dos cursos de Arquitetura e Engenharia. Movidos pela inquietação, organizaram caravanas até São Paulo, onde conheceram de perto a atuação da organização e trouxeram a iniciativa ao estado. “Eles fizeram um levantamento para mostrar que em Curitiba existe favela. Era bem no começo, ali quando o Caximba estava começando a se formar”, explica Jéssica Cardoso, gestora da sede Paraná da TETO Brasil. 

A partir dali, começou uma construção coletiva que hoje conta com cerca de 95 voluntários fixos e entre 200 a 300 voluntários pontuais ativos, além de mais de 5 mil pessoas mobilizadas ao longo da década. 

“A TETO nesses 10 anos construiu um nome muito sólido dentro do estado. As comunidades são muito receptivas, o pessoal conhece”, afirma Jéssica.  

Um trabalho que começa antes do martelo 

A atuação da TETO busca não ser assistencialista e sim baseada em uma metodologia participativa, que valoriza o protagonismo das lideranças locais. Antes de entrar em qualquer comunidade, a organização busca referências, entra em contato com moradores, com lideranças religiosas e outras ONGs. 

“Um dos nossos lemas é: em solo sagrado se pisa descalço. A gente entende que estamos entrando na casa de alguém”, diz Jéssica. 

Mesmo com o cuidado e a escuta, a organização enfrenta críticas, especialmente por oferecer moradias consideradas transitórias. Mas Jéssica é categórica: “Enquanto TETO, a gente trabalha com o aqui e agora.” 

E o agora exige urgência. Segundo dados do IBGE, em 2023 cerca de 8% da população brasileira vive em situação de extrema pobreza. No Paraná, os números também são alarmantes, mais de 1,1 milhão de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, e cerca de 390 mil em extrema pobreza, de acordo com o IPARDES. Além disso, o estado tem um déficit habitacional estimado em 260 mil moradias, segundo o levantamento realizado pela Fundação João Pinheiro em 2022. 

“Construímos uma casa onde três pessoas viviam num espaço de dois por dois metros. É inviável. Até essa pessoa conseguir ter uma casa, a gente vai deixar ela nessa situação?” , diz Jéssica.

Muito mais que um teto

A resposta da TETO não está só nas casas de madeira. Está também nos laços que cria. “A gente faz muito mais do que moradias. A gente constrói vínculos. A gente entrega, junto com a pessoa, um local seguro”, diz Jéssica. Ela lembra da história de uma moradora da Vila Tiradentes, em Curitiba, diagnosticada com depressão, declarou só ter encontrado um motivo para sorrir depois da construção da nova casa. “Aquilo, enquanto psicóloga, me tocou muito. Estávamos entregando cidadania”, conta. 

A TETO também realizou um estudo em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) para avaliar os impactos das moradias emergenciais. Os dados mostraram melhorias significativas na sensação de segurança, saúde e bem-estar das famílias atendidas. 

O futuro que se constrói agora 

A organização caminha com o olhar em 2030, ano em que espera mobilizar 2 milhões de voluntários e impactar 1 milhão de pessoas na América Latina. No Paraná, a meta é ampliar ainda mais a presença em novas comunidades e fortalecer o engajamento da juventude. Enquanto houver casas com chão de terra batida, sem saneamento, invadidas por ratos e cobras, a missão continua. Como define Jéssica, “Nosso objetivo é tirar as pessoas dessas situações e colocar num ambiente minimamente seguro. A humanidade vem antes.” E o lema que impulsiona a TETO segue mais vivo do que nunca: “Começou, não para.” 

Alana Morzelli, sob supervisão de Mario Akira