Paraná Coisa de colecionador

Retorno da placa preta faz mercado de carros antigos ganhar força no Paraná

Dados do Detran-PR mostram que frota de veículos de coleção cresceu quase 30% em um ano

Rodolfo Luis Kowalski
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Durair do Rosário Filho: paixão por carros antigos virou negócio há 25 anos (Foto: Luís Pedruco)

Os carros antigos, que andam por aí com as famosas e chamativas placas pretas, estão em alta. De acordo com dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), em apenas um ano a frota de veículos de coleção cresceu 29% no estado, enquanto em Curitiba esse crescimento foi de 15,6%. Se em agosto de 2024 haviam 7.512 veículos placa preta no estado, hoje já são 9.702. Na Capital, o número saltou de 3.949 para 4.566 no mesmo período. Estatísticas que evidenciam um mercado aquecido, num movimento que pode ser explicado por diferentes fatores.

Para entender o cenário, a reportagem do Bem Paraná visitou recentemente a Clássicos & Antigos. Localizada no Capão da Imbuia, em Curitiba, a loja tem 25 anos de história e conta atualmente com cerca de 50 relíquias disponíveis para venda ou troca. Entre eles estão três Cadillacs, alguns Mustangs, uma Puma, um StudBaker Champion 1939 que é 100% original e até um Chevrolet 1933, quase igual ao Ford V8 em que o notório casal de criminosos Bonnie e Clyde morreu. Além, disso, no mesmo endereço da loja funciona o Cadillac Clube do Brasil, que trabalha com a certificação de veículos de coleção.

De acordo com Rione Rubbo, um dos sócios da Clássicos & Antigos, para conseguir uma placa preta a regra básica é que o veículo deve ter sido fabricado há 30 anos. Se estamos em 2025, então, carros de 1995 já estão aptos a serem considerados de coleção. Além disso, a Resolução 957/2022 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) também exige que o veículo deve ter valor histórico próprio, possuir condições de circular e um certo grau de originalidade.

“A regra é que pelo menos 80% do carro deve ser original, mas alguns itens são excludentes. Por exemplo, o cara tem um Santana 1990 zerado, mas ele colocou um banco de BMW. É item excludente, já não vai poder ser de coleção, porque tem alteração dos detalhes do veículo. Trocou o motor, colocou motor com injeção eletrônica, turbo, compressor… Não pode também. São vários critérios”, explica Rubbo.

Facilidade para conseguir a placa e entrada de “novos antigos” impulsionam setor

Ainda segundo o especialista, vários fatores podem ajudar a explicar o aumento no número de veículos de coleção na frota paranaense. Um deles é que a cada ano mais carros se tornam aptos a receber a famosa placa preta. “Ano passado, por exemplo, os carros de 1994 estavam aptos. Agora tem os de 1995, ano que vem os de 1996, e assim por diante. E agora está mais fácil conseguir a placar”, aponta ele.

Outra questão diz respeito à própria placa preta. É que com a adoção do padrão de placas do Mercosul, por alguns anos os “novos” veículos antigos perderam acesso a essas placas de identificação, passando-se a utilizar placas com fundo branco e letras prateadas em seu legar. Os colecionadores, contudo, não gostaram da novidade. E no final de 2021 o Contran acabou aprovando uma nova regra, regulamentando a volta da placa com fundo preto e letras brancas a partir de 2022.

“Por mais de dois anos nós tivemos aí uma placa feia, que não era a placa preta. Era uma placa Mercosul de coleção, com letra cinza. Ninguém se interessava em colocar, não gastavam nisso daí, porque o pessoal também quer ver a estética, né? E agora isso mudou, a placa preta voltou mesmo e isso atraiu mais interesse dos donos de carros antigos, então estamos com uma demanda represada”, comenta ainda Rubbo.

Um hobby que virou negócio

Durair do Rosário Filho, de 71 anos, é o fundador da Clássicos & Antigos. Um negócio que ele começou 25 anos atrás, quase que por acaso. Na época, ele já tinha sua própria coleção e resolveu colocar à venda um Opala. Um possível comprador, então, foi conferir de perto o veículo, mas acabou se encantando mesmo com uma das relíquias da coleção de Dura, como é conhecido o vendedor e colecionador.

“Ele perguntou quanto custava um dos carros antigos, e falei que valia uns R$ 50 mil, igual o Opala. Aí ele fez um cheque, colocou no meu bolso e falou que buscava na segunda-feira. Eu entreguei o carro, mas me arrependi. Só que com o dinheiro consegui comprar outro, melhor do que aquele que eu tinha, e ainda sobrou um troco. Pronto, gostei da ideia. Mas, inicialmente, disse para mim mesmo que não ia vender mais. Passou um tempo, acabou que vendi outro. Aí cedi: porque não comprar e vender carro velho?”, relata ele.

Hoje, mais forte do que a venda em dinheiro, o mercado está aquecido para trocas. “Esses dias, dei sete carros e peguei três na troca. Mas só aceito relíquias. Carro moderno não compensa, não tenho interesse, porque foge do meu segmento”, diz o vendedor, citando ainda que muitos de seus clientes são de outros estados. “Sou bem conhecido no meio. O pessoal me procura, diz que quer um carro específico e eu tento encontrar. Se eu achar, eu revendo”, afirma ele, que costuma passear com suas relíquias acompanhado pelo filho, Gabriel, um jovem especial de 21 anos.

Como funciona o processo para conseguir uma placa preta?

Para conseguir uma placa preta, relata Rione Rubbo, o primeiro passo é entrar em contato com o Cadillac Clube do Brasil. O dono do veículo antigo, então, deverá encaminhar algumas fotos do exemplar. “Por foto a gente já consegue falar se o carro pode ser apto ou não [a conseguir a placa preta]”, explica ele. Se o veículo for possivelmente apto, deverá então passar por uma avaliação presencial.

“Às vezes o carro passa na avaliação, outras vezes não passa, ou passa raspando. Depois disso é emitido um Certificado de Veículo de Coleção (CVCOL), e com esse certificado o dono do carro procura um despachante ou vai direto pro Detran e pede a alteração de categoria para veículo de coleção”, emenda ainda Rubbo.

O custo total para conseguir a certificação fica em torno de R$ 1,7 mil, sendo que entre R$ 1 mil e R$ 1,3 mil são gastos com certificação. E além da questão estética, por conta da cobiçada placa preta, quem obtém a certificação pode ter ainda outras vantagens. “Um carro de placa preta, o que muda: digamos que você está na rua e um guarda viu você e multou achando que você tinha que estar com um cinto de três pontos. Só que o carro, se é veículo de coleção, o que vale são os itens de série fabricados naquela época, os itens de segurança, no caso. Aí ele comprova que o carro é de coleção, que não tinha cinto de segurança de três pontos, e automaticamente a multa já é excluída”, explica Rubbo.