“Há cerca de um ano e meio, a Covid-19 sequer existia. Hoje, entretanto, sabemos como o novo coronavírus entra nas células, como ele afeta o sistema imunológico e os sistemas orgânicos, como o respiratório”. Conforme a professora Alexandra Acco, do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mesmo que ainda existam questões sem respostas sobre a Covid-19, a ciência desvendou dilemas fundamentais acerca da doença até o momento.
Com objetivo de reconhecer as descobertas realizadas por pesquisadores durante a pandemia, os professores da UFPR responderam novamente a dúvidas enviadas pela sociedade em março e em abril do ano passado. Os esclarecimentos dos cientistas agora têm base em novas informações sobre o coronavírus, que ainda não eram conhecidas na época em que as perguntas foram elaboradas.
A ação faz parte da série de reportagens Pergunte aos Cientistas, da Agência Escola UFPR, que busca aproximar a população do conhecimento produzido nas universidades. Além das questões levantadas em 2020 acerca do uso de máscaras, vacinas, contaminação de pets e outros temas, essa edição conta com novas perguntas sobre a pandemia. Assim como a professora Patrícia, participaram dessa edição do Pergunte aos Cientistas os professores Breno Beirão, também do Departamento de Patologia Básica da UFPR; Alexandra Acco, do Departamento de Farmacologia; Vânia Vicente, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia; Douglas Adamoski, do Departamento de Genética da Universidade; Sônia Raboni, do Setor de Ciências da Saúde; Alexander Biondo, do Departamento de Medicina Veterinária; e Bernardo Montesanti de Almeida, médico do Serviço de Epidemiologia Hospitalar e da Unidade de Urgência e Emergência Adulto do Complexo Hospital de Clínicas da UFPR.
Veja três dúvidas sobre as máscaras
“Fiquei em dúvida quanto à recomendação de uso da máscara N95, pois havia compreendido que a máscara N95 tinha sua indicação apenas para profissionais de saúde prestando cuidados em procedimentos formadores de aerossóis” (Luciana Rodrigues da Cunha, 39 anos, psiquiatra, Belo Horizonte-MG)
Bernardo Montesanti de Almeida, cientista UFPR – Olá, Luciana. Considerando os atuais conhecimentos sobre a capacidade do SARS-CoV-2 de ser transmitido por aerossóis e que as máscaras N95, ou PFF2, possuem maior eficácia de proteção, hoje sabe-se que elas podem e devem ser utilizadas pela população, mesmo fora de instituições de saúde. O uso desse tipo de máscara é mais relevante em locais ou situações de maior risco, como ambientes pequenos, pouco ventilados e com muitas pessoas. Alguns países europeus instituíram em lei a obrigatoriedade de utilização dessas máscaras em transporte público. Há a barreira do custo, que dificulta a utilização no Brasil em grande escala, que pode ser amenizada com sua reutilização.
“Gostaria de saber se existe algum tecido que ofereça proteção equivalente à máscara, pois as pessoas poderiam confeccionar suas próprias máscaras já que estão em falta no mercado” (Cynthia Faria, 46 anos, estudante, Matinhos-PR)
Bernardo Montesanti de Almeida, cientista UFPR – Olá, Cynthia. As máscaras de tecido são bastante heterogêneas quanto à eficácia de proteção. Existem algumas que se equivalem às máscaras cirúrgicas, como as compostas por tripla camada, particularmente que contenham poliéster ou seda em sua composição. Esses tecidos possuem efeito eletrostático e, desta forma, além da barreira física, exercem atração das partículas de gotícula, que passam a ter mais dificuldade de atravessarem a máscara. Essas questões são altamente relevantes e não foram muito exploradas na comunicação para a população em geral, que acredita que todas funcionam da mesma forma.
“Já vi que podemos reutilizar a máscara N95 ou PFF2 se esperarmos no mínimo 72h entre um uso e outro. Minha dúvida é: utilizar lysol spray nelas afeta em alguma coisa? Ou posso utilizar tranquilo? A outra dúvida é referente àquelas máscaras com filtros para químicos, de proteção PFF3. Especificamente estava pensando em comprar esse modelo. Ela funcionaria contra o corona? Se sim, depois de quantas utilizações teria que trocar o filtro? Imagino também que posso fazer o uso prolongado dela, ou não? Pergunto porque como faço plantão de 24 horas e atendo o público, tenho que trocar de máscara muitas vezes” (Carlos Alexandre Lorenzetti, 42 anos, agente administrativo da Polícia Federal e trabalho na imigração de aeroporto, Brasília-DF)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – Olá, Carlos. Você não deve passar nenhum produto na máscara PFF2, pois o uso de produtos químicos pode danificar a máscara, fazendo com que ela perca sua eficiência. Antes de utilizar a máscara novamente, basta deixá-la em local arejado por 72 horas. Fique atento se a máscara não se encontra danificada e se continua aderindo bem ao rosto.
As máscaras com válvulas não são recomendadas para proteção contra a Covid-19, pois a válvula respiratória filtra somente o ar que entra e não filtra o ar que sai. Desse modo, se a pessoa estiver contaminada, vai liberar partículas virais no ambiente.
A máscara mais indicada para o seu caso é a PFF2 (N95), pois ela garante a maior proteção, uma vez que você trabalha em contato direto com o público. Nesse caso, você também deve trocar a máscara a cada duas a três horas, ou antes, se estiver úmida.