
Está cada vez mais difícil de encontrar pelas ruas de Curitiba os tradicionais veículos na cor laranja (ou preta, no caso dos veículos executivos) que fazem o serviço de táxi na cidade. Prova disso é que nos últimos cinco anos a frota de táxis na Capital registrou uma queda expressiva, recuando de 3 mil veículos para menos de 2,2 mil entre 2018 e 2023 – uma redução de quase 28%. Taxistas ouvidos pela reportagem, contudo, garantem que o número de táxis rodando pela cidade é ainda menor do que as estatísticas oficiais apontam.
Em Curitiba, o Serviço de Transporte Individual de Passageiros (Táxi) é regido pelas Leis Municipais nº 13.957 de 11 de abril de 2012 e nº 14.831 de 4 de maio de 2016, e regulamentado pelos Decretos nº 1.959 de 26 de dezembro de 2012. Compete à URBS, através de sua estrutura organizacional, o gerenciamento e a administração dos serviços de táxi e transporte comercial. A execução dos serviços de táxi fica condicionada à outorga de permissão para exploração dos mesmos e a liberação de Licença para Trafegar para os veículos, que são expedidos pela URBS.
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E conforme dados da própria Urbs, desde 2018 a frota de táxis na cidade vem caindo de maneira expressiva. Em 2018, por exemplo, eram 2.997 veículos, sendo 2.763 táxis convencionais (o táxi comum, na cor laranja). Em 2023, já eram 2.165, com apenas 1.841 táxis convencionais. Ou seja, em cinco anos a frota de táxis na capital paranaense recuou 27,8%, enquanto o número de táxis convencionais caiu 33,4%.
Uma das razões para essa queda é a expansão de serviços online, como Uber, 99 e InDrive, que começaram a ganhar força no Brasil a partir de 2014 — em Curitiba, por exemplo, o Uber começou a operar em março de 2016. Uma concorrência que os taxistas consideram desleal.
“O Uber é uma concorrência desleal com o táxi, porque nós pagamos outorga, temos que renovar habilitação, fazer EAR, pagar INSS mesmo se for aposentado… É uma série de exigências para trabalhar com o táxi. Mas quem trabalha com Uber, não paga nada”, reclama Euzebio Manuel Salvador, que tem 71 anos e há 20 trabalha como taxista. “Foi muito complicado pra gente aguentar essa tecnologia que entrou pelo táxi, usou o táxi e depois acabou que colocaram para rodar os carros chapa branca, os carros particulares, tirando uma fatia da clientela que tínhamos”, emenda ainda Ilson Fermino Lopes, conhecido como Maninho do Táxi, que há 25 anos é taxista.
Com a nova concorrência e a perda de uma parcela importante da cliente, os taxistas viram sua atividade ficar cada vez menos rentável, o que ajuda a explicar a debandada de profissionais que prestam o serviço público. “Ah, antigamente tirava bem mais com o táxi. Era maior o menos o dobro, e trabalhava a mesma coisa que trabalho hoje”, comenta Salvador, em fala corroborada pela do taxista Wilson dos Santos Falce, taxista há 30 anos. “Hoje, tiro bem menos do que tirava quando comecei. Hoje recebo metade do que recebia num mês de trabalho, e isso mesmo dedicando mais horas ao táxi. Para você ter ideia, antes, se você trabalhasse à noite, pagava uma diária de R$ 90 por noite e fazia uns R$ 300 num dia. Hoje, eu não faço R$ 150 o dia inteiro.”
Diante desse cenário, não chega a ser surpresa a redução no número de táxis e de taxistas rodando pela cidade. Entretanto, a realidade seria ainda mais cruel do que as estatísticas oficiais apontam, comentam os taxistas ouvidos pela reportagem. “Oficialmente, a frota de táxis na cidade gira em torno de 2,2 mil, mas a maioria desses veículos já nem roda mais”, afirma Falce, enquanto Maninho do Táxi diz acreditar que não há nem 1,2 mil táxis rodando pela cidade.
“Grande parte dos táxis estão parados em garagens, porque o taxista hoje fica uma, duas, três horas aguardando um passageiro e, enquanto isso, assiste aos carros de aplicativo levarem os passageiros”, desabafa o taxista, que trabalha na Rodoviária de Curitiba, próximo da sede da Urbs, e relata ainda ver todos os dias colegas indo até o local devolver suas concessões. “Desde que os aplicativos chegaram tivemos uma perda muito grande, mais de 40% dos taxistas largaram o serviço e o número de taxistas segue diminuindo a cada dia. Todos os dias vemos pessoas que vem aqui entregar suas concessões na Urbs, que é o sistema gerenciador do serviço”, complementa.
“Precisamos de ajuda para aliar a tecnologia ao serviço do táxi”
Para fazer o serviço do táxi voltar a ter uma força maior na cidade, os taxistas comentam contar com o apoio da Urbs e de políticos, como o vereador Alexandre Leprevost e seu irmão, o deputado estadual Ney Leprevost. Uma das demandas, comenta Maninho do Táxi, seria a criação de um aplicativo para táxis em Curitiba, através do qual a população poderia solicitar corridas e verificar o quanto custariam as mesmas, facilitando a comparação entre o preço cobrado pelos táxis e outros serviços de transporte, como os oferecidos por aplicativos como Uber e 99.
“Nós não somos contra a concorrência, só achamos que a tecnologia deveria estar com a gente, sendo usada em nosso favor. Queríamos que a Urbs colocasse um aplicativo de táxis, para facilitar o acesso ao serviço dos táxis pela população. Nós precisamos de ajuda para aliar a tecnologia ao serviço do táxi, criar um aplicativo para rodar táxi, fazendo o serviço ficar novamente ao alcance da população”, afirma Maninho, comentando ainda que hoje a população tem até medo de perguntar ao taxista quanto que dá uma corrida.
“O pessoal imagina que seja muito caro [uma corrida de táxi], quando na verdade o táxi pratica um valor estabelecido a partir de planilhas técnicas e mediante a instituição gerenciadora do transporte e o Inmetro. Precisamos divulgar o táxi, fazer com que o táxi volte a fazer parte da vida na cidade. E para isso precisamos de tecnologia. A população de Curitiba quer o táxi, deseja o táxi, mas ela não sabe quanto custa uma corrida. Com um aplicativo, poderíamos reduzir o tempo de espera dos taxistas por uma corrida, evitar que o taxista, quando faz uma viagem, tenha que voltar vazio, sem outro passageiro. Estamos ainda na idade da pedra”, finaliza Maninho.
Quanto custa pegar táxi em Curitiba?
Desde o começo deste ano, os táxis de Curitiba trabalham com uma nova tabela de tarifas. O reajuste médio foi de 6% e o valor cobrado por quilômetro rodado na bandeira 1 no táxi comum subiu de R$ 3,50 para R$ 3,72. No táxi executivo (veículos pretos), o valor passou de R$ 4,67 para R$ 4,97. Os valores cobrados na bandeirada inicial, contudo, permanecem os mesmos nas duas modalidades: R$ 5,40 e R$ 7,1, respectivamente.
Evolução da frota de táxis em Curitiba
2023: 2.165
2022: 2.225
2021: 2.503
2020: 2.597
2019: 2.943
2018: 2.997
2017: 2.954