Sempre que chega o inverno, 10 mil borboletas se encontram em fenômeno raro na Grande Curitiba; motivo é mistério

João Salomão/Ascom PMC
borboletas asas de vidro

Borboletas asas-de-vidro na RMC (Foto: José Fernando Ogura/SECOM)

Um fenômeno raro de aglomeração de borboletas asas-de-vidro atraem biólogos do Jardim Botânico de Curitiba, na trilha do Anhangava, no Parque Estadual Serra da Baitaca, em Quatro Barras. Essa aglomeração acontece todos os anos quando chega o inverno.

A descoberta do fenômeno foi do biólogo curitibano Adolf Carl Kruger, colaborador do Museu Botânico. Em 2011, ao praticar montanhismo no Morro do Anhangava, em Quatro Barras, ele percebeu um fenômeno muito incomum, que o deixou intrigado: uma aglomeração de mais de 10 mil borboletas da espécie Epityches eupompe , conhecida popularmente como borboleta asas-de-vidro, em um pequeno vale próximo a uma nascente d’água.

Anos depois, ao passar no mesmo local, ele percebeu que a aglomeração se repetia no mesmo local, sempre no inverno, sendo mais comum ao cair da tarde.

Essas borboletas têm asas translúcidas e transparentes, com manchas amarelas ou vermelhas, que lembram vitrais quando vistas contra a luz.

O biólogo consultou artigos científicos e colegas e então percebeu que tinha presenciado algo bastante especial. Por ser colaborador do Museu Botânico Municipal Gerdt Hatschbach, que funciona nas dependências do Jardim Botânico de Curitiba, Adolf informou a bióloga Maristela Zamoner, que é coordenadora de projetos do Jardim Botânico e especialista no estudo destes animais. Foi verificada não só a existência do fenômeno, mas também a sua raridade. Aglomerações de borboletas desta espécie só foram identificadas em mais três lugares, em Piraquara, São Paulo e Santa Catarina.

Além de incomum, a aglomeração das borboletas traz inúmeras questões que intrigam os especialistas. Maristela explica que se elas tivessem nascido no local, haveria sinais na mata, mas, até o momento, isso não foi comprovado.

“São muitos espécimes. Para alimentar 10 mil lagartas desta borboleta é necessária uma enorme quantidade de alimento e deveria haver sinais disto na mata, nas plantas que elas comem, mas isso não ocorre aqui”, explicou a cientista.

A bióloga esclarece que, com a identificação do evento, agora se iniciará uma série de pesquisas para identificar a origem das borboletas, como migram para o Anhangava, quais seus hábitos, entre outras perguntas. Os biólogos também suspeitam que outras aglomerações possam ocorrer em outras áreas da Mata Atlântica que tenham condições semelhantes.

Pesquisadores cidadãos

Maristela diz que o Museu Botânico já trabalha com o levantamento das borboletas de Curitiba e do Paraná há vários anos, por metodologia de ciência cidadã, que é pela contribuição da população, das pessoas que são interessadas em fotografar a natureza, reconhecer os animais e seus hábitos.

Ela convida todos os interessados a compartilhar suas fotografias e descobertas na plataforma iNaturalist, de ciência cidadã, e relatar suas observações aos cientistas do Museu Botânico. “Desde 2021 estamos organizando os dados de Curitiba e do Paraná. Já temos algumas publicações, entre elas um livro publicado, chamado Borboletas de Curitiba e do Paraná, contribuições da ciência cidadã que foi feito com a colaboração destas pessoas que tem vontade de participar da construção do conhecimento”, disse a cientista.